
*Artigo escrito por Luana Nandorf, gerente de Agência Sicredi, proprietária do Café Nandorf e presidente do Ibef Academy.
Coado. Expresso. Robusta. Arábica. Capixaba. Do Brasil. Muito além de estilos ou variedades, o café é linguagem universal — mas, no Espírito Santo, ele fala com sotaque próprio. Cada gole carrega uma história, cada grão, uma herança. E é entre as montanhas capixabas que essa tradição ganha aroma, força e significado.
Poucos produtos traduzem tão bem a força econômica, a tradição e a identidade cultural do Espírito Santo quanto o café. Presente na história do estado desde o século XIX, ele se consolidou como um dos pilares do setor agropecuário capixaba, contribuindo significativamente para o desenvolvimento regional e nacional.
LEIA TAMBÉM: Os impactos da reforma tributária e caminhos possíveis
Com raízes profundas nas propriedades familiares e no trabalho de milhares de produtores, o café capixaba é mais que um cultivo — é um símbolo de resistência, inovação e excelência.
Colonização italiana e café
A introdução do café no Espírito Santo está diretamente ligada ao processo de colonização europeia, especialmente italiana, ocorrido a partir de 1874. Os imigrantes encontraram nas terras montanhosas do interior capixaba condições favoráveis para o plantio.
O cultivo, inicialmente voltado para o consumo interno, rapidamente ganhou escala e passou a movimentar a economia estadual. Com o tempo, o café tornou-se responsável por transformar paisagens e modos de vida, consolidando-se como um dos principais motores do agronegócio local.
Espírito Santo
Atualmente, o Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do Brasil, liderando a produção nacional de café conilon e ocupando papel de destaque também na produção de café arábica em áreas de montanha, com forte vocação para cafés especiais.
Segundo a Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag/ES), o estado possui mais de 78 mil propriedades produtoras, sendo a maioria composta por agricultores familiares. Em 2022, o faturamento bruto proveniente da cafeicultura capixaba foi de R$ 13,84 bilhões, o que representou 22,4% do faturamento nacional do setor, segundo dados da Seag.
O café representou, ainda, cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário estadual e 4,2% do PIB agropecuário nacional, segundo o IBGE.
Além do volume, o Espírito Santo vem se destacando pela qualidade. A combinação entre tradição e tecnologia tem permitido a produção de cafés especiais com reconhecimento nacional e internacional.
De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o uso de boas práticas agrícolas, manejo sustentável, técnicas de pós-colheita e inovação no beneficiamento elevam o padrão do café capixaba e ampliam sua presença nos mercados mais exigentes.
Economia capixaba
A valorização recente do café no mercado teve impacto direto na economia capixaba. Em fevereiro de 2020, a saca de 60 kg do café tipo 6 bebida dura era comercializada a cerca de R$ 530,00.
Esse valor aumentou significativamente nos anos seguintes, chegando a R$ 1.240,00 em maio de 2022 e ultrapassando R$ 2.400,00 em fevereiro de 2025, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Essa escalada nos preços é reflexo de uma série de fatores, como as quebras de safra em outros estados e países produtores, a valorização do dólar, o aumento da demanda global por cafés especiais e o reposicionamento estratégico do Brasil no mercado internacional.
Desafios da produção
No entanto, os desafios permanecem. Entre os principais estão a dependência de condições climáticas favoráveis, a necessidade de modernização das lavouras, o acesso limitado a crédito e assistência técnica em algumas regiões, e o desafio da sucessão rural, já que muitos jovens deixam o campo em busca de outras oportunidades.
Apesar disso, o setor também oferece oportunidades promissoras: a crescente busca por produtos sustentáveis, o fortalecimento das cooperativas, o avanço da rastreabilidade e o turismo rural são caminhos para o crescimento sustentável do café capixaba.
Por fim, é inegável que o café ocupa um lugar de destaque na economia e na cultura do Espírito Santo. Sua trajetória mostra que, com planejamento, apoio técnico e políticas públicas adequadas, é possível transformar tradição em inovação, gerar desenvolvimento e manter viva uma herança que se renova a cada safra.
O café capixaba, portanto, merece ser valorizado não apenas por sua história, mas pelo papel estratégico que desempenha na construção de um futuro mais próspero e equilibrado.
Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.