Ação contra Bolsonaro pode dificultar negociações com os Trump sobre tarifas, dizem analistas

Exportações no alvo: analistas avaliam que Trump pode agravar medidas contra produtos brasileiros. Crédito: Divulgação

A decisão da Polícia Federal (PF) de cumprir mandados contra o ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã desta sexta, 18, pode influenciar a economia. Para analistas, as negociações do Brasil com os Estados Unidos, após o tarifaço determinado pelo presidente Trump, podem travar.

Para o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, pode ser que o presidente dos EUA, Donald Trump, “dobre a aposta”. Ou seja, o gestor americano pode manter o vínculo entre a taxação e o processo contra Bolsonaro.

Na visão de Cruz, setores mais expostos ao tarifaço como o agronegócio, com produtos como frutas, peixes, e aeronaves podem sofrer ainda mais. Caso as negociações se arrastem .

Como o ex-presidente já está inelegível, uma definição em relação à situação de Bolsonaro ajudaria a marcar um candidato a presidente de centro-direita. “O quanto mais rápido isso for resolvido, melhor. Aumenta a percepção de que acabe o julgamento em setembro, indicando avanço neste caso”, disse. O analista explica que isso deixa espaço para que a centro-direita já defina quem será o opositor na eleição presidencial de 2026 a Lula, que pode concorrer à reeleição.

Ativos contaminados

Para Gabriel Mota, especialista em renda variável da Manchester Investimentos, a operação da PF contra Bolsonaro pode contaminar os ativos brasileiros, não pela decisão em si, mas devido ao tarifaço dos Estados Unidos a produtos brasileiros. “Acredito que terá efeito, não pelo fato em si, mas por causa de uma possível precificação de tarifas mais altas”, analisou.

A indicação, por ora, é de movimentos sutis. Do mesmo modo, na visão de Mota, pode ser que o mercado espere um pouco para ver se haverá alguma reação de Trump. Para, em seguida, “aí ficar mais cético”.

Já o cientista político e sócio da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, diz que a operação traz riscos à negociação tarifária entre Estados Unidos e Brasil. “O fundamento para as tarifas é menos legitimado por questões comerciais e mais pelo julgamento do ex-presidente Bolsonaro e por ações judiciais envolvendo big techs”, pontuou Cortez.

“Tivemos dois movimentos no campo jurídico que foram na contramão do que Trump havia sinalizado. Primeiro, a Procuradoria Geral da República se manifestou pela condenação do ex-presidente. Do mesmo modo agora temos uma ação da Polícia Federal restringindo direitos e liberdades de Bolsonaro”, observou.

Na avaliação do cientista político, o espaço para a negociação das tarifas entre os dois países na frente diplomática é diminuto. Ou seja, ainda há o risco de entrada em vigor das medidas já anunciadas, além de possíveis novas rodadas de retaliação por parte dos EUA.

Para Cortez, a ação da PF contra Bolsonaro também impacta a possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em 2026. Inicialmente, Tarcísio expressou apoio à decisão de Trump em aumentar as tarifas para 50%, mas agora “tenta tirar o pé”, segundo o cientista político.

“É importante entender como esse impacto se dará para o Tarcísio. Ou seja, se vão dobrar a aposta do projeto político dele ou se ele vai perder apoio de grandes agentes econômicos”, ressaltou.

Tornozeleira pode acirrar ameaças de Trump

A ordem da Justiça brasileira para colocar tornozeleira eletrônica no ex-presidente gera expectativa de que Trump eleve o tom nas ameaças tarifárias contra o Brasil. A afirmação é do economista André Perfeito.

Trump deve agir por dois motivos, em sua avaliação. Primeiro, para manter coerência lógica, ele não pode recuar contra o Brasil, caso contrário irá mostrar fraqueza. Segundo, como estratégia diversionista diante da pressão interna que enfrenta nos EUA, especialmente no caso Epstein.

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