Tarifaço dos EUA trava exportações e ameaça competitividade da pimenta-do-reino capixaba

Tarifaço dos EUA trava exportações e ameaça competitividade da pimenta-do-reino capixaba

A ameaça de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil, proposta pelo presidente Donald Trump, já provocou um impacto direto no comércio exterior capixaba, antes mesmo de entrar em vigor. O setor de pimenta-do-reino, terceiro principal produto do agronegócio do Espírito Santo, está entre os mais atingidos. Exportadores relatam paralisação dos negócios, insegurança logística e receio de perda de mercado para países concorrentes que operam com taxas bem menores.

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Empresas exportadoras alertam para paralisação do mercado e risco de perda de espaço para concorrentes como Vietnã, Índia e Indonésia

Segundo o secretário-executivo da Brazilian Spice Association (BSA), Aureliano Nogueira da Costa, a simples expectativa da nova tarifa americana já travou a comercialização do produto.

Aureliano Nogueira da Costa, secretário-executivo da BSA

“Os negócios pararam. Estamos em julho, e como a tarifa pode entrar em vigor em agosto, ninguém quer arriscar fechar contratos. O risco é preparar a carga e, quando ela chegar ao destino, ser surpreendido por uma tarifa pesada, o que inviabiliza a operação”, explicou.

A apreensão não é à toa. O Brasil, segundo maior produtor mundial de pimenta-do-reino, com cerca de 70 mil toneladas por ano, perderá competitividade frente aos principais concorrentes.

Enquanto o produto brasileiro pode passar a pagar 50% de tarifa para entrar nos Estados Unidos, países como Vietnã (20%), Indonésia (32%) e Índia (35%) seguem com alíquotas significativamente menores. “A diferença é brutal. O Vietnã, maior produtor do mundo, ganha vantagem de custo significativo e pode ocupar o espaço que deixarmos”, afirma Aureliano.

Embora a participação direta dos EUA nas exportações capixabas de pimenta-do-reino ainda seja tímida, cerca de 2,1% em 2024, o mercado americano é considerado estratégico. A maior parte da pimenta produzida no Espírito Santo que chega aos Estados Unidos atualmente passa por outros países, como o Vietnã e a Alemanha, que fazem o beneficiamento do produto antes da reexportação.

Esse modelo, porém, também está ameaçado: “Se os americanos decidirem rastrear com mais rigor a origem da pimenta, mesmo os intermediários poderão ser taxados”, alerta.

Impacto da tarifa no comércio capixaba

De acordo com a Secretaria da Agricultura do Espírito Santo (Seag), em 2024 o estado exportou US$ 163,2 milhões em pimenta-do-reino. No mesmo ano, as exportações totais do agronegócio capixaba alcançaram US$ 3,6 bilhões, sendo os EUA responsáveis por mais de US$ 800 milhões desse total.

O risco de retração do setor vai além da balança comercial. Ele atinge diretamente a estrutura da cadeia produtiva da pimenta, composta majoritariamente por pequenos produtores e agricultores familiares.

A exigência de esterilização para exportação, por exemplo, demanda investimento alto, cerca de R$ 25 milhões para instalação de um equipamento. “Com o mercado travado, nenhum exportador vai investir em algo assim, com tamanha incerteza sobre o retorno”, avalia o representante da BSA.

A associação, que reúne 36 empresas brasileiras do setor, com atuação em estados como Espírito Santo, Pará, Bahia e São Paulo, tem se mobilizado junto ao governo federal e entidades de comércio exterior para tentar reverter a medida ou minimizar seus efeitos. “É um momento que exige diplomacia e articulação internacional. O prejuízo já é milionário, antes mesmo da tarifa ser aplicada. Se ela entrar em vigor, as perdas podem se tornar bilionárias”, alerta Aureliano.

Cerca de 20% da pimenta-do-reino brasileira tem como destino final o mercado norte-americano, seja por exportação direta ou indireta. Com isso, a Brazilian Spice Association (BSA), junto ao Governo do Espírito Santo, apresentou ao governo federal os impactos econômicos da taxação imposta pelos Estados Unidos sobre o setor.

Cenário internacional e consequências

No cenário internacional, o consumo global de pimenta-do-reino está concentrado na Ásia (248 mil toneladas) e na América do Norte (100 mil toneladas), o que reforça a importância dos EUA como destino prioritário. A produção mundial, liderada pelo Vietnã com 170 mil toneladas anuais, é seguida por Brasil (70 mil), Índia (60 mil) e Indonésia (45 mil).

Para os exportadores, o momento é de incerteza e cautela. “Sem saber como e quando a tarifa será aplicada, ninguém quer correr o risco de fechar negócio agora. E isso afeta toda a cadeia produtiva do agro capixaba. A pimenta está parada nos armazéns”, conclui o executivo da BSA.

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