
Após cinco meses à frente da Secretaria Estadual de Desenvolvimento (Sedes), o ex-prefeito da Serra Sergio Vidigal (PDT) deixou, a pedido, o governo do Estado na última sexta-feira (18). Numa postagem em rede social, o governador Renato Casagrande (PSB) agradeceu a atuação do ex-prefeito e anunciou o empresário Rogério Salume em seu lugar.
A saída de Vidigal não chegou a causar surpresa no mercado político. Nos bastidores, a ideia já era cogitada pelo então secretário há, pelo menos, um mês, tanto que o ex-prefeito foi questionado pela coluna De Olho no Poder, no último dia 8, sobre a possibilidade de deixar a gestão.
Na ocasião, ele não confirmou a saída, mas elencou uma série de preocupações com o partido, com as eleições do ano que vem e até com o legado da família na política – preocupações essas que ele repetiu em conversa ontem (20) com a coluna.
Vidigal vai voltar a atuar como médico. Mas, engana-se quem acha que ele irá pendurar as chuteiras na política.
PDT: questão de sobrevivência
O PDT hoje comanda o maior município do Estado (Serra), além de outras três cidades. Conta com 31 vereadores, um deputado estadual e quase 28 mil filiados em solo capixaba.
Mas, o partido que já elegeu três deputados federais de uma única vez no Estado, hoje não tem nenhuma representação em Brasília. Em 2022, mesmo com o apoio do Palácio Anchieta, o partido não conseguiu alcançar os votos mínimos para conquistar uma cadeira na Câmara Federal.
Até por questão de sobrevivência partidária, o PDT não pode repetir o mesmo desempenho das últimas eleições gerais. O partido precisa ir para 2026 com uma chapa competitiva, a fim de superar a cláusula de barreira e eleger deputados federais – principal ativo de uma legenda.
Nacionalmente, a sigla discute a formação de uma federação com o PSB o que, pelo menos no Estado, daria um alívio aos pedetistas. Mas, enquanto as negociações não avançam, o partido que carrega a bandeira do trabalhismo vai precisar ralar muito na busca de quadros para as eleições proporcionais.
E é nessa tentativa de reação partidária que Vidigal irá empenhar sua experiência. À coluna, ele disse que não ocupará nenhum cargo no partido, mas que irá ajudar a atrair quadros e formar chapas.
“Não vou assumir nenhuma função no PDT, o presidente é o Alessandro Comper e o vice é o Weverson (…) Minha preocupação é muito mais em manter o partido vivo, já que a maior prefeitura do Estado é do PDT. As eleições proporcionais são importantes, tanto a estadual quanto a federal, e lógico que vou me disponibilizar para a construção do partido”, disse Vidigal.
O ex-prefeito disse que quer “retribuir” ao PDT por tudo que conquistou em sua trajetória política:
“No partido precisa dar um gás, mas o mais difícil já fizemos, que foi eleger o prefeito de uma cidade do tamanho da Serra. Agora nós temos que trabalhar na reconstrução do partido, é o mínimo que posso fazer a um partido que me recebeu há 34 anos. É minha retribuição por tudo que ele me ofereceu. O PDT é a minha história”.
Apoio ao filho: “Já ajudei tanta gente”

Outro projeto que Vidigal irá se dedicar será à eleição do filho Serginho Vidigal (PDT) a deputado federal. Embora a pré-candidatura ainda não tenha sido oficializada, todos os sinais dão conta que o filho oftalmologista será o herdeiro político da família e que deverá enfrentar as urnas no ano que vem.
Inclusive, em entrevista à coluna De Olho no Poder em maio, ele mesmo colocou o nome para jogo: “Acho que a Serra tem um papel fundamental no desenvolvimento do nosso Estado e precisa ter representatividade na Câmara Federal também. Meu nome está à disposição para debater essa missão”, disse, na ocasião.
De lá para cá, o caçula de Vidigal tem participado de eventos políticos, se reunido com lideranças, andado lado a lado com o prefeito da Serra e até mandado indiretas para adversários nas redes sociais.
No primeiro final de semana do pai fora do governo do Estado, gravou com ele dois vídeos, de conteúdo familiar, mas que não deixam de ter visibilidade no mercado político e apontar para as eleições.
Vidigal não confirma que o filho será candidato. Mas, se for, vai contar com seu apoio – apoio esse que conseguiu tirar Weverson Meireles da posição de 1% nas pesquisas eleitorais para torná-lo prefeito da Serra.
Isso não foi discutido dentro de casa. Mas, se me perguntarem: ‘Se ele (Serginho) for candidato, você vai ajudar?’ Poxa, eu já ajudei tanta gente, não é possível que não ajude um filho meu, né? Não é um projeto de poder nosso. Agora, o partido precisa ter quadros”, disse Vidigal.
O ex-prefeito disse que se o filho for mesmo candidato, será mais para cumprir uma missão. “O Weverson tem o incentivado muito, por conta da questão do legado. E a outra questão é partidária. O partido precisa eleger deputados federais. Se o Serginho for candidato é mais numa missão do que vontade pessoal dele. Ele não necessita de ser deputado, tem uma vida tranquila, estabilizada”.
Já Vidigal, descarta concorrer
Se por um lado, o filho coloca o nome no jogo, por outro, o pai tira o time de campo. Citado pelo governador Renato Casagrande como um possível nome à sucessão, Vidigal não trabalha com a possibilidade de concorrer nas eleições do ano que vem.
À coluna ele disse que, para alimentar a possibilidade de ser candidato ao governo do Estado, só se fosse uma convocação de todo o grupo ao seu nome, o que ele não acredita que irá acontecer.
“Eu sempre soube que o projeto era o Ricardo. Só toparia me movimentar e disputar se eu fosse o candidato do grupo, se todo mundo me convocasse, aí sim, estaria à disposição. Mas não aceitei o convite do governador para integrar o governo com o intuito de disputar nada. Minha ida foi para contribuir com o projeto”, disse o pedetista.
Hoje, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) é o projeto do governo para a sucessão de Casagrande. E aliados têm empenhado todas as suas forças para que o nome do vice seja viável e competitivo para a disputa, que promete ser acirrada.
Vidigal afirmou que vai conseguir ajudar ainda mais o projeto estando fora do governo. “Estarei mais livre para ajudar”.
Sem indicação no 1º escalão

Com a saída de Vidigal do secretariado, o PDT ficou sem uma representação oficial no primeiro escalão – o chefe da Casa Civil, Júnior Abreu, é filiado ao PDT, mas seria cota pessoal do governador e não indicação partidária.
Vidigal disse que o governador chegou a lhe perguntar se gostaria de indicar algum nome para substituí-lo na secretaria, mas ele disse que preferiu abrir mão.
“A primeira pergunta que o governador me fez foi se eu queria indicar alguém e eu disse que não, deixei liberado. Disse que o PDT não tinha interesse, até porque a maior parte do pessoal nosso já está ajudando na Prefeitura da Serra”, disse Vidigal afirmando que o fato de não ter indicação no secretariado, não mudará em nada o apoio e a relação com o governador.
“Foi uma honra participar do governo do Renato, um governo com muitos resultados, referência de gestão pública. Foi gratificante participar de um governo com essa avaliação”, afirmou.
Consultas a partir de 1º de agosto
Vidigal disse também que pretende voltar a ser médico, a clinicar no SUS no programa de saúde mental. Psiquiatra, ele pretende voltar com as consultas a partir de 1º de agosto.
“Vou atender pelo SUS, não vou para o particular. Vou atender na Serra, a partir do dia 1º de agosto. Há uma carência muito grande de especialista nessa área de psiquiatria. Minha proposta é atender na Policlínica de Jacaraípe e na de Feu Rosa”, contou.
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