A decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros enviados aos Estados Unidos representa mais um revés para a indústria nacional de celulose e papel. O setor já vinha sendo impactado desde abril com os efeitos iniciais do chamado “tarifaço”.
Maior exportador de celulose do mundo, o Brasil envia, em média, 18 milhões de toneladas ao exterior por ano, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). A China lidera como principal destino das exportações brasileiras, absorvendo cerca de 30% do total, enquanto os Estados Unidos figuram como o segundo maior mercado.
SUZANO ENTRE AS MAIS AFETADAS
Entre as companhias mais expostas à nova tarifa está a Suzano, líder global na produção de celulose de fibra curta. Estimativas apontam que entre 15% e 19% das vendas líquidas da empresa provêm de operações no mercado americano. Durante evento virtual promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, no dia 15, Guilherme Miranda, diretor-geral para as Américas da Suzano, afirmou que a companhia buscará alternativas. “A empresa encontrará formas de vender seus produtos para outros mercados”, disse.
Contudo, o redirecionamento da produção não é simples, segundo o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA. “Nas minhas estimativas, a empresa mandou cerca de 1,7 milhão de toneladas de celulose para os Estados Unidos em 2024. É difícil deslocar esse volume todo de uma hora para outra para a Europa ou para a China, principalmente em um momento de incertezas no comércio global”, afirmou.
QUEDA NOS EMBARQUES AOS EUA
Entre janeiro e junho de 2025, as exportações brasileiras de celulose cresceram 8,5% em valor e 14% em volume, de acordo com dados da balança comercial. Já os embarques para os EUA registraram queda de 15,2% em valor e 8,5% em volume. Em maio, o recuo no valor foi ainda mais acentuado: 35%.

ALTERNATIVAS E PREOCUPAÇÕES
Algumas empresas consideram usar operações em outros países como estratégia. “Existe a possibilidade de exportar via Chile, onde temos três fábricas. Porém, essa tarifa prejudica o novo projeto, não é o que queremos”, afirmou Antonio Lacerda, diretor-geral de celulose da CMPC no Brasil. A companhia, que já atua em Guaíba (RS), planeja a construção de uma nova planta no estado.
Na semana passada, representantes do setor se reuniram com o governo federal para tentar adiar a entrada em vigor da tarifa, prevista para 1º de agosto. Paulo Hartung, presidente-executivo da Ibá, afirmou na rede social X que, neste momento, “é fundamental evitar bravatas e apostar na negociação e na diplomacia”.
SEM RETALIAÇÃO E EM MEIO A INCERTEZA
Durante as conversas, os industriais demonstraram posição contrária à aplicação de tarifas recíprocas pelo Brasil, conforme previsto na Lei da Reciprocidade Econômica. Enquanto isso, o setor enfrenta um terceiro trimestre tradicionalmente mais fraco, agravado por um cenário de negociações travadas.
“Produtores que exportam para os Estados Unidos ainda estão tentando entender qual é o cenário, o que faz com que não seja tão fácil implementar aumentos de preços”, disse Sasson.
Desde o anúncio inicial das tarifas, em abril, as negociações com clientes foram interrompidas. Isso contribuiu para a queda nos preços da celulose de fibra curta no mercado chinês, que havia começado o ano em recuperação.
PRESSÃO SOBRE PREÇOS E CAPACIDADE PRODUTIVA
Segundo dados da Fastmarkets, via índice Foex, o preço da tonelada de celulose de fibra curta na China caiu US$ 70 entre abril e maio. No acumulado do ano, a queda é de US$ 44, com estabilização recente em torno de US$ 500 por tonelada, nível próximo do piso deste ciclo, segundo analistas.
“Quando isso acontece, vemos anúncios de fechamento de capacidades ou de paradas mais longas, o que pode ajustar a oferta”, explicou Sasson. Exemplo disso são a finlandesa Metsä Fibre e a búlgara Svilosa, que retiraram do mercado, respectivamente, 690 mil toneladas de fibra longa e 150 mil toneladas de fibra curta por ano.
Há também sinais de recuperação da demanda por parte dos fabricantes chineses de papel, que estão pagando cerca de US$ 480 por tonelada. Ainda assim, a recuperação não deve ser expressiva, segundo Lacerda: “Ainda acredito em uma retomada dos preços a partir do quarto trimestre, mas não vai ser expressiva”.
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