
Guilherme Wagner, de 21 anos, já passou por sete cirurgias no coração. Ele nasceu com uma cardiopatia congênita chamada displasia da valva aórtica – um estreitamento severo da passagem de sangue na saída do coração.
Dessa forma, o defeito precisou de uma correção urgente para evitar a falência cardíaca. Um balão foi colocado no órgão, proporcionando alívio ao sistema cardiovascular. A cirurgia mais recente, realizada em março de 2024, foi um procedimento pioneiro que combinou a intervenção minimamente invasiva para o implante de uma prótese e o fechamento de uma comunicação rara entre a aorta e a artéria pulmonar.
Antes disso, durante a infância, Guilherme precisou ser submetido a três cirurgias cardíacas abertas, sendo a penúltima realizada em 2011, conhecida como Operação de Ross. O procedimento é realizado quando pacientes jovens necessitam de correção de valvopatia aórtica, uma condição que afeta a válvula cardíaca, impedindo sua abertura ou fechamento adequado para o bombeamento do sangue. A intervenção consiste em substituir a valva pulmonar do paciente pela posição aórtica e realizar um transplante chamado homoenxerto, que utiliza tecidos humanos.
No entanto, em março de 2024, Guilherme começou a apresentar um quadro clínico debilitado, com cansaço limitante e grande dificuldade para realizar tarefas cotidianas. “Minha condição cardíaca sempre foi muito delicada. Voltei a me sentir impossibilitado de realizar atividades comuns do dia a dia, como caminhar, dormir e trabalhar. Tudo era muito mais difícil”, recorda o jovem, que trabalha como auxiliar administrativo.
Em avaliação com cardiologistas do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), foi constatado que o material implantado na posição pulmonar estava com defeito em razão do desgaste do homoenxerto. Diante do risco de uma nova cirurgia aberta, os profissionais envolvidos decidiram realizar um implante de válvula em posição pulmonar por cateter. Esse tratamento é considerado de alta complexidade, pois antes de implantar a nova prótese no local desejado, é necessário manipular o material previamente implantado. Essa etapa é arriscada devido ao risco de ruptura com dilatações que ocorrem nos balões de dilatação. Por isso, é essencial que a equipe cirúrgica esteja preparada para propor soluções em caso de necessidade.
Quadro raro
No procedimento de Guilherme, o implante da prótese pulmonar foi realizado com sucesso. Entretanto, na fase final, foi observada presença de uma comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar. Casos como esses são raros e geralmente associados a pacientes já submetidos à cirurgia de Ross, devido à fragilidade das estruturas vasculares causada pela manipulação desses tecidos e dos dispositivos implantados previamente.
Para resolver esse problema, a equipe cirúrgica realizou o fechamento dessa comunicação por técnica transcateter, com o implante de uma prótese, sem a necessidade de abrir o peito do paciente. “Esse é o primeiro caso descrito na literatura em que ambos os procedimentos foram realizados em sequência, no mesmo tempo cirúrgico. As intervenções cardíacas minimamente invasivas proporcionam menor grau de risco e viabilizam uma recuperação precoce dos pacientes”, explica Romulo Torres, médico responsável pelos procedimentos.
Além disso, o médico ainda explica mais sobre a cirurgia em questão. “O implante transcateter de prótese pulmonar, em específico, tem uma importância adicional já que possibilita o tratamento para pacientes jovens que já foram submetidos a inúmeras intervenções abertas e que não apresentam condições para um novo tratamento cirúrgico convencional. Dessa forma, trata-se de uma mudança de paradigma na abordagem desses casos, permitindo uma maior longevidade e qualidade de vida para os pacientes”, completa o cardiologista.
Guilherme observa os ganhos da cirurgia. “Antes da cirurgia, precisava dormir sentado. Quero viver com mais qualidade, ser mais ativo no dia a dia”, finaliza.
Jarbas da Silva Motta Junior
Diretor Técnico
CRM PR 26.227 – RQE 19.368
Hospital São Marcelino Champagnat
CRM – PR 5522