‘Investi tudo que tinha’: donos de comércios tradicionais têm perda total após incêndio em um dos Mercadões mais antigos do Brasil


Donos de comércios tradicionais têm perda total após incêndio no Mercadão de Piracicaba
Uma cena se repetiu durante toda a quarta-feira (23) em frente ao Mercado Municipal de Piracicaba, após um incêndio destruir 17 boxes do local: comerciantes passaram o dia aguardando notícias ou mesmo uma autorização para verificar o quanto o fogo havia destruído seus espaços.
Quem conseguia entrar, não trazia boas notícias. A maioria dos entrevistados pelo g1 relatou perda total e informou não possuir seguro.
“A situação está crítica. Queimou toda a pastelaria. A de cá, a do Cenoura mesmo, queimou uma parte. Mas a da minha esposa queimou toda”, lamentou o comerciante Francisco Pandolfi, conhecido como Cenoura, dono de uma pastelaria no Mercadão há 53 anos.
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Wesley Almeida/EPTV
Ele revelou que havia investido R$ 250 mil em uma reforma recente.”
A gente colocou tudo novo, tudo novo. Agora, perdemos”, lamentou.
Segundo Pandolfi, o box de sua esposa não possui seguro, enquanto o dele tem uma cobertura parcial.
Mesmo diante das perdas, o comerciante, que tira apenas 10 dias de férias por ano e dedica o restante do tempo ao trabalho, mantém esperança na reconstrução:
“A gente vai conseguir. Com o apoio da Prefeitura, nos ajudando, a gente vai fazer tudo novo. Em breve, nós estamos retornando.”
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‘Investi tudo que eu tinha aí’
Alguns comerciantes preferiram não entrar no prédio por questões de segurança. Foi o caso de José Nerval Pandolfi, de 63 anos. Ele é proprietário de um comércio de frios, latarias e massas de produção própria no Mercadão há 24 anos.
Além de ainda haver focos de incêndio, fumaça e fuligem no local, uma das portas de seu box foi derrubada pelas chamas.
“Pode ocorrer de cair. Então, eu não posso me arriscar. Eu não posso entrar. E nem quero, né? Não vou correr risco. Com a vida eu consigo me levantar. Sem ela, minha família fica a ver navios”, refletiu.
Mesmo sem ter conseguido acessar seu box, pelas informações que recebeu, o comerciante acredita que perdeu tudo:
“Fica sem alicerce. Porque, na verdade, eu investi tudo que eu tinha aí, e é meu ganha-pão. E, além disso, tenho funcionários que dependem de mim. São sete funcionários.”
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‘Se ficar fechado, deixa de ganhar’
Em frente ao Mercadão, a comerciante Renata Packer, proprietária de uma tabacaria onde trabalha há quase 40 anos, ainda observava a fumaça saindo do seu box. “Pelo jeito, foi perda total. Não sobrou nada”, lamentou.
Além do prejuízo material, ela já pensa nos impactos do tempo em que ficará sem poder trabalhar: “E se você ficar fechado, você deixa de ganhar, né? Tem isso também.”
‘É uma vida ali’
Ademir da Silva, que comanda uma peixaria no Mercadão há 30 anos, levou um susto ao saber do incêndio. Ao chegar, descobriu que seu box não havia sido atingido. Mesmo assim, lamentou as perdas dos colegas.
“Assusta e a gente sente pelo amigo, né? A gente sente porque é uma vida ali. Tem pessoas que chegam aqui 4h30 e saem 20h pra ganhar o pão delas. Aí perde tudo. Dá dó”, comentou.
Para ele, a solidariedade será fundamental para a reconstrução: “Aí dentro é como uma família. Um ajuda o outro. E eu creio que vai ter muita ajuda das pessoas, sabe? Que vão ajudar aqueles que perderam tudo ali. Eu creio nisso daí.”
Vista aérea do Mercado Municipal de Piracicaba após incêndio.
Wesley Almeida/EPTV
Empresas vizinhas sentem impacto
O incêndio também afetou empresas vizinhas ao Mercadão. Rubens Bacchini, manobrista em um estacionamento ao lado, relatou que até o meio-dia, dez horas após o incêndio, a empresa onde trabalha não havia recebido movimento algum.
“Depois liberaram o trânsito, aí começou a voltar um pouco, mas mesmo assim está muito fraco. A essa hora, era para ter de 80 a 90 carros. Não entraram nem 30 hoje”, detalhou.
Para ele, o impacto vai além do bloqueio de uma rua próxima:
“Muita gente vinha comprar no Mercadão. Aqui, quase 80% do movimento é por causa do mercado. Tem o posto de saúde e o laboratório de exames, mas o forte é o mercado. Vai ter impacto para todo mundo. Não só pra gente aqui do estacionamento, como também para os restaurantes e lojas.”
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Trabalho de rescaldo em incêndio no Mercadão de Piracicaba
Rodrigo Pereira/ g1
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