Família de quero-queros protagoniza cena emocionante no Parque Costeiro, em Vitória

Quero-queros no Parque Costeiro de Camburi (Foto: Leonardo Merçon/Últimos Refúgios)
Quero-queros no Parque Costeiro de Camburi (Foto: Leonardo Merçon/Últimos Refúgios)

Quem visita o Parque Costeiro, ao norte da Praia de Camburi, em Vitória (ES), talvez esteja esperando por trilhas, vento no rosto e a vista do manguezal

Mas, se olhar com atenção, pode encontrar algo ainda mais comovente: uma pequena família de quero-queros (Vanellus chilensis) resistindo com delicadeza em meio à rotina de uma cidade em movimento.

Os quero-queros são aves conhecidas — estão presentes em campos, parques e até mesmo em terrenos baldios. Mas, mesmo sendo comuns, sempre me chamam a atenção quando estão em família (ou atacando alguém que chegou muito perto 🤣). 

Há algo na forma como cuidam dos filhotes, como reagem ao perigo, que me faz admirá-los: o instinto de proteção dos pais… a força do afeto.

Acolher é resistir

Recentemente, estive no Parque Costeiro para uma ação de educação ambiental com crianças, junto com a equipe do Projeto Vitória da Restinga, realizado pelo Instituto Últimos Refúgios. O projeto é coordenado pelo amigo Rafael de Rezende Coelho, que sempre me convida para participar das ações. 

Logo na entrada, soube pelos funcionários do parque que uma família de quero-queros havia “adotado” o local. 

A equipe do Parque Costeiro tentava proteger os filhotes, resguardando uma área onde eles circulavam, ainda desajeitados. 

Naquele dia, presenciei um momento especial. A mamãe quero-quero se abaixou, e os filhotes correram em sua direção, se escondendo debaixo de suas asas. Veja:

Registrei esse instante (veja vídeo no final da matéria). E senti que, aquela podia se tornar uma mensagem urgente: a vida ainda encontra refúgio, quando damos espaço e respeito a ela.

Porém, na natureza nem tudo são flores. Os desafios para os animais silvestres são grandes. Angústias que nós, inseridos em uma sociedade “civilizada”, temos dificuldade em compreender. 

Durante o tempo que fiquei no parque, notamos que um dos filhotes desapareceu. É difícil não se entristecer, mas essa é também uma das faces da natureza. 

Houve até uma campanha para dar nomes aos pequenos — um gesto simples, mas que cria vínculos. Os nomes escolhidos pela comunidade e visitantes foram “Du, Dudu e Edu”, inspirados em um desenho animado (que eu até assistia quando jovem). Uma tentativa de trazer empatia para as pessoas com essas pequenas criaturas que não tiveram escolha ao nascerem em um centro urbano.

A vida selvagem segue seus próprios ciclos, e o Parque Costeiro oferece não apenas abrigo para os filhotes recém-nascidos, mas também oportunidade para seus predadores naturais. Por ali circulam garças, gaviões, cachorros-do-mato e até jacarés. É mais um dos redutos do centro urbano onde a natureza se manifesta de forma crua e onde cada vida tem seu papel. 

Ainda assim, torcemos para que os filhotes sobreviventes cresçam fortes, amparados pelo cuidado dos pais e pela proteção que, juntos, estamos tentando construir.

Convivência

Mesmo pressionados pela cidade, os quero-queros acharam abrigo. Escolheram aquele cantinho do parque, entre a indústria e a natureza, para fazer o que toda vida quer fazer: seguir.

Ali, os adultos continuam vigilantes, sempre atentos aos movimentos ao redor, enquanto os filhotes crescem entre as raízes do manguezal, a vegetação da restinga e os olhares atentos dos visitantes. 

Muitos moradores já conhecem a história, alguns trazem os filhos para observá-los. Outros se emocionam com a simplicidade daquele núcleo familiar resistindo ao urbano.

O Parque como elemento de transformação

A presença desses quero-queros diz muito sobre o momento que vivemos. O Parque Costeiro foi criado justamente para ser um espaço de reconciliação entre cidade e natureza. 

Não está tudo resolvido. A região ainda sofre impactos do passado e do presente — uso indevido de algumas áreas, resíduos, proximidade com a indústria. Mas há esforço, há gente cuidando. E ao menos para mim, há esperança.

Nós, do Instituto Últimos Refúgios, temos orgulho de fazer parte desse processo de reconstrução. Lembro bem que em minha juventude, sempre quis explorar aquela região e nunca tive coragem, pois naquela época, a área era sinônimo de criminalidade, uso de drogas e prostituição. Aos poucos, tenho visto uma mudança da forma de uso desse local que considero um dos mais legais para conhecer em Vitória. 

Lutamos por uma cidade mais justa para todos — humanos e não humanos. E quando vemos esses quero-queros criando seus filhotes ali, sentimos que estamos no caminho certo.

Convite à ação

Convido você, leitor, a visitar o Parque Costeiro. Vá conhecer essa família.  Observe, fotografe, participe. Ajude a protegê-los com sua presença consciente. Leve essa história adiante. 

Que esses quero-queros virem símbolo da restauração da área norte de Camburi como “embaixadores” do que podemos construir: uma cidade onde a vida floresce… mesmo entre as rachaduras do concreto.

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