As mulheres negras movimentam este país. Somos força ancestral, inteligência coletiva, potência criadora e base viva da sustentação do Brasil. Em todos os espaços, seguimos construindo caminhos, mesmo diante dos desafios impostos pelo racismo, pelo machismo e pelas desigualdades sociais.
Neste dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional Tereza de Benguela, lembramos que são muitos os desafios históricos e estruturais que as mulheres negras enfrentam e celebramos a luta, a resistência e a liderança daquelas que vieram antes de nós.
Somos a base da pirâmide social no Brasil e, ao mesmo tempo, o alicerce que sustenta este país. As mulheres negras compõem a parcela mais empobrecida da população, atravessadas por desigualdades em múltiplas dimensões: trabalho, renda, saúde, mobilidade social, moradia e sub-representação política, somadas à violência do racismo e do machismo estruturais.
Carregamos o trabalho doméstico e de cuidado. Cuidamos de tudo e de todos, muitas vezes sem direitos, sem reconhecimento, sem descanso, em uma escala de trabalho exaustiva. Pesquisa Nacional sobre Trabalho Doméstico e de Cuidados Remunerados, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) e o Ministério da Igualdade Racial (MIR), aponta que 7 entre 10 mulheres que realizam trabalho doméstico e/ou de cuidados remunerados no Brasil são negras.
Em Fortaleza, apresentamos, na Câmara Municipal, o Projeto de Lei que institui a Política Municipal do Cuidado. Um dos objetivos é socializar o trabalho reprodutivo e torná-lo uma responsabilidade não apenas das mulheres, sobretudo das mulheres negras, mas também do Estado e da sociedade em geral. O PL também prevê que possamos dar mais dignidade ao trabalho dos cuidadores, sejam eles remunerados ou não.
25 de julho é o nosso grito. É o nosso anúncio: estamos vivas, em luta e com um projeto para transformar o mundo. Nossas pautas falam ainda de vida digna, respeito, acesso ao trabalho, à saúde, à educação e ao Bem Viver. Lutamos ainda contra as diversas formas de violência, seja ela territorial ou policial, o genocídio da juventude negra e o encarceramento em massa da nossa população. Queremos um projeto de nação que valorize nossos saberes e nossas existências.
A data é resistência e também memória. No Brasil, homenageamos Tereza de Benguela, liderança quilombola que é exemplo de força e de organização para milhares de mulheres que sobrevivem à dura realidade e às sequelas da colonização. Neste Julho das Pretas, celebramos também a luta e resistência histórica das mulheres negras, a exemplo de Preta Tia Simoa, Luísa Marinho, Dandara, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Benedita da Silva, Lúcia Simão, Zelma Madeira, Martír Silva, Raquel Viana, Cícera Barbosa, minhas colegas de parlamento como Adriana Almeida e Adriana Gerônimo, e tantas outras mulheres negras que abriram caminhos e nos inspiram.
*Mari Lacerda é vereadora de Fortaleza pelo PT, mestra em Sociologia (UFC) e militante feminista da Marcha Mundial das Mulheres (MMM)
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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