No centro do debate, jovens negras se reúnem no DF para discutir mercado de trabalho

Na véspera do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, mulheres negras trabalhadoras de todo o país se reuniram nesta quinta-feira (24) no Museu Nacional da República, em Brasília, para discutir a dignidade dentro do mercado de trabalho.

O 2º Encontro Nacional da Rede MultiAtores, idealizado pelo projeto Mude com Elas, era uma das atividades previstas no Festival Latinidades.

O dia foi marcado por amplo diálogo social e político com representantes do poder público, setor privado e sociedade civil para buscar o desenvolvimento de articulações coletivas voltadas aos direitos das jovens negras brasileiras no campo laboral.

“Trazer a juventude para o centro do debate. Não só para ouvi-las, mas que elas sejam as protagonistas. A importância desse projeto é trazer a juventude feminina negra para o centro, mas a partir da fala delas, articulando, subsidiando essa rede de multiatores da qual elas fazem parte para discutir, pensar as estratégias de superação dessas desigualdades no mercado de trabalho. Pensando no acesso e na permanência para um trabalho digno”, explica Fernanda Nascimento, coordenadora do Mude com Elas.

De acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego local (PED-DF), das 495 mil mulheres negras em idade economicamente ativa no Distrito Federal, 100 mil estão fora do mercado de trabalho. Do total, 80% trabalham no setor de serviços.

Herança colonial

No primeiro painel, pela manhã, as convidadas trouxeram reflexões acerca da Política Nacional de Cuidados (PNC), lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim do ano passado.

Historicamente, atividades de cuidados foram atribuídas a meninas e mulheres negras, especialmente, no que diz respeito ao trabalho doméstico não remunerado ou remunerado de forma precarizada. A PNC vem diante dessa perspectiva para proporcionar a construção de um novo imaginário social.

A secretária Nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), Laís Abramo, detalhou dados da pasta que apontam que 75% do trabalho do cuidado no Brasil é exercido por mulheres, sendo 45% delas mulheres negras e 25% trabalhadoras domésticas.

“O cuidado nos é imposto desde o momento que nós estamos gestando, e desde o momento que nós estamos nascendo também. E para essa conexão do PNC ser viva, ser efetiva, a gente precisa olhar com atenção para a realidade das jovens mulheres negras. Olhar para as nossas anciãs, realizar esse trabalho de olhar para o passado, pensar como as nossas mães, nossas avós cuidavam. E como esse cuidado foi imposto como uma obrigação para a gente até hoje”, pontuou Deusa Negra, representante do Mude com Elas.

Para Andréia Alves, representante da associação civil Ação Educativa, é necessário pensar uma política de cuidados que reconheça e redistribua o trabalho historicamente realizado por essas mulheres. Sempre visando oportunidades reais, como o acesso à formação de qualidade, empregabilidade com justiça e ambiente de trabalho livre de racismo e violência.

“Este encontro reafirma que a transformação só é possível quando as juventudes estão no centro da política. E mais do que ocupar espaços, essas jovens negras têm elaborado soluções, denunciado violências e construído caminhos”, destaca Alves.

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