
Shayne Burke planejava uma lua de mel repleta de aventura: três semanas explorando os parques nacionais do oeste americano com sua esposa, Chloe. Mas no oitavo dia, em 19 de maio do ano passado, uma decisão de rotina transformou o sonho em um pesadelo de vida ou morte no Parque Nacional de Grand Teton, Wyoming.
Enquanto buscava avistar uma coruja cinzenta, espécie rara que nunca encontrara na natureza, Shayne e Chloe caminhavam juntos. Após cerca de 800 metros, Chloe decidiu voltar ao carro. Shayne, determinado, continuou por mais uma hora, mas percebeu que precisava retornar. Consultando seu GPS, viu um atalho tentador: cortar direto pela mata, em vez de seguir a trilha sinuosa. Optou pela velocidade.
“Estava atravessando a mata fazendo barulho e tentando prevenir um encontro com urso”, relatou Shayne Burke, funcionário do Departamento de Defesa dos EUA e reservista do exército. “Infelizmente, eu me movia muito, muito rápido.” Essa velocidade teve consequências brutais. Ele esbarrou inesperadamente com um filhote de urso-pardo (grizzly). O filhote fugiu. Imediatamente, Shayne sacou seu spray de urso, sabendo que a mãe estaria próxima.
Sua intuição estava certa, mas o tempo era curto demais. A mãe surgiu a menos de 5 metros de distância. “Tudo aconteceu tão rápido”, descreveu. O instinto de proteção da ursa, pesando cerca de 135 quilos, foi instantâneo. Ao cruzar os olhares com o animal, Shayne já a sentia sobre si. Lembrou-se vital dos protocolos ensinados nos parques.
Reagiu de forma defensiva, como recomendado para ataques surpresa por ursos que defendem filhotes ou comida: jogou-se de bruços no chão, cobriu a nuca e a cabeça com os braços e mãos, e permaneceu imóvel, fingindo-se de morto. A estratégia, embora testada, não evitou o ataque violento. A ursa investiu com força total.
“Ela me derrubou, mordeu meu ombro, quebrando-o”, contou Shayne. O ombro fraturado foi apenas o começo. A ursa voltou sua fúria para as pernas de Shayne, mordendo repetidamente. “Ela me mordia, me mordia, me pegava, me jogava.” Milagrosamente, não arrancou pedaços de carne, causando feridas profundas, mas “superficiais”, como ele mesmo as descreveu, atingindo a altura das nádegas.
Logo após o ataque, Burke gravou uma mensagem para seus entes queridos. Assista aqui:
O momento crítico veio quando a ursa direcionou suas mandíbulas para a cabeça de Shayne. Ele mantinha os braços firmemente protegendo o crânio e, crucialmente, ainda segurava o spray de urso na mão. “Ela acabou mordendo o spray, minha mão e meu braço.” Essa mordida acidental salvou sua vida. O recipiente de spray explodiu, liberando sua potente carga de pimenta diretamente na boca da ursa e espirrando sobre ambos.
A reação do animal foi imediata. A ursa soltou Shayne e fugiu em disparada, justamente na direção da estrada próxima. Apesar da dor excruciante, Shayne agiu rapidamente. Levantou-se, avaliou a direção da fuga da ursa e, instintivamente, correu para o lado oposto. Ataque ocorrera a apenas cerca de 450 metros da estrada, mas Shayne se afastou mais, subindo a montanha por quase 200 metros, rastejando sob e sobre árvores caídas em sua fuga.
Sua sorte extraordinária continuou. Nenhuma artéria principal foi atingida, evitando uma hemorragia fatal. As inúmeras feridas, embora profundas, não se infectaram, apesar da sujeira inevitável durante o escape. Após ser resgatado e hospitalizado, o reservista do exército recebeu alta após apenas um dia internado, um desfecho quase inacreditável considerando a violência do ataque. Ele atribui sua sobrevivência a dois fatores essenciais.
“O maior elemento que contribuiu para minha sobrevivência, na minha opinião, foi fazer minha pesquisa”, enfatizou Shayne. Ele destacou o trabalho do Serviço Nacional de Parques (NPS) em educar os visitantes. Nas entradas das trilhas, painéis informativos alertam claramente sobre a presença de ursos e as ações específicas a tomar em caso de ataque. “Eu fiz exatamente o que estava escrito, ponto por ponto, e com certeza estou vivo por causa disso.”
O segundo fator foi o spray de urso. “Ter um dissuasor… acabou sendo o que contribuiu para minha sobrevivência.” Embora não tenha conseguido ativar o spray intencionalmente durante o caos, tê-lo na mão no momento exato em que a ursa mordeu fez toda a diferença. A explosão do conteúdo na boca do animal interrompeu o ataque de forma decisiva.

Depois que o spray de urso afastou a fera de uma forma incomum, Burke rastejou por cima e por baixo de árvores caídas para se afastar o máximo possível dela (Shayne Burke)
Shayne também ressaltou a importância de conhecimentos básicos de primeiros socorros. “No final das contas, você é seu próprio primeiro socorro.” Após o ataque, enquanto se arrastava montanha acima, ele precisou gerenciar suas feridas até a ajuda chegar.
O NPS investigou o incidente, coletando amostras de DNA de Shayne para comparar com eventuais ataques anteriores, mas os resultados ainda não são conhecidos. Shayne não guarda rancor. Entende que estava “no lugar errado na hora errada” e que a ursa agiu “de forma natural”, defendendo sua cria de um intruso percebido como ameaça. Por isso, as autoridades decidiram não rastrear ou capturar o animal. “Deixar o urso ser urso.”
Os protocolos do NPS para ataques defensivos de ursos pardos, como o que Shayne seguiu, são claros. Em caso de contato iminente, a orientação é: cobrir a cabeça e o pescoço com as mãos e os braços. Deitar de bruços, com as pernas ligeiramente afastadas para dificultar que o urso vire o corpo. Manter a mochila, pois ela oferece proteção adicional. Manter-se absolutamente imóvel e em silêncio, para convencer o urso de que não representa mais perigo. Não se levantar imediatamente após o ataque parar, aguardando vários minutos para garantir que o urso realmente se afastou.
É crucial diferenciar um ataque defensivo de um ataque predatório, quando um urso caça ativamente um humano como presa. Neste cenário muito mais raro, a recomendação muda radicalmente: lutar com todas as forças, gritando, golpeando o focinho e os olhos do animal com qualquer objeto disponível.
Shayne Burke nunca precisou dessa última tática. Sua história permanece como um testemunho poderoso da eficácia da preparação, do conhecimento dos protocolos corretos e de uma dose inegável de sorte quando confrontado com uma das forças mais impiedosas da natureza.
Esse Sobrevivente de ataque de urso gravou mensagem final arrepiante para seus entes queridos após ter o corpo “dilacerado” pelo animal foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.