Professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Reginaldo Nasser afirma que a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a criação do Estado Palestino, realizada nesta segunda-feira (28) nos Estados Unidos, escancarou a impotência da organização frente ao massacre em curso na Faixa de Gaza. Para ele, declarações de líderes e resoluções simbólicas não têm efeito prático enquanto Israel “faz o que bem entende” com o apoio direto dos EUA e a conivência de outras potências.
“Desde o 7 de outubro e na sequência das ações de Israel, o genocídio se tornou cada vez mais evidente. Ontem, várias organizações israelenses publicaram uma nota afirmando que ocorre um genocídio em Israel. […] Israel bloqueia a entrada de comida, de água, fecha [a fronteira] na hora que quiser e caminha nesse desmando completo que está acontecendo em Gaza”, critica o professor, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Durante a conferência, a França anunciou que reconhecerá o Estado da Palestina na Assembleia da ONU de setembro, mas segundo Nasser, isso não representa uma virada concreta. “Como reconhecer um Estado onde a população está passando por genocídio? […] O mínimo que se teria que fazer agora é um cessar-fogo e parar com mais delongas”, critica.
Para Nasser, o genocídio de Gaza se diferencia por ser “o primeiro genocídio transmitido ao vivo”. “Os genocídios, antigamente, eram apurados depois. […] Agora está tudo muito claro. Aqueles que não estão tomando atitude são cúmplices de genocídio. Isso vai ficar marcado na história”, diz. “A ONU é aquilo que as grandes potências querem que ela seja”, complementa.
‘Israel prolonga genocídio e países o alimentam’
O professor condena o uso do Hamas como justificativa para a manutenção dos ataques. Israel tem utilizado a exigência de retirada do grupo como um pretexto para não avançar em soluções reais. “Todo mundo sabe, inclusive o serviço de inteligência de Israel, que a única força política organizada dentro da Faixa de Gaza é o Hamas. Não há como ter outra força política lá dentro. [Israel] sabe que isso não vai acontecer e, portanto, prolonga esse genocídio”, rebate.
O internacionalista também contesta a narrativa de que Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro do país, seria o único responsável pela ofensiva, destacando que “por volta de 80% da população de Israel não quer os palestinos em Gaza” e que o parlamento israelense aprovou a anexação da Cisjordânia ao país.
Nasser destaca ainda que as potências globais têm mantido relações econômicas e militares com Israel, mesmo as que se dizem críticas. “A Espanha, que é um dos países que mais critica Israel, é o país que mais comprou arma de Israel durante esse ano. […] Isso espelha essa situação: países que criticam Israel, mas continuam alimentando a máquina do genocídio”, exemplifica.
Em relação ao Brasil, ele considera que as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tiveram uma importância inicial, mas já não são suficientes. “Continua vendendo petróleo, tem denúncias de venda de aço. […] É o inverso da frase famosa do presidente americano Teddy Roosevelt: ‘Fale duro e aja suavemente’”, aponta.
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