
Colar de 8.500 anos da Serra da Capivara é destaque de exposição em São Paulo
Divulgação/Fumdham
Um colar de 8.500 anos, descoberto em um dos sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara, é um dos destaques da exposição “Nem Tudo Que Reluz – Uma Exposição sobre o Adorno e a Arte Contemporânea”, que tem início nesta terça-feira (29), em São Paulo.
A exposição reúne 32 obras sob a curadoria da professora de história da arte da Universidade de Brasília (UnB) Ana Avelar. Ao g1, ela explicou que a peça passou a integrar a mostra graças ao produtor Sérgio Santos, que também atuou no Museu do Homem Americano, localizado em São Raimundo Nonato, e se ofereceu para intermediar o empréstimo do artefato.
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“Esse colar foi uma surpresa para nós, porque se trata de uma exposição de arte contemporânea feita por artistas mulheres brasileiras. Mas, durante a pesquisa para a escolha das obras que comporiam a mostra, o Sérgio comentou que poderia conversar com o museu caso quiséssemos incluir algo do acervo”, contou.
“Nós acolhemos imediatamente a sugestão, pensando que seria muito poderoso contar com algum tipo de adorno encontrado no Brasil, de caráter pré-histórico. É uma peça muito valiosa, inestimável, em termos de importância para o patrimônio brasileiro”, completou.
A curadora relatou que a peça será posicionada logo na entrada da exposição, em linha paralela a um conjunto de obras da artista Amélia Toledo — a única participante apresentada postumamente.
Segundo ela, essa disposição também funciona como uma homenagem à arqueóloga Niéde Guidon, falecida recentemente, cujo legado tornou possíveis descobertas como a do colar exibido na mostra.
“Apresentamos, como forma de homenagem no hall de entrada, duas mulheres que são as guardiãs desta exposição: Niède, responsável por inúmeras contribuições à ciência e à humanidade, e Amélia, uma artista de grande importância, que se dedicou à educação por meio da arte e que desenvolveu adornos com forte semelhança a elementos pré-históricos”, explicou.
Em seguida, a exibição mostra obras de cerca de 20 artistas mulheres, com diferentes trajetórias, origens e linguagens, de Norte a Sul do Brasil.
O evento ocorre no Solar Fábio Prado, antigo Museu da Casa Brasileira, na capital paulista, é gratuito e aberto ao público de terça a quinta-feira e aos fins de semana, das 10h às 18h; às sextas, das 11h às 20h.
Sobre o colar
Ao g1, a arqueóloga e pesquisadora da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) Gisele Daltrini afirmou que a peça foi encontrada em um abrigo sob rocha chamado Toca do Sítio do Meio — um sítio arqueológico com pinturas rupestres datadas de seis a 12 mil anos atrás.
As escavações no local revelam múltiplas camadas arqueológicas, resultado de cerca de 25 mil anos de ocupação humana. Foi em uma dessas camadas, datada de 8.500 anos, que o colar foi encontrado, junto a uma placa de ocre, dentes humanos e vestígios de fogueiras.
“Essa acomodação cuidadosa do colar, da placa e os dentes revelam alguns dos hábitos e práticas desses grupos, provavelmente relacionada a prática funerária ou outra coisa. A gente encontrou apenas parte do que deve ter sido um ritual, então fica difícil dizer”, explicou Gisele.
“A peça é bem interessante, é bem complexa, porque são aproximadamente mil sementes, de um tipo de gramínea, que ainda está sendo estudado. Embora não tivesse mais o fio que unia essas sementes, a parte desse fio já tinha desmanchado, provavelmente era alguma fibra vegetal”, completou.
A arqueóloga contou que as sementes estavam perfeitamente acomodadas. “Por isso que a gente sabe que era um colar de seis voltas, porque elas estavam em sequência, conforme foi sendo retirado o sedimento que recobria essas sementes, a gente via que elas estavam na sequência”, disse.
A peça foi descoberta em 2006 e está em exibição no Museu do Homem Americano, localizado no Piauí, desde 2009. Ela foi cedida, com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para a exposição em São Paulo e, ao final do evento, retornará ao estado.
Niède Guidon enxergou no sertão piauiense um solo cheio de memória
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