Papelão vira tela: exposição em BH revela arte potente sobre periferias, exclusão e resistência

Obras de Petchó nascem de sua vivência na periferia de Belém

Entre a arte e a sobrevivência, o papelão virou tela para que o artista paraense Petchó Silveira pintasse histórias de exclusão, resistência e beleza das periferias brasileiras. Nascido e criado na periferia de Belém do Pará, Petchó é o autor da exposição “Ocupação”, em cartaz na Galeria SESI Minas, em Belo Horizonte, até 31 de agosto. A entrada é gratuita.

Com 30 pinturas e materiais de processo, a mostra oferece um mergulho no cotidiano de pessoas marginalizadas, em especial negras, em situação de rua e em territórios periféricos. Os suportes das obras, o papelão recolhido das ruas, são mais do que uma escolha estética: são parte do discurso.

“Na minha cidade, vejo muitas pessoas em situação de rua que usam o papelão como abrigo, como lençol, como cama. É a casa delas. Então usar o papelão como suporte é dar visibilidade para essas pessoas”, explica o artista.

A matéria-prima frágil e descartada pelo sistema vira arte firme, direta, de traços expressivos e cores vibrantes. As obras de Petchó nascem de sua vivência na periferia de Belém, mas dialogam com exclusões que atravessam o Brasil, e muitas vezes são invisibilizadas também nos espaços artísticos.

Territórios negados 

A curadora da mostra Luisa Borges aponta que o trabalho de Petchó mistura denúncia e encantamento, e carrega a potência de quem transforma dor em presença.

:: Acompanhe o podcast Visões Populares e fique por dentro da política, cultura e lutas populares de MG e do Brasil ::

“Claro que ele está representando ali várias questões sociais muito sérias do Brasil. Mas também mostra a beleza do brasileiro, da nossa cultura”, afirma. 

Para Luisa, a presença de artistas periféricos e negros em espaços institucionais ainda é exceção, mas o cenário começa a mudar. “Tem havido melhoras, mas são espaços ainda dominados por elites brancas e ricas”, avalia.

A arte como espaço de fala

Petchó começou sua trajetória nas artes com apoio da Fundação Curro Velho, espaço cultural público do Pará. Com o tempo, foi desenvolvendo sua linguagem em mostras individuais e coletivas, especialmente na região Norte, e também participou de eventos literários e projetos de visibilidade negra, como a ilustração de um livro da Universidade de Brasília (UnB) sobre mulheres negras cotistas.

Agora, em Belo Horizonte, suas obras ocupam uma galeria importante, o que, segundo ele, é um ato político por si só.

“É importantíssimo que as curadorias e os museus abram espaços para a gente, que é minoria nesses lugares. Isso democratiza a arte. Tira a visão de que arte é só para quem estudou ou é rico. A arte tem que dialogar com todos”, defende o artista.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Ao ocupar um espaço institucional em pleno centro de BH, o artista paraense também ocupa simbolicamente territórios da arte que lhe foram negados, segundo ele, e o faz “com beleza, força e propósito”.

“As pessoas querem ser representadas de forma justa, não estigmatizada. E é isso que o trabalho do Petchó nos oferece”, resume a curadora Luisa Borges.

Serviço

Exposição “Ocupação” – Petchó Silveira

Local: Galeria SESI Minas – Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia, Belo Horizonte (MG)

Data: De 11 de julho a 31 de agosto de 2025

Entrada gratuita de segunda a sábado, das 9h às 19h.

O post Papelão vira tela: exposição em BH revela arte potente sobre periferias, exclusão e resistência apareceu primeiro em Brasil de Fato.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.