Casagrande: “Faço minha parte. Quero entregar um bom Estado em 2026”

Renato Casagrande ainda não definiu se vai concorrer nas eleições do ano que vem, mas garante que seu grupo político terá um nome para a disputa do governo do Estado. Foto: Reprodução/TV Vitória

Uma guerra de tarifas entre Brasil e Estados Unidos que atinge diretamente a economia do Espírito Santo. A melhora de índices de violência, educação e qualidade de vida no Estado. A guerra política que se aproxima no ano que antecede as eleições que prometem ser as mais disputadas dos últimos anos.

Em uma entrevista exclusiva ao Jornal da TV Vitória, o governador Renato Casagrande faz um balanço de ações estratégicas do governo em um cenário atípico. Afinal, o Estado que é referência em equilíbrio fiscal pode ter um baque grande na economia com a guerra de tarifas imposta pelos Estados Unidos.

Para Casagrande, é preciso manter os canais de comunicação abertos, Por outro lado, também é preciso arrumar a casa e estar em sintonia com o setor produtivo para superar dificuldades. Para o político experiente e com uma ampla base de apoio, o mais importante é procurar o diálogo.

Leia abaixo a entrevista com Renato Casagrande

Como o senhor recebeu a notícia da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo dos EUA?

O Espírito Santo exporta muito e, de tudo que a gente exporta, 30% vai para os Estados Unidos. Mantida a tarifa de 50%, é um prejuízo grande para muitos setores: aço, celulose, pedras ornamentais, café e outros produtos da agricultura como gengibre e macadâmia.

A gente está muito preocupado. O presidente Lula esteve aqui no ES. Em seguida eu estive com o vice-presidente Alckmin. Pedi para incorporar o setor de rochas na conversa com o setor da economia. A expectativa é que os Estados Unidos abram um canal de negociação, mas até agora não abriram.

O governo federal está batendo na porta dos americanos. O argumento do Trump não é econômico, é político, ideológico. O Brasil não pode aceitar porque é uma ofensa à soberania brasileira. A gente tem que reagir veementemente e buscar o diálogo até o fim.

O que o ES pode fazer diante dessa situação?

Cabe ao Espírito Santo se articular com o governo federal. Conversei com o presidente e com o vice-presidente. Também pedimos aos setores econômicos do nosso Estado, que têm relação com setores dos Estados Unidos, para que peçam a eles lá algum contato com lideranças do governo Trump.

Isso porque será ruim para o Brasil, mas também para os americanos, com aumento de preço de produtos como suco de laranja e café, o que afeta a inflação deles. Estamos articulados com o governo federal e com o setor produtivo capixaba.

Qual o papel do empresariado nessa articulação?

É fundamental. Quem vende café aqui tem relação com americanos. Quem vende rocha ornamental também. Então eles devem buscar pressão junto ao governo Trump. O argumento dele é político, e só uma pressão política pode ter efeito. O Congresso Nacional também está encaminhando representantes ao parlamento americano.

Porém, a gente conhece o perfil do presidente Trump e não tem previsibilidade nas reações dele. Até agora o governo brasileiro tentou contato, mas sem retorno. Não funciona como com outros países. Não temos um canal institucional que funcione.

O senhor vê união política interna no momento?

Sim. A reação do governo federal teve apoio da maioria da sociedade brasileira.

O Brasil não pode se submeter à interferência externa. No entanto, temos nossos problemas internos. Vivemos um desequilíbrio institucional. O Judiciário tem protagonismo excessivo. O Congresso Nacional avançou sobre o orçamento do Executivo.

Hoje, 50% dos investimentos são controlados por deputados e senadores. Isso desequilibra, enfraquece o Executivo e justifica o protagonismo do Judiciário. O Presidente da República deve chamar os presidentes do STF, da Câmara e do Senado para corrigir esses desvios.

Como o senhor blinda o ES desses problemas?

Não somos imunes. O que acontece nas relações com os Estados Unidos pode aumentar o desemprego e afetar a receita. A ArcelorMittal, por exemplo, está organizando um investimento em um laminador de tiras a frio. Se a taxa sobre o aço se mantiver, pode inviabilizar esse projeto.

O Estado é organizado, tem maior percentual de investimento do Brasil, primeiro lugar no ensino médio, na redação, terceiro lugar na alfabetização. Estamos cuidando bem do Estado, com muito controle de receita e despesa. Estamos resolvendo passivos antigos como BR-101, BR-262 e ferrovias. Se não houver desorganização nacional e internacional, vamos continuar acima da média nacional.

Como está o andamento das BRs 101 e 262?

A BR-101 agora segue com obras porque se resolveu o assunto da concessão. A mesma empresa ganhou a nova licitação, não há mais razão para questionar. O TCU e a ANTT acompanham de perto. A expectativa é que as obras aumentem neste ano e no ano que vem. A BR-101 é uma rodovia perigosa. Estamos determinados a acompanhar os investimentos.

Sobre a BR-262, colocamos R$ 2,3 bilhões do acordo de Mariana para iniciar a duplicação. A ferrovia para Minas e o Triângulo Mineiro está em discussão com a renovação da FCA. Haverá também uma nova ferrovia ligando Cariacica ao norte do Rio, passando pela Samarco e pelo Porto Central, consolidando o ES como hub logístico.

Como o governo tem atuado na mobilidade urbana?

Fizemos obras como a Leitão da Silva, o Portal do Príncipe, a ampliação da ponte, o aquaviário, o Complexo Viário de Carapina, a Rodovia das Paneleiras, a Abdo Saad, a 388 ligando Vila Velha a Guarapari, o contorno de Jacaraípe e o contorno de Viana. Estão contratadas obras como a via expressa ligando Vila Velha a Cariacica.

Estamos investindo também em transporte público com renovação da frota do Transcol e em ciclovias. Fizemos a Avenida América, viadutos na Darly Santos. Estamos criando alternativas de transporte para reduzir o trânsito.

Como o senhor avalia a segurança pública no ES?

Os dados são positivos. Reduzimos de quase 2 mil homicídios por ano para 852 em 2024. Estamos reduzindo todos os crimes, inclusive a violência contra a mulher. Em junho, passamos 32 dias sem feminicídio.

Utilizamos tecnologia, com biometria facial, reconhecimento digital e prisões de foragidos. Criamos cadastro biométrico, monitoramento, e vamos inaugurar 40 tótens de segurança em locais com mais ocorrências. Migramos para uma segurança digital.

Queremos colocar o ES entre os cinco estados mais seguros do país.

O que é o programa Cidade Inteligente?

Começamos por Venda Nova do Imigrante. É uma PPP estruturada pelo Bandes. Uma cidade inteligente é equipada com energia renovável, fibra óptica, câmeras de videomonitoramento e Wi-Fi gratuito. Trocamos todas as lâmpadas por LED, o que economiza e ilumina melhor.

O programa vai se expandir para Afonso Cláudio, Vargem Alta e Alegre. Temos mais 20 cidades elaborando projetos. É uma modernização que melhora o serviço público e a segurança.

Como o turismo pode ajudar o ES na transição da reforma tributária até 2032?

Temos dois pilares: logística e turismo. O turismo é forma de ampliar o consumo interno. Quem vem ao ES se encanta. Estamos crescendo mais do que a média nacional no turismo. Aeroporto e rodoviária com aumento de movimentação.

O Estado tem hoje imagem positiva, capixabas têm orgulho. Para atrair turistas, é preciso ter a casa arrumada. Estamos investindo em comunicação dirigida, em redes sociais e programas especializados. O setor empresarial também tem papel, com operadores e agentes de viagem nos promovendo como destino.

E como é esse lado “influencer” do governador?

O mundo exige comunicação direta. Sempre fiz café da manhã, hoje apenas compartilho. Sempre corri, agora mostro.

Rede social não é personagem. Faço tudo de forma natural. A leveza ajuda na conexão com as pessoas.

Como é ser governador e avô ao mesmo tempo?

As duas coisas são boas. Os netos são um presente de Deus. Quando posso, tento encontrar, abraçar, beijar. Eles trazem leveza.

Estamos em ano pré-eleitoral. Qual seu papel na sucessão estadual?

O governo está bem avaliado. Temos nomes fortes como Ricardo Ferraço, Arnaldinho Borgo, Da Vitória, Euclério, Sérgio Vidigal e Gilson Daniel.

Ricardo tem preferência pela posição que ocupa. Mas todos são competitivos. Faço minha parte, mas entrego na mão de Deus. Quero entregar um bom estado em 2026.

O senhor será candidato ao Senado?

Vou decidir apenas em março do ano que vem. Posso ficar no governo até o fim, já sou realizado. No entanto posso ser candidato ao Senado se tudo estiver organizado.

Como o senhor vê a postura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini?

Não sei se ele será candidato. Tenho uma relação institucional com o Pazolini. Ele decidiu se afastar, fazer críticas. Eu não tenho nada contra. O que puder fazer de parceria, farei. Não trabalho com agressão na política. É meu jeito. Se ele quiser ser adversário, é uma decisão dele.

Veja a entrevista ao Jornal da TV Vitória:

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