
Uma guerra de tarifas entre Brasil e Estados Unidos que atinge diretamente a economia do Espírito Santo. A melhora de índices de violência, educação e qualidade de vida no Estado. A guerra política que se aproxima no ano que antecede as eleições que prometem ser as mais disputadas dos últimos anos.
Em uma entrevista exclusiva ao Jornal da TV Vitória, o governador Renato Casagrande faz um balanço de ações estratégicas do governo em um cenário atípico. Afinal, o Estado que é referência em equilíbrio fiscal pode ter um baque grande na economia com a guerra de tarifas imposta pelos Estados Unidos.
Para Casagrande, é preciso manter os canais de comunicação abertos, Por outro lado, também é preciso arrumar a casa e estar em sintonia com o setor produtivo para superar dificuldades. Para o político experiente e com uma ampla base de apoio, o mais importante é procurar o diálogo.
Leia abaixo a entrevista com Renato Casagrande
Como o senhor recebeu a notícia da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo governo dos EUA?
O Espírito Santo exporta muito e, de tudo que a gente exporta, 30% vai para os Estados Unidos. Mantida a tarifa de 50%, é um prejuízo grande para muitos setores: aço, celulose, pedras ornamentais, café e outros produtos da agricultura como gengibre e macadâmia.
A gente está muito preocupado. O presidente Lula esteve aqui no ES. Em seguida eu estive com o vice-presidente Alckmin. Pedi para incorporar o setor de rochas na conversa com o setor da economia. A expectativa é que os Estados Unidos abram um canal de negociação, mas até agora não abriram.
O governo federal está batendo na porta dos americanos. O argumento do Trump não é econômico, é político, ideológico. O Brasil não pode aceitar porque é uma ofensa à soberania brasileira. A gente tem que reagir veementemente e buscar o diálogo até o fim.
O que o ES pode fazer diante dessa situação?
Cabe ao Espírito Santo se articular com o governo federal. Conversei com o presidente e com o vice-presidente. Também pedimos aos setores econômicos do nosso Estado, que têm relação com setores dos Estados Unidos, para que peçam a eles lá algum contato com lideranças do governo Trump.
Isso porque será ruim para o Brasil, mas também para os americanos, com aumento de preço de produtos como suco de laranja e café, o que afeta a inflação deles. Estamos articulados com o governo federal e com o setor produtivo capixaba.
Qual o papel do empresariado nessa articulação?
É fundamental. Quem vende café aqui tem relação com americanos. Quem vende rocha ornamental também. Então eles devem buscar pressão junto ao governo Trump. O argumento dele é político, e só uma pressão política pode ter efeito. O Congresso Nacional também está encaminhando representantes ao parlamento americano.
Porém, a gente conhece o perfil do presidente Trump e não tem previsibilidade nas reações dele. Até agora o governo brasileiro tentou contato, mas sem retorno. Não funciona como com outros países. Não temos um canal institucional que funcione.
O senhor vê união política interna no momento?
Sim. A reação do governo federal teve apoio da maioria da sociedade brasileira.
O Brasil não pode se submeter à interferência externa. No entanto, temos nossos problemas internos. Vivemos um desequilíbrio institucional. O Judiciário tem protagonismo excessivo. O Congresso Nacional avançou sobre o orçamento do Executivo.
Hoje, 50% dos investimentos são controlados por deputados e senadores. Isso desequilibra, enfraquece o Executivo e justifica o protagonismo do Judiciário. O Presidente da República deve chamar os presidentes do STF, da Câmara e do Senado para corrigir esses desvios.
Como o senhor blinda o ES desses problemas?
Não somos imunes. O que acontece nas relações com os Estados Unidos pode aumentar o desemprego e afetar a receita. A ArcelorMittal, por exemplo, está organizando um investimento em um laminador de tiras a frio. Se a taxa sobre o aço se mantiver, pode inviabilizar esse projeto.
O Estado é organizado, tem maior percentual de investimento do Brasil, primeiro lugar no ensino médio, na redação, terceiro lugar na alfabetização. Estamos cuidando bem do Estado, com muito controle de receita e despesa. Estamos resolvendo passivos antigos como BR-101, BR-262 e ferrovias. Se não houver desorganização nacional e internacional, vamos continuar acima da média nacional.
Como está o andamento das BRs 101 e 262?
A BR-101 agora segue com obras porque se resolveu o assunto da concessão. A mesma empresa ganhou a nova licitação, não há mais razão para questionar. O TCU e a ANTT acompanham de perto. A expectativa é que as obras aumentem neste ano e no ano que vem. A BR-101 é uma rodovia perigosa. Estamos determinados a acompanhar os investimentos.
Sobre a BR-262, colocamos R$ 2,3 bilhões do acordo de Mariana para iniciar a duplicação. A ferrovia para Minas e o Triângulo Mineiro está em discussão com a renovação da FCA. Haverá também uma nova ferrovia ligando Cariacica ao norte do Rio, passando pela Samarco e pelo Porto Central, consolidando o ES como hub logístico.
Como o governo tem atuado na mobilidade urbana?
Fizemos obras como a Leitão da Silva, o Portal do Príncipe, a ampliação da ponte, o aquaviário, o Complexo Viário de Carapina, a Rodovia das Paneleiras, a Abdo Saad, a 388 ligando Vila Velha a Guarapari, o contorno de Jacaraípe e o contorno de Viana. Estão contratadas obras como a via expressa ligando Vila Velha a Cariacica.
Estamos investindo também em transporte público com renovação da frota do Transcol e em ciclovias. Fizemos a Avenida América, viadutos na Darly Santos. Estamos criando alternativas de transporte para reduzir o trânsito.
Como o senhor avalia a segurança pública no ES?
Os dados são positivos. Reduzimos de quase 2 mil homicídios por ano para 852 em 2024. Estamos reduzindo todos os crimes, inclusive a violência contra a mulher. Em junho, passamos 32 dias sem feminicídio.
Utilizamos tecnologia, com biometria facial, reconhecimento digital e prisões de foragidos. Criamos cadastro biométrico, monitoramento, e vamos inaugurar 40 tótens de segurança em locais com mais ocorrências. Migramos para uma segurança digital.
Queremos colocar o ES entre os cinco estados mais seguros do país.
O que é o programa Cidade Inteligente?
Começamos por Venda Nova do Imigrante. É uma PPP estruturada pelo Bandes. Uma cidade inteligente é equipada com energia renovável, fibra óptica, câmeras de videomonitoramento e Wi-Fi gratuito. Trocamos todas as lâmpadas por LED, o que economiza e ilumina melhor.
O programa vai se expandir para Afonso Cláudio, Vargem Alta e Alegre. Temos mais 20 cidades elaborando projetos. É uma modernização que melhora o serviço público e a segurança.
Como o turismo pode ajudar o ES na transição da reforma tributária até 2032?
Temos dois pilares: logística e turismo. O turismo é forma de ampliar o consumo interno. Quem vem ao ES se encanta. Estamos crescendo mais do que a média nacional no turismo. Aeroporto e rodoviária com aumento de movimentação.
O Estado tem hoje imagem positiva, capixabas têm orgulho. Para atrair turistas, é preciso ter a casa arrumada. Estamos investindo em comunicação dirigida, em redes sociais e programas especializados. O setor empresarial também tem papel, com operadores e agentes de viagem nos promovendo como destino.
E como é esse lado “influencer” do governador?
O mundo exige comunicação direta. Sempre fiz café da manhã, hoje apenas compartilho. Sempre corri, agora mostro.
Rede social não é personagem. Faço tudo de forma natural. A leveza ajuda na conexão com as pessoas.
Como é ser governador e avô ao mesmo tempo?
As duas coisas são boas. Os netos são um presente de Deus. Quando posso, tento encontrar, abraçar, beijar. Eles trazem leveza.
Estamos em ano pré-eleitoral. Qual seu papel na sucessão estadual?
O governo está bem avaliado. Temos nomes fortes como Ricardo Ferraço, Arnaldinho Borgo, Da Vitória, Euclério, Sérgio Vidigal e Gilson Daniel.
Ricardo tem preferência pela posição que ocupa. Mas todos são competitivos. Faço minha parte, mas entrego na mão de Deus. Quero entregar um bom estado em 2026.
O senhor será candidato ao Senado?
Vou decidir apenas em março do ano que vem. Posso ficar no governo até o fim, já sou realizado. No entanto posso ser candidato ao Senado se tudo estiver organizado.
Como o senhor vê a postura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini?
Não sei se ele será candidato. Tenho uma relação institucional com o Pazolini. Ele decidiu se afastar, fazer críticas. Eu não tenho nada contra. O que puder fazer de parceria, farei. Não trabalho com agressão na política. É meu jeito. Se ele quiser ser adversário, é uma decisão dele.
Veja a entrevista ao Jornal da TV Vitória: