Idoso que começou a competir aos 57 anos tem sonho de correr na São Silvestre

Floriano - Foto - Ed Santos - Acorda Cidade -- corredor - atleta
Floriano das Virgens | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O quilombola Floriano das Virgens Santos é a prova viva de que nunca é tarde para correr atrás dos sonhos. Morador do povoado de Tanquinho, em Feira de Santana, ele começou a competir aos 57 anos e, desde então, já participou de mais de 40 provas oficiais, como a Vumbora, Corrida da Quixabeira, Polícia Civil, Rondesp, Record, Corpo de Bombeiros, PM, TV Subaé, entre muitas outras.

Hoje, aos 65 anos, mantém uma rotina intensa de treinos e já tem a próxima corrida marcada: no dia 2 de agosto, participará de uma prova em João Pessoa (PB). Em setembro, estará presente também na Corrida da Farmácia Brito, em Feira de Santana.

Floriano, que também é músico, ainda jovem, deixou sua terra para buscar oportunidades e, por acaso, acabou em Bonito de Utinga, onde trabalhou por anos na lavoura. Depois voltou para Feira de Santana, e posteriormente se mudou para Salvador, onde trabalhou em várias funções inclusive como guardador de carros. E contou ao Acorda Cidade que o gosto pela corrida nasceu ainda na infância.

Floriano - Foto - Ed Santos - Acorda Cidade --
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“O amor pela corrida vem de pequeno. Eu dizia que corria pra não apanhar. Quando o velho queria me bater, eu saía correndo. Tudo que mandavam fazer, eu fazia correndo. E assim foi. Quando morei em Salvador, trabalhava com estacionamento e tinha que correr para ganhar o dinheiro. Quando eu via aquelas pessoas passando correndo na rua, eu pensava: ‘meu Deus, um dia eu vou correr também’”.

Foi em Salvador que ele conheceu a sua esposa Rosanita ou Dona Tita como é conhecida, ela tem sido sua fiel companheira e parceira em todos os momentos tanto nas corridas quanto na música. Depois dos 59 anos, seu Floriano passou a integrar o grupo “Samba de Quilombo”, em 2018, no povoado onde vive, participando de apresentações como back vocal e tocando instrumentos de efeito ao lado da sua irmã, dona Amália.

Primeira inscrição em uma corrida

Medalhas de Floriano das Virgens | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Sem acesso fácil à tecnologia, sua primeira inscrição foi um desafio à parte.

“A primeira corrida que fiz foi a ‘Vumbora ou Vamos Embora’, na Avenida Nóide Cerqueira. Era tudo pela internet, e eu não entendia nada. Pedia ajuda aos outros pra conseguir me inscrever. Mas fui, e desde essa aí, nunca mais parei.”

Atualmente, Floriano treina todos os dias, acordando às 4h da manhã para correr de 5 a 6 quilômetros. Já chegou a correr 10 km em 68 minutos.

Mesmo aposentado, mantém uma rotina ativa cuidando do quintal, produzindo adubo orgânico e plantando mudas. Seu preparo físico também inclui uma alimentação simples, com direito a ovo cozido, mingau de alho, aveia e muito feijão com calabresa, tudo sem abrir mão do peso.

“Eu levanto cedo, tomo um copo d’água, um ovo cozido ou uma gemada, um mingau de alho e um copo de aveia. Levo meio litro d’água na corrida. Quando chego, minha mulher bota um prato de feijão com calabresa e carne do sertão. O pessoal pergunta se isso não engorda, mas eu digo que não, meu peso é 55 quilos, certinho!”

Superação

corredor - atleta Floriano das Virgens | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Floriano das Virgens | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A ida para a Paraíba representa mais do que uma corrida, para Floriano é superação. Há dois meses, o idoso enfrentou um grave problema de saúde, ficou internado por dias e chegou a perder parte dos movimentos das pernas.

“Achei que estava tudo acabado. Fiquei 11 dias numa cadeira, depois fui pro isolamento… O Acorda Cidade também me ajudou muito na época. E hoje, cada vez que corro, sinto vontade de viver. Fiz uma corrida agora, no Portal do Sertão, corri 5 km, isso me deu força de novo. O esporte me salvou da depressão”, contou.

Mesmo com idade avançada e sem patrocínio, Floriano segue participando das provas com recursos próprios e não desanima.

“Paguei R$ 75,85 pela inscrição da corrida de João Pessoa. A passagem foi R$ 1.300, pra mim e minha bonitona, minha esposa. A gente vai dia 30 e minha expectativa é competir”, desejou.

Ao Acorda Cidade, seu Floriano mostrou que a corrida é muito mais que uma atividade física.

“Quanto mais eu corro, mais eu sinto vontade de viver. Me sinto bem. Ali na largada, na chegada, convivendo com pessoas boas, tudo me faz bem. E eu incentivo muito os jovens aqui da comunidade. Dou conselho pra muitos, nenhum pratica o esporte, mas eu sempre digo: ‘vai correr, vai caminhar, isso muda tudo’. Dou conselhos para os jovens aqui. Nenhum deles corre, mas eu incentivo. Quando a gente se dedica ao esporte, esquece de tudo, até da tristeza”, observou.

Mesmo diante de preconceitos, piadas ou comentários maldosos, o atleta segue firme, com fé e o apoio de alguns moradores da comunidade.

“Teve gente que ria, dizia: ‘vai correr da polícia, é?’. Mas eu não ligava. Quando a gente tem Deus na frente, nada nos atinge. Hoje tem muita gente que me apoia. Isso me alegra demais.”

O aposentado contou ao Acorda Cidade que ainda tem o sonho de participar da Corrida Internacional de São Silvestre, realizada anualmente na cidade de São Paulo, e neste ano terá sua centésima edição. “Sei que é difícil, mas para Deus nada é impossível”.

Quem quiser ajudar Floriano com qualquer apoio ou patrocínio pode entrar em contato pelo telefone (75) 99137-3055.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade e do professor, cantor e compositor Phil Bala.

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