
*Artigo escrito por Frederico Jacob, doutor em Ecologia de Ecossistemas e professor do curso de Medicina Veterinária da Faesa; e por Lucimauro Palles da Silva, neuropsicólogo e professor do curso de Psicologia da Faesa.
Você já reparou como a presença de um animal pode transformar o ambiente? Basta um cachorro abanando o rabo ou um gato se aconchegando no colo para o clima mudar.
O que parece apenas um gesto de carinho, na verdade, pode ser uma poderosa ferramenta terapêutica. E é sobre isso que eu quero falar: o uso dos animais em terapias, a chamada pet terapia.
A pet terapia – ou terapia assistida por animais – está presente em hospitais, clínicas, escolas, instituições de acolhimento e até presídios. Em todos esses espaços, animais treinados participam de sessões terapêuticas com o objetivo de levar conforto, reduzir o estresse e estimular aspectos emocionais e físicos dos pacientes. E funciona.
Crianças com autismo, por exemplo, costumam se beneficiar muito com a presença de animais. A interação com um cão treinado pode ajudar no desenvolvimento da linguagem, no controle da ansiedade e até na socialização. Em muitos casos, o cão se torna uma ponte entre a criança e o mundo. Não substitui o tratamento médico, mas complementa de maneira poderosa.
Outro avanço incrível são os cães treinados para detectar crises de hipoglicemia e de epilepsia. Sim, eles conseguem perceber alterações sutis no cheiro do corpo da pessoa, muito antes que os aparelhos ou mesmo a pessoa perceba que algo está errado. É um instinto natural que, aliado ao treinamento, salva vidas.
Em países como os Estados Unidos e o Canadá, esse tipo de cão já é bastante comum. No Brasil, existem iniciativas em São Paulo, Minas Gerais e também aqui no Espírito Santo, onde profissionais e voluntários se dedicam a treinar esses animais com seriedade e amor.

Em hospitais, cães e gatos ajudam a reduzir a dor e a ansiedade de pacientes em tratamento de câncer, crianças internadas por longos períodos e idosos em casas de repouso.
Em ambientes escolares, ajudam alunos com dificuldades emocionais ou comportamentais a se sentirem mais seguros e motivados.
Já em presídios, a presença dos animais tem mostrado impacto positivo no comportamento e na autoestima dos detentos. É como se os animais, com seu olhar sincero e desarmado, nos lembrassem da nossa humanidade.
E sabe o que tudo isso tem em comum? Afeto. Vivemos tempos duros, de pressa, cobranças e excesso de telas. A pet terapia é um respiro. Um espaço onde o toque, o carinho e a escuta silenciosa voltam a ter valor. Ela nos reconecta com algo essencial: a capacidade de sentir e cuidar.

Infelizmente, ainda há preconceito e desconhecimento sobre a pet terapia. Muitos veem como “mimo” ou acham que se trata apenas de entretenimento. Não é. É um recurso terapêutico sério, que tem ajudado a reduzir o uso de medicamentos, diminuir a solidão e estimular a recuperação de pacientes com diferentes diagnósticos.
Por isso, acredito que precisamos falar mais sobre isso, valorizar e estimular iniciativas que promovam esse tipo de intervenção. Hospitais, escolas, clínicas e até ambientes corporativos podem se beneficiar da presença de animais treinados para esse fim. E mais: investir em pet terapia também é reconhecer o valor dos vínculos afetivos na nossa saúde emocional.
A pet terapia também oferece importantes benefícios para pessoas que vivem sozinhas, ao favorecer a socialização e reduzir a sensação de isolamento.
Os animais têm muito a nos ensinar — sobre paciência, presença e a escuta silenciosa que acolhe sem cobrar. Eles não julgam, não apressam, não exigem explicações. Simplesmente estão ali, oferecendo o que têm de mais genuíno: companhia, afeto e, surpreendentemente, cura.