Papo na Laje debate o papel do Núcleo Piratininga de Comunicação na formação de comunicadores populares

O episódio desta semana do Papo na Laje, programa do Brasil de Fato, aborda a formação de comunicadores populares a partir das trajetórias da professora Inessa Lopes e do médico Breno Rocha. Conduzido pela apresentadora Dani Câmara, o encontro foi marcado por relatos pessoais e reflexões sobre a importância de iniciativas que fortalecem a comunicação popular nas favelas, comunidades e movimentos sociais. 

No episódio, Inessa, professora e integrante do Movimento das Comunidades Populares (MCP), e Breno, médico e comunicador popular, compartilham como suas vidas se cruzaram com o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). Ambos destacam a força transformadora dos cursos promovidos pelo NPC, que não apenas ensinam técnicas de jornalismo e comunicação popular, mas estimulam reflexões profundas sobre linguagem, acessibilidade e compromisso social. 

“Não é só comunicar por comunicar. É comunicar para mobilizar, para organizar, para transformar”, explicou Inessa, que ajuda a construir desde 2009 o jornal Voz das Comunidades, publicação impressa do movimento que participa. Para ela, o grande diferencial do Núcleo é tratar a comunicação como instrumento de luta e resistência, apostando em uma linguagem simples, direta e próxima da realidade de quem lê. 

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Breno contou que, apesar de ser da área da saúde e não ter formação prévia em comunicação, encontrou no curso do NPC um espaço acolhedor, rico em trocas e debates. Ele lembrou que, muitas vezes, mesmo quem cria jornais comunitários acaba reproduzindo vícios da mídia hegemônica, por não conhecer outras formas de fazer comunicação.

“O curso ajuda a quebrar essa ilusão de neutralidade. Toda comunicação tem lado, tem intenção. A comunicação popular escolhe ficar ao lado da comunidade”, disse. 

Além de técnicas, o curso também valoriza experiências práticas. As turmas visitam ocupações, veículos comunitários e sindicatos, escrevem matérias e produzem um jornal coletivo ao final do processo. O resultado é uma rede de comunicadores populares mais articulada, crítica e preparada para enfrentar o desafio de democratizar a informação. 

O episódio também discute as dificuldades de manter jornais e projetos de comunicação autônomos financeiramente, a necessidade de falar com públicos mais amplos e a importância de não reproduzir padrões da imprensa tradicional, buscando sempre uma linguagem simples e próxima da realidade do público. 

O trabalho do NPC e sua importância 

O NPC realiza dois cursos principais: um intensivo anual, que reúne pessoas de várias partes do país por uma semana; e uma formação mais longa, voltada para quem já atua em comunidades, sindicatos ou movimentos. Os conteúdos abordam desde técnicas de redação, escolha de pautas e diagramação até reflexões políticas sobre mídia, linguagem e disputa de narrativas.

Ao longo dos anos, o núcleo também publicou cartilhas, livros e materiais didáticos, e já contribuiu para a formação de mais de 10 mil comunicadores populares em todo o país. 

A iniciativa partiu de Vito Giannotti, jornalista e militante nascido na Itália e radicado no Brasil, que dedicou sua vida a criar instrumentos de comunicação acessíveis para os trabalhadores, sendo autor de diversas cartilhas e livros voltados à imprensa sindical. Sua proposta central era transformar a comunicação em ferramenta de luta política e organização popular.  

Após a morte de Vito, em 2015, o Núcleo passou a ser conduzido por sua companheira, a jornalista Claudia Santiago, que dá continuidade ao trabalho iniciado ao lado do militante. Ao longo dos anos, o NPC reuniu jornalistas, educadores, ilustradores, fotógrafos e comunicadores populares, formando uma rede nacional comprometida com a democratização da informação e com o fortalecimento das lutas sociais. 

Vito Giannotti, fundador do Núcleo Piratininga de Comunicação
Vito Giannotti também foi um dos fundadores do Brasil de Fato, cujo conselho editorial ele integrou até sua morte | Reprodução

Segundo Inessa, ao formar comunicadores vindos das periferias e favelas, oferecendo formação política e técnica acessível, o NPC ocupa um espaço que poucas organizações conseguiram preencher. Para ela, a comunicação popular precisa ser pensada como uma ferramenta para construir redes de apoio e articulação entre lutas sociais diversas, como as de movimentos quilombolas, indígenas, sindicais e urbanos. 

O NPC mantém site e perfil no Instagram, onde é possível obter informações sobre o núcleo e sobre os cursos e materiais produzidos.  

Comunicar para transformar 

Durante a conversa, Inessa e Breno também falaram sobre seus sonhos de um futuro onde a comunicação popular ajude a construir um mundo mais justo, onde todas as pessoas tenham voz e consigam alcançar os mesmos direitos.

“Meu sonho é uma alternativa ao modelo que está aí, que está destruindo gente e natureza. A gente precisa se humanizar para construir esse outro mundo”, resumiu Inessa. Breno disse sonhar com uma sociedade onde “todas as pessoas tenham os mesmos direitos e as mesmas possibilidades de vida”. 

Papo na Laje 

O Papo na Laje é uma produção do jornal Brasil de Fato que, semanalmente, valoriza o protagonismo da juventude nas favelas e periferias do Rio de Janeiro. Gravado sempre em diferentes pontos do estado, o programa constrói pontes entre vivências diversas e temas que dialogam diretamente com o cotidiano e os sonhos da juventude. 

Nesta quarta temporada, o programa conta com a parceria da Incubadora de Inovação Social em Cultura de Maricá, uma ação desenvolvida pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIM) junto à Secretaria Municipal de Cultura e ao Instituto Brasil Social (IBS). 
 
Para quem quer conhecer histórias reais de quem transforma palavras em mobilização, vale assistir ao episódio completo no canal do Papo na Laje no YouTube. Como lembraram os convidados, mais do que aprender a escrever, comunicar é um ato de esperança e luta coletiva. 

Assista

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