
O céu norte-americano guardava um segredo impressionante. Em outubro de 2017, enquanto as pessoas seguiam suas rotinas no solo, um evento de força colossal acontecia nas alturas, completamente invisível a olho nu. Foi necessário o olhar aguçado de olhos no espaço – os satélites meteorológicos de última geração – para revelar um verdadeiro colosso atmosférico: o raio mais longo já documentado na história do nosso planeta.
Este não foi um relâmpago comum, daqueles que iluminam o céu por uma fração de segundo. Foi um “mega-relâmpago”, um fenômeno raro e poderoso. Ele se estendeu por uma distância quase inimaginável: 829 quilômetros.
Para colocar isso em perspectiva, pense em cruzar o estado do Texas de norte a sul, ou percorrer a distância entre São Paulo e Belo Horizonte… com folga! É mais do que a largura da França. Essa faísca gigantesca viajou silenciosamente pelos céus, ligando pontos desde o Texas até Kansas City.
The WMO has established a new world record for the longest lightning flash – an incredible 829 km (515 miles) in a notorious storm hotspot in the United States of America. Details: https://t.co/Wxw5ykNW39 pic.twitter.com/lwGQ34TqMH
— World Meteorological Organization (@WMO) July 31, 2025
A descoberta desse gigante só foi possível graças a uma revolução na observação meteorológica. Os satélites GOES-16, lançados pela NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA), são equipados com sensores avançadíssimos. Esses “detetives espaciais” conseguem rastrear descargas elétricas com uma precisão nunca antes vista, cobrindo áreas continentais inteiras.
Foi essa tecnologia que capturou o mega-relâmpago de 2017. Curiosamente, ele só foi identificado como recordista anos depois, quando cientistas reexaminaram dados antigos com novas ferramentas analíticas, superando o recorde anterior de 768 km. A margem de erro? Apenas 8 km, confirmando seu título com sólida precisão científica. O feito foi oficializado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).
World’s Longest Lightning Strike Crossed 515 Miles: A bolt of lightning that arced across the sky from Texas to Kansas in the fall of 2017 officially broke the Guinness record for the longest. During a big rainstorm in October 2017, a massive bolt of jagged electricity stretched… pic.twitter.com/0yhEhPVv36
— Orin Ulysses Rascal (@ourascal) July 31, 2025
Mas o que torna um raio capaz de percorrer quase 830 quilômetros? A resposta está na “máquina” que o gerou. Esse mega-relâmpago não veio de uma tempestade qualquer. Ele foi produzido por um imenso Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM). Imagine não uma única nuvem de tempestade, mas um complexo gigantesco de tempestades, funcionando como uma verdadeira fábrica de condições climáticas extremas.
Esses sistemas podem persistir por muitas horas e cobrir vastas áreas, criando o ambiente perfeito para que descargas elétricas se propaguem horizontalmente por centenas de quilômetros dentro das nuvens, muito além do que ocorre num raio típico nuvem-solo.
A confirmação desse recorde não é apenas uma curiosidade científica. Ele muda nossa compreensão do que é possível na atmosfera. Especialistas da OMM e meteorologistas ao redor do mundo agora suspeitam que fenômenos ainda mais extensos possam ter ocorrido no passado, simplesmente passando despercebidos pela falta da tecnologia adequada para detectá-los.
WMO has verified 2 new world records for a
lightning #megaflash
Longest distance single flash of 768 km (477.2 miles) across southern #USA – 60 kilometres MORE than old record
Greatest duration of 17.102 seconds over #Uruguay and northern #Argentina https://t.co/6AzyzTgMIO pic.twitter.com/VqUgxEDHB2— World Meteorological Organization (@WMO) February 1, 2022
Esse conhecimento é vital. Fenômenos dessa magnitude representam riscos significativos, embora invisíveis no momento. Um raio horizontal tão longo pode representar um perigo inesperado para aviões que cruzam rotas distantes de tempestades visíveis, ou mesmo para pessoas em áreas onde o céu parece relativamente calmo, mas que estão conectadas eletricamente a uma tempestade distante por esse “fio” atmosférico gigante.
A história desse raio recordista também reforça um alerta crucial sobre os perigos conhecidos dos relâmpagos. Embora esse mega-relâmpago específico não tenha causado danos reportados, os raios continuam sendo uma força letal da natureza. Eles são responsáveis por centenas de mortes humanas anualmente, além de causarem incêndios florestais devastadores e danos extensivos a redes elétricas e equipamentos eletrônicos.
A OMM já documentou outros eventos extremos, como o raio mais duradouro (17,1 segundos registrados sobre Uruguai e Argentina) e tragédias históricas, como o raio que em 1994 atingiu um tanque de combustível no Egito, causando um incêndio que resultou em 469 mortes.
Por isso, a regra de ouro permanece inalterada: ao primeiro sinal de atividade elétrica no céu (trovões, mesmo distantes), buscar abrigo imediato em um local fechado e seguro é a única medida efetiva de proteção. O raio mais longo do mundo é um testemunho do poder oculto da atmosfera e da importância da vigilância constante, tanto pelos satélites no espaço quanto por cada um de nós em terra.
Esse O raio mais longo do mundo percorreu 829 km e ficou invisível por anos: assim foi descoberto o megaflash que reescreve a história do clima foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.