Orlando Caliman: alívio para o Espírito Santo com as exceções do Tarifaço

Penedo de Porto de Vitória e Curva do Saldanha
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória

É provável que o Espírito Santo tenha sido um dos estados mais beneficiados com as exceções ao tarifaço anunciadas por Trump – quem aponta isso é o diretor econômico da Futura, Orlando Caliman. Segundo ele, a exposição do Espírito Santo ao mercado americano de 28,6% (que representa o percentual das exportações destinadas para lá no total exportado – US$ 3,1 bilhões de US$ 10,7 bilhões), registrada em 2024, pode chegar, agora, a apenas 2,5%, caso aço e derivados e pedras de cantaria fiquem totalmente fora do adicional; e a 5% caso apenas parcela de pedras fique de fora. Confira a análise completa.

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* Por Orlando Caliman

Usando os dados de 2024 para simulações, numa primeira abordagem, sem ainda detalhes de verificação dos códigos, apenas 2,5% do total das exportações e 9% do total exportado para os EUA estariam ainda sujeitos à tarifa adicional de 40%, que adicionada a já em vigor atingiria 50%. Traduzindo em números, teríamos US$ 271 milhões ainda em exposição de um total de US$ 3,1 bilhões. Ou seja, cerca de US$ 2,8 bilhões sairiam da tarifa adicional.

A explicação para esse alívio maior para o Espírito Santo está na característica da sua pauta de exportação para os EUA, formada majoritariamente por insumos industriais – entram nessa categoria pelotas de minério de ferro, aço e derivados, celulose e petróleo. Vale lembrar que o Aço já vinha sendo tributado em 50%.

A exposição ao mercado americano sob o tarifaço se resumiria agora ao agronegócio, à exceção da celulose. Estariam incluídos o café verde, café solúvel, pimenta-do-reino, gengibre, mamão e pescado, grupo que exportou para os EUA US$ 230 milhões (R$ 1,3 bilhões) em 2024.

Desse conjunto, sem dúvida, o gengibre estaria em situação mais problemática. No primeiro semestre de 2025, 42% das exportações foram destinadas aos EUA. Mas a particularidade do setor está no potencial de impactos que uma queda nas exportações e, consequentemente, na produção provocaria – principalmente por tratar-se de produto que é produzido por pequenos produtores.

No caso do café, o potencial impacto não seria significativo. Primeiro porque a exposição do café verde aos EUA é diminuta (7,2%) e dispõe de razoável leque de outros destinos. Segundo, referindo-me especificamente ao solúvel, embora com exposição que chega em 2025 a 40%, pode valer-se de estratégias de reposicionamento no mercado global.

Restam mamão, pimenta-do-reino e pescado. No caso do mamão, a exposição aos EUA é de 10%. Não chega a ser significativo, mas a expectativa, como em relação aos demais produtos do agro, possam ser reavaliados. A pimenta-do-reino, que envia para os EUA apenas 1,0% das exportações tem no Vietnã o seu maior mercado, cerca de 30%, mas com boa dessa parcela sendo destinada ao EUA.

Mas, o importante é que o evento, que se mostrava desastroso e agora mais ameno, nos sirva de alerta e ao mesmo tempo de lição. Primeiro no sentido de estarmos sempre atentos a eventos extremos e dentre estes os originados nos mercados.

Segundo, atentarmos para potenciais problemas que podem advir de concentrações em poucos mercados. Ou seja, reduzir exposições a potenciais riscos. O que pode ser vantajoso em determinadas circunstâncias ou contextos pode mostrar-se fatal ou quase fatal em outras. Diversificar mercados é sempre recomendável. Que fiquem as lições.

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