
Um plano para o futuro do Espírito Santo. O ES 500 Anos aponta caminhos em eixos como Economia Diversificada, Inovadora e Sustentável; Polo de Competências; Cuidado Integral; Sustentabilidade e Resiliência Climática; e Espírito Santo Ágil e Inteligente. O documento, entregue no início de julho, foi criado com a participação de setor produtivo, governos, academia e sociedade civil. Nesse sentido, tudo isso capitaneado pelo Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação.
Formado por líderes dos principais segmentos da nossa economia, o movimento surgiu quando o Espírito Santo vivia um de seus piores momentos. Sofria com ações do crime organizado, tinha gestão pública temerária bem como era refém de episódios de corrupção. Além disso, a gestão do governo à época deixou o Espírito Santo atolado em dívidas e praticamente quebrado. Hoje, mais de duas décadas depois, o Espírito Santo em Ação muda de cenário e está à frente de um projeto pioneiro no Brasil.
Com a missão de operacionalizar e começar a colocar em prática o Plano ES 500 anos, está o novo presidente do ES em Ação, Fernando Saliba. O engenheiro eletricista foi diretor da EDP, quando ainda era Excelsa. Seguiu na empresa onde está até hoje cuidando das relações institucionais. Do mesmo modo, ele assume a presidência do movimento empresarial no lugar do Nailson Dalla Bernardina.
Veja abaixo a entrevista de Fernando Saliba:
Por onde o Estado deve começar em relação ao Plano ES 500 Anos?
Eu acho que a gente precisa ter uma visão histórica. Em 2006, nós fizemos o plano estratégico 20-25. Naquele momento, o foco era equilíbrio fiscal, educação integral. Depois, já na revisão seguinte, com o horizonte em 2030, o foco era mais na parte de inovação. E agora, com foco em 2035, ele abre um espectro muito mais amplo, desde a parte social, de desenvolvimento até a formação de mão de obra.
A gente vive hoje, no Estado e no Brasil como um todo, o que a gente pode chamar de apagão de mão de obra. E, ao mesmo tempo, as empresas têm oportunidades muito ricas para que possam empregar novos colaboradores. Estamos focados, dentro do plano, em formar e fazer o encontro entre as necessidades das empresas e a formação técnica para que esses colaboradores possam ingressar e ter uma qualidade de vida melhor.
Ou seja, eu acho que, ao final, trata-se de como fazer com que o cidadão tenha uma qualidade de vida melhor.
Vamos falar dos eixos principais do ES 500 Anos. Em quais estamos mais adiantados e precisamos de mais atenção?
Eu acho que, quando a gente fala na parte de educação, já evoluímos muito. Porém a gente tem muito para evoluir. Eu acho que esse é um eixo em que a gente tem que colocar muitas fichas ainda para avançar mais.
Nós já estamos trabalhando com essa visão da escola integral e a gente quer ainda avançar muito mais. Temos oportunidades para avançar. E outra área é a educação profissional, exatamente para preparar mão de obra para o mercado de trabalho.
Como você vê o ambiente de negócios no ES?
Eu acho que esse é o grande diferencial que nós temos no Brasil. Eu até costumo dizer: acho que está na hora de ter o movimento “Brasil em Ação”. Porque, se a gente olhar o que a gente tinha há 20 anos e o que a gente tem hoje, a relação público-privada mudou.
Atualmente tem diálogo e capacidade de colaborar um com o outro, sempre respeitando responsabilidades e nem sempre com consenso. O dissenso, às vezes, constrói oportunidades melhores. Então, eu vejo esse ambiente de negócio como um ambiente ético, em que as empresas conseguem se instalar, se desenvolver.
Como se chegou a essa segurança jurídica que hoje é tão citada como trunfo do ES?
Eu penso que a construção passa pelo reforço e valorização das entidades. Executivo, Legislativo e Judiciário cada um com seu papel de independência. Porém em colaboração, assim como com Ministério Público, entidades privadas, federações do Comércio, da Indústria, da Agricultura e do Transporte.
O Espírito Santo em Ação e entidades como a Transparência Capixaba tiveram um papel fundamental. Igrejas também contribuíram naquele momento para que a gente tivesse hoje um ambiente de negócio diferente do restante do país. As empresas que chegam ao Estado sempre destacam isso. O equilíbrio fiscal do governo também é fundamental para que a gente possa ter esse ambiente de negócio.
Qual é o maior desafio para o ES hoje?
Eu vejo como oportunidade que a gente tem de fazer integração logística. O Espírito Santo tem uma vocação exportadora e de ser a porta de entrada e saída do Brasil. Tanto do ponto de vista de bens, mas também turístico.
Com melhorias na parte de infraestrutura, podemos receber navios de turismo e avançar nesse tema. Especialmente na parte de exportação de matéria-prima e de produtos manufaturados.
O Espírito Santo tem hoje um volume de portos, de rodovias que estão em fase de ampliação e também ferrovias que estão em construção ou em debate para fazer a integração desde o Centro-Oeste até aqui.
O que falta para o Estado subir esse degrau da integração logística?
O setor empresarial já tem feito projetos, inclusive nessa parte das ferrovias. O próprio Espírito Santo em Ação coordenou um projeto ambiental de ferrovias para contribuir com o Estado. E essa discussão dentro do plano ES 500 Anos, exatamente através da frente de infraestrutura, que vai fazer essas conexões que nós precisamos para os hubs de exportação.
Como está a relação institucional entre o setor empresarial e o governo? E como deve ser?
Eu acho que isso é uma conquista do povo capixaba nesses últimos anos. Essa estabilidade com uma relação aberta, baseada em diálogo. Do mesmo modo, o governo tem a sensibilidade de perceber as necessidades do setor empresarial, no sentido de facilitar a implementação e agilizar os processos. O
Espírito Santo ágil é um tema fundamental, que permite às empresas se instalarem sem perder a essência do que precisa ser gerido.
Na área ambiental, por exemplo, o processo de licenciamento deve ser rápido. Porém ao mesmo tempo deve garantir a preservação e dar ao empreendedor a responsabilidade de cumprir as exigências. A agilidade no processo é um diferencial competitivo.
O que ainda falta para termos mais agilidade?
Simplificar o processo. A gente fala muito de inovação, de tecnologia, mas tem a parte do processo em si. Precisamos rever etapas. Recentemente, tivemos mudanças na legislação ambiental e o Espírito Santo em Ação teve papel fundamental nesse processo.
A ideia é identificar os pontos e rever o processo.
Qual é o segmento econômico mais promissor do ES?
Sem dúvida, a logística continua central. No entanto, além disso, o setor de indústrias siderúrgicas tem um posicionamento forte. E a diversificação da economia é fundamental.
No passado, tivemos muita concentração em determinados segmentos. Hoje, já vemos mais diversidade de negócios, o que dá mais robustez ao Estado.
Essa diversificação pode amenizar os efeitos do tarifaço imposto pelos EUA?
Não tenho dúvida. Quanto mais diversificados estivermos, em produtos e em mercados, mais atenuamos os impactos.
Já tivemos uma concentração muito maior no mercado americano e hoje alguns segmentos vêm diminuindo essa dependência. Nesse sentido, os agentes buscam o mercado asiático, europeu. Esse trabalho de pulverização precisa ser contínuo.
O ES carece de mais força política? Como você vê esse desafio de representação institucional?
Nos projetos que temos tratado com a bancada federal, a resposta tem sido positiva. Independentemente das matrizes políticas, os temas do setor produtivo têm sido abraçados.
Externamente, entidades do Estado vêm promovendo feiras e eventos internacionais, atraindo investidores. E a “venda” do ES também precisa ser feita dentro do Brasil. Muita gente não conhece o Estado.
Precisamos intensificar campanhas e melhorar nossa infraestrutura, como o Centro de Convenções de Carapina, que será reformado. Um visitante de negócios pode se tornar um turista.
E a reforma tributária? Como o Estado e o setor produtivo estão lidando com isso?
Dentro do contexto nacional, o Espírito Santo é um dos que mais perde com a reforma tributária. Porém, o setor empresarial está se adaptando e se antecipando. Os segmentos, especialmente os de serviços, estão se preparando. O turismo é uma das alternativas para compensar as perdas.
E por que o turismo ainda não decola como poderia no ES?
Agora temos uma super oportunidade e uma super necessidade. O turismo pode ser decisivo para o desenvolvimento. Mas precisamos qualificar a mão de obra, melhorar o entendimento do papel do turista, oferecer turismo continuado, não só pontual.
Precisamos de melhor infraestrutura – restaurantes, hotéis, atendimento. O Plano ES 500 Anos é uma oportunidade para discutir e construir esse novo modelo de turismo receptivo.
E onde o Estado pode chegar com o Plano ES 500 Anos?
O Espírito Santo nunca vai ser o maior Estado, mas pode ser o melhor. Esse é o diferencial. O plano não é de governo, é de Estado. Estamos falando de um planejamento de longo prazo, que transcende gestões.
Cada governo tem sua visão, mas os eixos principais precisam ser mantidos. O ES 500 Anos oferece essa rota clara.
Qual o papel do ES em Ação nesse processo?
É garantir que, independentemente das mudanças de governo, o movimento continue. O plano foi construído pela sociedade capixaba e é um documento de Estado.
Nosso papel é assegurar que as estratégias previstas e os avanços conquistados se perpetuem.
Seu mandato à frente do ES em Ação é de três anos. Qual será a marca dessa gestão?
Queremos fortalecer conexões e contribuir para mais qualidade de vida, com mais emprego e renda. A capacitação de mão de obra será um foco intenso. Trabalhamos também com transparência.
Fui diretor de gestão pública e, com a Transparência Capixaba, conseguimos ampliar o número de municípios com nota ótima. De 11, em 2022, para 34, no último ano. Do mesmo modo, nosso objetivo é levar isso aos 78 municípios.
Na prática, como a transparência impacta o desenvolvimento e os negócios?
Transparência é permitir que o cidadão tenha acesso às informações – saber onde tem vaga em escola, onde tem remédio na farmácia, acompanhar licitações, obras.
Não é uma questão pessoal, mas institucional, de controle social. É gestão feita com a participação do cidadão.
E você, pessoalmente, onde quer estar ao final desses três anos?
Quero poder olhar para trás e dizer que deixamos um legado. Que as futuras gerações viverão melhor por causa do que fizemos hoje.
É uma missão institucional. Já temos estados nos procurando para estudar nosso modelo. Quero poder dizer que ajudei o Espírito Santo a estar melhor do que estava três anos antes.