Em discurso nesta terça-feira (5), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enviou uma série de recados ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros. A fala aconteceu durante a abertura da 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, apelidado de Conselhão, em Brasília (DF).
“Esse país merece respeito. E o presidente norte-americano não tinha o direito de anunciar as taxações anunciou para o Brasil. Não tinha. Poderia ter pegado o telefone, poderia ter ligado para mim, poderia ter mandado ligar para o [Geraldo] Alckmin, qualquer um. Estaríamos dispostos a conversar”, disse o presidente.
“E depois do pretexto da carta e o pretexto da taxação, não é nem política, é eleitoral”, completou, sem mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tramar um golpe de Estado no Brasil. O presidente estadunidense argumenta que Bolsonaro é vítima de uma perseguição, e esse seria o principal motivo da imposição de tarifas.
Lula discursou em frente a um grande telão onde se lia a mensagem “Brasil soberano, país sem fome”, em referência à retirada do país do Mapa da Fome, anunciada na semana passada, e que, segundo o presidente, foi ofuscada pela agressão dos Estados Unidos contra o Brasil.
O presidente disse que trata-se de um momento “delicado” em que o “multilateralismo e o livre comércio passam por um dos períodos mais críticos em décadas” e lamentou o que chamou de ação arbitrária de Donald Trump. “O dia 30 de julho de 2025 passará para a história das relações Brasil, dos Estados Unidos como um marco lastimável. Não há precedente nos mais de 200 anos de relações bilaterais de uma ação arbitrária como esta que sofremos. Nossa democracia está sendo questionada, nossa soberania está sendo atacada, nossa economia está sendo agredida”.
“Essa interferência em temas internos contou com o auxílio de verdadeiros traidores da pátria, que arquitetaram e defenderam publicamente ações contra o Brasil lá nos Estados Unidos”, seguiu o presidente, intercalando um discurso lido e uma fala de improviso. “Vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios ao da nossa nação. Proteger a nossa soberania é um objetivo que está acima de todos os partidos e de todas as tendências”, declarou.
Em tom de sarcasmo, o presidente brasileiro disse que “gostaria que o presidente Trump fizesse uma experiência com Pix nos Estados Unidos”. Da mesma forma, disse que vai ligar para o mandatário estadunidense, mas não para discutir tarifas, mas para convidá-lo a participar da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30) – marcada para novembro, em Belém (PA).
“Eu vou ligar pro Trump para convidá-lo para vir para a COP, porque eu quero saber o que ele pensa da questão climática. Vou ter a gentileza de ligar”, afirmou. “Se ele não vier é porque não quer. Mas não vai ser por falta de delicadeza, charme e democracia”, brincou.
Por outro lado, o presidente afirmou que o governo brasileiro “nunca saiu da mesa de negociação” e que o esforço de seus ministros será em mitigar os impactos do tarifaço de Donald Trump. “Vamos colocar em execução um plano de contingência para mitigar esse ataque injusto e aliviar seus prejuízos econômicos e sociais. Vamos proteger os trabalhadores e as empresas brasileiras que foram afetada”, afirmou Lula.
“Seguiremos mantendo relações econômicas, políticas e culturais com todos os outros países. Não seremos dependentes de ninguém, nem tomaremos parte em outra guerra fria”, disse o presidente.
Diplomacia do pragmatismo
O presidente deu as declarações na presença da imprensa e de cerca de 280 membros do Conselhão, reunidos no palácio do Itamaraty. Coube ao ministro das Relações Exteriores (MRE), Mauro Vieira, dar as boas-vindas aos participantes, introduzindo o tema que acabou se tornando o centro dos debates.
“Essas tarifas, contrárias aos princípios multilaterais de comércio, ameaçam lançar a economia mundial em uma espiral de inflação”, disse Vieira. O chanceler defendeu “negociações pragmáticas” e ressaltou que as negociações da diplomacia brasileira foram fundamentais para a exclusão de quase 700 produtos da ordem executiva que instituiu as novas tarifas aos produtos brasileiros.
“Estamos abertos a discutir as relações comerciais. A integridade das instituições constituídas, a democracia e soberania brasileira não são negociáveis”, afirmou Vieira, repetindo em público as palavras que teriam sido ditas ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, com quem se reuniu na última semana. Vieira informou que a diplomacia brasileira prepara uma resposta à investigação aberta pelo governo dos EUA ao sistema de pagamentos Pix, que deve ser enviada até o dia 18 de agosto.
Críticas ao tarifaço de Donald Trump e à família Bolsonaro, por incentivar os ataques à soberania brasileira, também marcaram as falas de outros ministros, como a titular da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e do chefe da Fazenda, Fernando Haddad.
“Uma democracia não pode se submeter aos desígnios pessoais e ilegais de quem quer que seja. Um país soberano não pode se render ao arbítrio do estrangeiro, diante da nacionalidade. A defesa da soberania nacional e da democracia caminham juntas, portanto, nesse momento histórico”, disse Gleisi.
O Conselhão é um órgão de assessoramento imediato ao presidente da República, produzindo indicações normativas, propostas políticas e acordos de procedimento e está composto por integrantes do governo federal e representantes de diversos setores da sociedade civil, entre os quais, empresários e representantes de movimentos sociais, indicados pelo chefe do Executivo.
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