Testar para escolher: o valor da experimentação nas decisões de carreira

A vivência profissional no ensino médio pode ajudar jovens a fazer escolhas de carreira mais conscientes e alinhadas com seus valores. Foto: Canva

Lembro-me claramente da primeira vez em que precisei tomar uma decisão concreta com impacto relevante na construção da minha carreira. Após concluir o curso de Eletrotécnica na Escola Técnica, tudo indicava que eu seguiria para a engenharia.

No entanto, ao iniciar o estágio obrigatório na antiga Escelsa – empresa onde meu pai trabalhava há mais de 20 anos – também comecei a dar aulas de inglês. A ideia era apenas ocupar o tempo e manter a fluência após concluir um curso de nove anos.

Leia também: A cegueira legislativa: retrocesso, censura e apagamento da diversidade na educação capixaba

O dinamismo da sala de aula, a interação com os alunos, a realização de colaborar com a aprendizagem do outro — em contraste com as tardes intermináveis dentro de um escritório — me fizeram escolher a estrada que trilhei desde então: a estrada da educação.

O que foi fundamental para mim naquele momento? A experimentação — em dois ambientes, no meu caso. O estágio, por exigência curricular. As primeiras experiências como professor, por iniciativa própria.

Outros colegas meus — especialmente os que estudavam em instituições privadas — não tiveram a chance de experimentar o mercado de trabalho durante o período de escolha do curso universitário. Tiveram que fazer seus ajustes mais tarde.

Não considero isso necessariamente um problema, já que sou da teoria de que todas as experiências de vida colaboram na construção de nosso ser, independentemente do contexto em que estejamos inseridos.

Ainda assim, acredito que a escola tem papel fundamental em oferecer ferramentas que auxiliem os alunos em suas auto-descobertas e tomadas de decisão relacionadas às escolhas de carreira. E a experimentação é uma dessas ferramentas.

Ao longo da minha trajetória como educador internacional, atuei com frequência na orientação de alunos para processos seletivos no exterior. Um componente extracurricular valorizado por essas universidades — especialmente as de ponta — é a vivência prática em ambientes profissionais.

Aprendi que uma experiência concreta na área de interesse pode ser decisiva na seleção de um candidato.

Mas isso, para mim, ainda era pouco. Se considerarmos o universo dos alunos do Ensino Médio, nada mais justo do que oferecer a todos a oportunidade de experimentar profissões — no Brasil, no exterior ou em ambos os contextos.

Foi com essa convicção e em parceria com o HUGB — empresa do Grupo Buaiz voltada à inovação e irmã da Escola Americana de Vitória — que abraçamos a missão de criar uma trilha de orientação de carreira para os alunos desde o início do Ensino Médio.

Um dos componentes dessa trilha é o EAV Professional Experience, uma semana de imersão supervisionada em ambientes corporativos escolhidos pelos próprios alunos, dentre empresas do Grupo Buaiz e outras parceiras da escola.

Ao final dessa imersão opcional, os estudantes apresentam projetos de intervenção com sugestões de melhoria para as instituições anfitriãs, além de refletirem coletivamente sobre as aprendizagens vividas.

Um projeto pioneiro no estado, prototipado em 2024 com seis alunos em duas instituições, e que em 2025 contou com trinta e três alunos inscritos em oito organizações — alguns deles realizando experiências em duas empresas diferentes.

Os depoimentos de alunos, famílias e empresas nos enchem de motivação para continuar oferecendo e aprimorando essa iniciativa. Muitos estudantes relatam a quebra de estereótipos sobre determinadas profissões, o quanto ampliaram seus horizontes e desenvolveram as tão valorizadas soft skills do mundo contemporâneo.

Já os pais relatam que a experiência gerou debates profundos em casa — inclusive conversas longas à mesa de jantar ao fim de um dia de “trabalho” dos filhos. As empresas, por sua vez, ressaltam ideias inovadoras vindas dos alunos (característica típica dos jovens) e as oportunidades de reflexão dos seus processos já cristalizados.

Recentemente escrevi um artigo sobre as escolhas de carreira em um mundo VUCA — de alta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Nele, mencionei estágios e imersões como formas de se preparar para navegar neste cenário. Essas ferramentas cumprem bem seu papel: o de experimentar. Ampliar horizontes é a chave.

Se, ao final, o jovem concluir que aquele ambiente não se conecta com seus desejos e valores, tudo bem. Missão cumprida. Bora explorar mais. Se confirmar que é mesmo aquilo que deseja, tudo bem também. E bora explorar mais ainda. Afinal, as mudanças são constantes. E, se costumamos experimentar um perfume na pele antes de comprá-lo, por que não experimentar uma profissão antes de escolhê-la?

Ou seriam profissões, no plural?

Aproveito o espaço para agradecer ao HUGB, Shopping Vitória, Rede Vitória de Comunicação, APEX Partners, Optsolv, Hospital Santa Rita de Cássia, ArcelorMittal, e Carolina Neves, pela colaboração em um projeto de tamanha relevância. A co-criação é parte fundamental na coevolução rumo a um novo futuro.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.