
A exploração lunar está entrando em uma nova e decisiva fase, impulsionada por uma necessidade fundamental: energia. A NASA, agência espacial dos Estados Unidos, anunciou planos acelerados para instalar um reator nuclear funcional na superfície da Lua até o ano de 2030. Este projeto é considerado essencial para viabilizar a ambição de estabelecer uma base permanente habitada por humanos em nosso satélite natural.
A decisão surge em um contexto de crescente competição global pela Lua. Relatórios indicam que o chefe interino da NASA mencionou diretamente os planos paralelos anunciados por China e Rússia, sugerindo que essas nações poderiam, potencialmente, declarar “zonas de exclusão” em áreas lunares onde estabelecessem presença. Esta observação destaca a dimensão geopolítica que a exploração lunar adquiriu.
Várias nações, incluindo além das citadas, Índia e Japão, estão intensificando missões lunares, algumas com o objetivo explícito de instalar assentamentos humanos duradouros.
No entanto, construir e manter uma presença humana contínua na Lua enfrenta um obstáculo energético colossal. O ciclo de dia e noite lunar é radicalmente diferente do terrestre. Um único dia lunar equivale a cerca de quatro semanas na Terra, dividido em aproximadamente duas semanas de luz solar constante seguidas por duas semanas de escuridão total.
Essa característica torna a dependência exclusiva da energia solar extremamente difícil. Painéis solares seriam inúteis durante o longo período noturno, e o armazenamento de energia em baterias para sustentar uma base por 14 dias consecutivos de escuridão representa um desafio tecnológico e logístico imenso, especialmente para operações que demandam muita energia, como suporte de vida, processamento de recursos e comunicação.
“Construir mesmo um habitat lunar modesto para acomodar uma pequena tripulação exigiria geração de energia na escala de megawatts. Painéis solares e baterias sozinhos não podem atender de forma confiável a essas demandas”, explica um especialista em aplicações espaciais. “A energia nuclear não é apenas desejável, é inevitável”, complementa. Muitos cientistas concordam que a fissão nuclear é a melhor, e talvez a única, maneira de fornecer energia contínua e potente na superfície lunar, independentemente das condições de iluminação.
Respondendo a essa necessidade urgente, o secretário de Transportes dos EUA, Sean Duffy, que atuava como chefe temporário da NASA, emitiu uma diretiva solicitando propostas de empresas comerciais para desenvolver um reator capaz de gerar pelo menos 100 quilowatts de energia elétrica. Embora essa potência seja considerada modesta quando comparada a turbinas eólicas terrestres, que podem gerar 2 a 3 megawatts (20 a 30 vezes mais), ela representa um passo crítico inicial para operações lunares.
A ideia de usar energia nuclear na Lua não é nova. Já em 2022, a NASA concedeu três contratos de 5 milhões de dólares cada para empresas projetarem conceitos de reatores lunares. Em maio deste ano, China e Rússia anunciaram conjuntamente seus planos para construir uma estação de energia nuclear automatizada na Lua até 2035, reforçando a corrida tecnológica.
Especialistas acreditam que a meta técnica de 2030 é possível. “Dado o comprometimento de recursos financeiros suficientes, é tecnicamente viável colocar reatores na Lua até 2030”, afirma um professor de ciências planetárias, destacando que já existem projetos para pequenos reatores. “É apenas uma questão de realizar lançamentos suficientes do programa Artemis para construir a infraestrutura necessária na Lua até lá”, acrescenta, referindo-se ao programa da NASA que visa retornar humanos ao solo lunar.
No entanto, existem desafios significativos além do desenvolvimento do reator em si. O lançamento de material radioativo através da atmosfera terrestre levanta questões de segurança inerentes. “É necessário obter uma licença especial para fazer isso, mas não é um obstáculo intransponível”, comenta um cientista planetário especializado. O gerenciamento do reator em operação a cerca de 384.000 quilômetros de distância também apresenta complexidades operacionais.
A aceleração do projeto de energia nuclear lunar ocorre paradoxalmente em um momento de incerteza orçamentária para a NASA. Recentes cortes orçamentários anunciados pela administração anterior, que poderiam atingir 24% em 2026, já impactaram programas científicos importantes, como a missão de retorno de amostras de Marte. Esta contradição levanta dúvidas sobre a viabilidade do cronograma ambicioso e alimenta preocupações na comunidade científica.
Alguns pesquisadores veem o anúncio como motivado mais por rivalidade geopolítica do que por pura necessidade científica ou de exploração. “Parece que estamos voltando aos velhos tempos da primeira corrida espacial, de competição, o que, de uma perspectiva científica, é um pouco decepcionante e preocupante”, observa um especialista. “A competição pode gerar inovação, mas se houver um foco mais estreito no interesse nacional e no estabelecimento de propriedade, pode-se perder de vista o quadro maior, que é explorar o sistema solar e além”.
Os comentários sobre “zonas de exclusão” feitos pelo chefe interino da NASA parecem fazer referência aos Acordos Artemis. Este pacto internacional, estabelecido em 2020 e já assinado por mais de 30 nações, define princípios para a cooperação na superfície lunar, incluindo o conceito de “zonas de segurança” ao redor de operações e ativos.
“Se você constrói um reator nuclear ou qualquer tipo de base na Lua, pode começar a alegar que precisa de uma zona de segurança ao redor, porque tem equipamento lá”, explica um cientista. “Para algumas pessoas, isso equivale a dizer ‘nós somos donos deste pedaço da Lua, vamos operar aqui e você não pode entrar’”.
Além disso, há o desafio fundamental de transporte. O programa Artemis da NASA enfrenta atrasos e incertezas de financiamento. A missão Artemis 3, que visa pousar humanos na Lua em 2027, está sob particular escrutínio. “Se você tem energia nuclear para uma base, mas não tem como levar pessoas e equipamentos até lá, então não adianta muito”, aponta um especialista. “Os planos não parecem muito integrados no momento”.
A instalação de um reator nuclear na Lua até 2030 é um objetivo tecnicamente desafiador, politicamente carregado e financeiramente arriscado. Representa um salto crucial para a presença humana sustentada além da Terra, mas seu caminho está repleto de obstáculos práticos e dilemas sobre a natureza futura da cooperação ou competição no espaço. A capacidade de gerar energia abundante e constante na Lua não é apenas uma questão técnica; é a chave que pode destrancar o próximo capítulo da exploração espacial humana.
Esse EUA planeja colocar um reator nuclear na Lua foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.