Casal brasileiro vende carro para acompanhar filho de 9 anos em torneio de robótica na China


Escola de robótica Cyberzukas, de Campinas, é classificada para torneio mundial na China
Uma maquete feita de robôs de Lego. Foi assim que cinco crianças da região de Campinas (SP) conquistaram uma vaga na final de uma das etapas do maior torneio de robótica do mundo, o First Lego League. Este ano, o evento tem como tema o fundo do mar e acontece em Macau, na China, a partir desta sexta (8).
Para garantir a ida das crianças, diversas foram as iniciativas de arrecadação de renda. Uma família precisou vender até um carro para custear e acompanhar o filho durante a competição.
Os alunos têm entre 8 e 10 anos e estudam na escola de robótica Cyberzukas, que dá nome à equipe. A entidade acumula mais de 70 prêmios e foi idealizada por Anderson Santos e Amanda Christovam, que nesta quinta-feira (7), desembarcam na China.
Apenas duas equipes brasileiras foram selecionadas para o torneio, que é organizado pela associação americana First, em parceira com a Lego. Além da Cyberzukas, foi escolhida uma escola de Recife. Elas competem com outras 180 equipes de diversas nacionalidades.
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As maquetes não precisam ser viáveis na vida real. A proposta do torneio é que os participantes pesquisem temas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática e usem a criatividade através da robótica, sensores e programação.

Nesta reportagem, você vai ver:
1. Do Brasil à China
2. Surpresa dos professores
3. Força-tarefa para arrecadar dinheiro
4. O amor pela robótica
5. O que dizem os alunos?
Do Brasil à China
De acordo com o diretor educacional Anderson Santos, os alunos começaram a montar a maquete robotizada no ano passado. A ideia foi criar uma solução para combater a poluição dos oceanos que funciona a partir de inteligência artificial.
O robô em miniatura, feito de lego, “recolhe o lixo, tritura e transforma isso em seu próprio combustível”, como explica Lucas, de 9 anos.
Com essa maquete, a equipe se classificou em 1º lugar para a fase regional e ficou em 2º lugar na etapa nacional. A segunda posição, no entanto, não garantiu vaga para competir nos Estados Unidos – que é a etapa final principal do torneio de robótica.
Mas notícia ruim se transformou em boa. Afinal, meses depois a equipe descobriu que iria participar do torneio em Macau, na China, competição que reúne as equipes que ficaram na segunda posição na etapa nacional.
Surpresa dos professores
Amanda Christovam revelou o convite à turma de uma forma inovadora. A mãe de um aluno registrou a cena e a comemoração dos meninos. Veja no vídeo abaixo.
Professores fazem suspense antes de anunciar que crianças irão para torneio na China
Ao longo da aula, Amanda disse que a equipe havia chegado ao fim do torneio naquele dia, já que não tinha conseguido vaga para a final. Mas a verdade veio escrita em uma carta que a professora distribuiu aos alunos, pedindo para que lessem em voz alta.
“Hoje foi meio triste a aula, porque a gente teve encerramento do ‘masterpiece’. Acabou a temporada e o torneio. Então, eu vou entregar uma coisa pra vocês e quero que vocês leiam em voz alta”, pediu a professora.
Uma das mães gravou o momento em que três dos cinco alunos leram o comunicado. À medida que o texto avançava, os meninos perceberam que foram selecionados para o torneio.
Os alunos, então, se levantaram para comemorar. Um deles, Samuel, compartilhou com o g1 que conhecer a China é o seu sonho.
“Eu nem consegui raciocionar direito, eu fiquei louco”, contou o garoto. Apesar da ansiedade por pegar três aviões em 30 horas de viagem, ele não vê a hora de poder colocar em prática as palavras que aprendeu em chinês.
Força-tarefa para arrecadar dinheiro
Duzentos mil reais. De acordo com os idealizadores da escola, esse foi o valor aproximado dos gastos com passagens, hospedagem, alimentação e taxas de inscrição da equipe e família com a viagem para o torneio. Criar o robô de repente pareceu a parte mais fácil: difícil mesmo era arrecadar o dinheiro, informou Santos.
“Tudo foi bancado pela nossa equipe. Estamos falando de um custo que beira os R$ 200 mil. Fizemos diversas ações: rifa, vendemos lanche, vaquinha, uma família vendeu o carro, e não chegamos no total”, diz Santos.
E foram diversas as iniciativas que também buscaram garantir a ida dos meninos. Uma delas envolve até a venda de um bem importantíssimo: um carro.
O torneio representa uma conquista para Lucas, filho único de Lidiane Pereira Santos. O menino de 9 anos gosta de montar peças de encaixe desde os dois anos de idade. Mas, além disso, é a realização do sonho de uma família que está viajando para o exterior pela primeira vez. Não à toa, Lidiane decidiu com seu marido que iria vender um carro para pagar os custos da viagem.
“Foi tão natural falar ‘nós vamos fazer isso’. Vender o carro foi uma decisão em conjunto, entre nós três. É porque pra nós isso era tão natural fazer alguma coisa em prol do Lucas. Ele sabe que é o nosso grande amor”, conta a mãe.
Outra fonte de arrecadação envolveu a literatura. Pensando em um meio para arcar com os demais gastos da viagem, a professora Amanda Christovam escreveu um livro infantil sobre robótica, que terá seus lucros totalmente revertidos para equipe. O livro “Como nasce um robô: as aventuras de Lira e Leco” será lançado em setembro.
“Minha motivação realmente foi as crianças. O livro já era um projeto pessoal, mas com a viagem chegando e a falta de recursos…surgiu o convite da editora Adonis. Com essa ação, pretendemos recuperar cerca de R$ 60 mil”, conta Amanda.
O amor pela robótica
Crianças de escola de Campinas (SP) participam de final de maior torneio de robótica do mundo
Bruna Azevedo
Léo, de 9 anos, brinca com Lego desde os dois anos. Ele descobriu a escola de robótica por meio de sua mãe e desde que começou nunca mais largou. “É o ponto alto da semana dele”, conta a mãe Jaqueline Fávaro.
“A equipe de robótica não é só o método e aprendizado, mas o relacionamento. O Léo tinha dificuldade de falar espontaneamente e eu vi o quanto foi significativa a evolução dele”, conta Jaqueline.
Segundo os pais, a equipe de robótica trouxe muito mais que aprendizado e método, trouxe também melhora da comunicação, senso de pertencimento, empatia e união, disciplina e responsabilidade.
“Tem os horários, os dias de treino, eles precisam decorar as falas, pesquisar sobre o projeto (…) é um envolvimento muito grande que a família vai junto”, explica Lidiane Santos. Além da responsabilidade, ela destaca a união da equipe como o fator mais marcante.
O Lucas, de 9 anos, comprova. Com super dotação e altas habilidades, ele começou a estudar robótica por indicação do amigo. Hoje, ele diz que quer seguir projetando robôs no futuro.
O que dizem os alunos?
O g1 conversou com quatro dos cincos alunos da equipe Cyberzukas. Confira abaixo o que eles disseram sobre participar da competição e o que pretendem fazer quando chegarem à China.
Lucas, 9 anos:
“Estou muito feliz de ir para China com os meus amigos. Porque nós somos mais do que uma equipe, nós somos uma família, a família Cyberzukas”.
Samuel, 10 anos:
“Ir pra China é meu sonho (…) Eu sempre quis construir um robô e quero ser engenheiro mecânico ou robótico”.
Lucas, 9 anos:
“Eu tô feliz de ir com meus amigos pra China e se eu puder vou comprar alguma lembrança (…) Eu quero comer pastel de Belém, porque tem uma influência portuguesa na cidade onde a gente vai.”
Léo, 9 anos:
“Tô meio nervoso e meio animado. ai ter 200 equipes de cada país diferente. Eu quero me divertir bastante, fazer amidade (…) A gente vai voltar com troféu de primeiro lugar”.
*Sob supervisão de Jéssica Stuque.
Escola de robótica de Campinas (SP) vai para maior torneio do mundo em Macau, na China
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