Entre as telas e o colapso: neurocientista alerta para os danos invisíveis da vida digital

Entre as telas e o colapso: neurocientista alerta para os danos invisíveis da vida digital
Foto: Kaio Vinícius/Acorda Cidade

Você já sentiu que o tempo passa sem perceber enquanto rola a tela do celular? Já notou um cansaço mental constante, irritabilidade ou dificuldade de dormir, mesmo sem grandes motivos aparentes? Esses sintomas, cada vez mais comuns na sociedade conectada, não são apenas coincidência. São sinais de alerta de um esgotamento silencioso causado pelo excesso de estímulos digitais.

Esse é o tema discutido no novo episódio do Podcast do Acorda Cidade, que traz uma conversa profunda com o neurocientista de Feira de Santana, Kleber Fialho, doutor em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), pioneiro em neuromodulação no Brasil e presidente do Instituto NeuroSaberCuidar. Com mais de duas décadas de atuação na rede pública e privada, Fialho oferece um panorama sobre os efeitos da hiperconectividade na saúde mental da população, especialmente entre crianças e adolescentes.

Entre as telas e o colapso: neurocientista alerta para os danos invisíveis da vida digital
Foto: Kaio Vinícius/Acorda Cidade

Durante a entrevista sob o comando da jornalista Jaqueline Ferreira, o especialista alerta que o uso desenfreado das redes sociais e de dispositivos eletrônicos tem provocado alterações comportamentais severas nas pessoas.

“As redes induzem comportamento, fabricam pensamento e, o mais cruel, ela fabrica uma realidade. Isso tem gerado o que a gente chama de desrealização — quando a pessoa passa a negar até a própria realidade e a ciência”, aponta Fialho.

Um dos pontos mais delicados abordados no episódio fala sobre o impacto da tecnologia na infância. Para o neurocientista, a exposição precoce e contínua às telas interfere diretamente no desenvolvimento cerebral das crianças, prejudicando habilidades como atenção, memória e linguagem. Ele chama a atenção para a forma como, muitas vezes, o celular se torna uma espécie de “babá digital” nas rotinas familiares.

“A rede social entra como um acalento de um problema. Ou seja, se o menino irrita, se ele é hiperativo, se ele é autista, se ele tem algum problema de adaptação, se ele dá trabalho. E filho é para dá trabalho. E se ele dá trabalho, o pai coloca nas rede, nas telas. Vira uma questão da dependência de tela”, apontou.

O especialista também discute dois fenômenos cada vez mais frequentes em consultórios que falam dos impactos da vida digital x a saúde mental: a despersonalização e a desrealização. Segundo ele, esses estados psicológicos são desencadeados por um consumo constante de conteúdos que não dialogam com a realidade do usuário, criando um senso de inadequação, frustração e até de negação da própria existência.

“As pessoas vão ficando com dificuldade de reconhecer o outro e de se reconhecer. Isso tem gerado o que a gente chama de despersonalização e desrealização. É um adoecimento subjetivo”, explicou.

Além dos impactos individuais, Fialho reforça que o ambiente digital tem enfraquecido os laços sociais e comprometido a capacidade de escuta, diálogo e empatia entre as pessoas. A cultura do imediatismo e da comparação constante cria um terreno fértil para o adoecimento psíquico em massa. E ele adverte:

Entre as telas e o colapso: neurocientista alerta para os danos invisíveis da vida digital
Foto: Kaio Vinícius/Acorda Cidade

“A gente perdeu a capacidade de estar só. E estar só é uma virtude humana. A gente perdeu a capacidade de contemplar. A gente está com dificuldade de parar. A pausa está se tornando uma ameaça para a mente. Se eu não pauso, eu não penso. Se eu não penso, eu não ajo. Se eu não ajo, alguém age por mim.”

Durante a entrevista, Kleber Fialho também falou sobre novas síndromes da vida digital, como o Fomo, o medo de ficar de fora do que acontece na internet e o Jomo, uma forma de desintoxicação e reconexão com o presente. Para ajudar nesse processo, ele criou o “Teste da Desintoxicação da Virtualidade”, ferramenta gratuita que avalia o nível de intoxicação digital e oferece orientações para uma vida mais equilibrada. Veja aqui.

Para saber mais sobre o assunto, o podcast propõe uma pausa necessária para pensar: será que estamos no controle da tecnologia ou ela de nós?

Acesse o episódio completo que já está disponível nas principais plataformas de áudio. Ouça agora abaixo:

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