Vítima de violência doméstica que perdeu os dentes terá chance de sorrir novamente em MS


Kati Adriana Pereira é uma das primeiras selecionadas a participar do projeto
As marcas deixadas em mulheres vítimas de violência doméstica não desaparecem com o fim das agressões. Os traumas psicológicos permanecem na memória, e o sofrimento se reflete até no espelho, quando a vítima já não reconhece a própria imagem — como se sorrir novamente para a vida fosse algo quase impossível. Mas há iniciativas que mostram que a superação é possível.
Em Campo Grande, o projeto “Sorrindo pra Vida”, criado pela Secretaria Executiva da Mulher (Semu), irá oferecer tratamento odontológico gratuito para mulheres que já denunciaram seus agressores à polícia.
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Uma das primeiras selecionadas para participar do projeto foi a dona de casa Kati Adriana Pereira. Ela quase perdeu a filha para a violência doméstica e também se tornou vítima do ex-genro.
“Entrei na situação por conta da minha filha. Uma mãe jamais vai olhar uma situação e deixar. Eu me meti e passei a sofrer violência porque eu não queria perder minha filha. Eu tava vendo uma hora de eu ter que enterrar minha filha”, conta Kati.
O agressor, que era usuário de drogas, já havia sido preso várias vezes. Em 2024, foi encontrado morto em uma avenida de Campo Grande. A filha de Kati, Mayara Amaral, de 31 anos, desenvolveu esquizofrenia e hoje vive com a mãe.
“Eu acordava apanhando. Não saía pra nada. Não podia ver minhas filhas, minha mãe. Apanhava 24 horas. Era cabo de vassoura, era o que viesse pela frente”, relatou Mayara.
Voltando a sorrir
O tempo e o sofrimento também deixaram marcas em Kati. Mas agora, ela tem uma nova chance de recomeçar e cuidar de si mesma.
Segundo a secretária-executiva da Mulher, Angélica Fontanari, para participar do projeto, o primeiro passo é buscar ajuda — seja na Casa da Mulher Brasileira ou na própria Secretaria da Mulher. Lá, a mulher passa por uma triagem e é atendida por uma equipe psicossocial.
Para ingressar no programa, é necessário atender a um dos seguintes critérios:
Ter um boletim de ocorrência registrado;
Ter uma medida protetiva vigente;
Relatar um caso de violência (física, psicológica ou outro tipo).
Se preencher algum dos requisitos, a vítima já pode ser incluída no programa.
“Será definido um número de atendimentos separado por mês, então vai ser constante, por todo ano. O tratamento vai desde uma obturação, uma fratura, ou até mesmo uma prótese dentária em mulheres que tiveram a perda total dos seus dentes”, explica Angélica.
Sorrir para a vida é o que Kati mais deseja agora. Deixar o passado doloroso para trás e inspirar outras mulheres a buscarem ajuda.
“Se é possível pra mim, é possível pra todo mundo. Eu vou colocar meus dentes, vou ter outra figura, vou conseguir ir atrás de um emprego. Vou conseguir chegar nas pessoas pra falar sem ter que baixar a cabeça. Olhar nos olhos e falar: ‘eu estou aqui'”, finaliza.
Para mais informações sobre o projeto Sorrindo pra Vida, o telefone de contato é: (67) 98131-7879.
Kati Adriana Pereira receberá atendimento odontológico gratuito.
Sérgio Saturnino
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