
O Espírito Santo é uma referência nacional para o e-commerce. Em compras realizadas por capixabas de outros estados, o valor movimentado foi de R$ 10,2 bilhões em um período de seis anos. Já para venda, o Estado se destacou como o 5º que mais vendeu por e-commerce no Brasil nos últimos seis anos.
O Estado registrou um crescimento de 124% em envios nacionais de pacotes no segundo trimestre de 2025. Além de ser o 5º com a maior quantidade de envios no geral também foi o 6º em envios realizados por pequenas e médias empresas.
A força do setor vem muito por meio de incentivos fiscais. O principal deles, o Compete-ES para e-commerce, permite que as empresas tenham uma carga tributária efetiva de ICMS de aproximadamente 1,1% nas operações interestaduais. Esse valor é significativamente menor que os cerca de 17% de carga tributária em outros estados do Sudeste e Sul.
E essa força do online capixaba também ganha destaque com a Ecommerce.ES, uma das principais feiras de logística para vendas online do Brasil. Só para a gente ter ideia, nas edições anteriores, foram mais de 12 mil participantes, 200 palestrantes e aproximadamente R$ 100 milhões em negócios.
O organizador do evento, Thiago Munaldi, destaca o cenário capixaba como referência. Do mesmo modo ele chama atenção para o crescimento da feira, o que é um reflexo do desenvolvimento do setor no Estado. Neste ano, uma das principais discussões são WhatsApp Business e Inteligência Artificial no atendimento digital. Também haverá discussões sobre ESG, publicidade, inovação e transformação digital.
Veja abaixo a entrevista com Thiago Munaldi, organizador do Ecommerce.ES:
Como é a movimentação do e-commerce no ES?
O Espírito Santo é um grande celeiro e incentivador da atividade. Já faz mais ou menos 10 anos que o Estado foi um dos pioneiros a ter o incentivo fiscal para operações de e-commerce.
Só para se ter uma ideia, esse benefício fiscal gera um ganho fiscal em torno de 10% líquido para toda operação que está aqui instalada no Espírito Santo.
Que diferença faz para quem empreende?
Hoje no varejo, que tem margem cada vez mais apertada, a gente fala aí de 10%. Ou seja, é praticamente um lucro de uma empresa de grande operação. São Paulo, Florianópolis e outras praças olham o Espírito Santo como um grande celeiro, um grande mercado de oportunidades, por causa desse benefício. Do mesmo modo por causa da operação logística.
A gente está aqui no Sudeste. Se a gente pegar o metro quadrado que é vendido para fazer galpão em São Paulo e para fazer galpão aqui no Espírito Santo, nosso preço é muito inferior ainda. As empresas olham isso como uma grande oportunidade para instalar suas operações logísticas.
Você vê novas empresas do setor surgindo no ES?
Nós temos um ambiente muito propício a isso. O Espírito Santo tem o DNA voltado para o e-commerce. A gente vê aí o PicPay, que surgiu aqui e hoje é um grande case de tecnologia e inovação no Brasil. Nós temos a Autoglass, que é pioneira nessa parte de inovação e tecnologia. A gente tem um movimento muito grande de hubs, como o TecVitória, o Hub 027, entre tantos que dão oportunidade para esses grandes cases capixabas.
E a gente tem uma parte muito forte que é a possibilidade de estarmos muito próximos a São Paulo. Temos essa conexão com esse grande centro que é onde está o dinheiro, onde estão os investidores. A gente tem grandes players aqui surgindo sempre.
Como está o ambiente para o microempreendedor digital no ES?
Estamos evoluindo, mas ainda ficamos atrás de polos como Florianópolis e Recife. O governo do Estado tem incentivado bastante a inovação, assim como prefeituras e fundos de fomento que chegam ao Espírito Santo. O Sebrae também é um grande parceiro do pequeno empreendedor, oferecendo apoio e capacitação.
Além disso, existe uma comunidade colaborativa entre os capixabas, que se ajudam em movimentos para dar visibilidade a startups e negócios digitais. Há frentes importantes tanto em tecnologia quanto em e-commerce, e acredito que temos potencial para estar entre os três principais polos de inovação do Brasil nos próximos dez anos.
Como o ambiente de negócios capixaba influencia nesse processo?
Temos muitas oportunidades, mas precisamos nos organizar como sociedade de inovação. Cerca de 80% a 90% das empresas capixabas são familiares e muitas passam por processos de sucessão. Ainda há resistência em investir em tecnologia ou trazer startups para dentro do negócio.
O Estado oferece incentivos, mas o setor privado também precisa abraçar a causa. Sem abrir espaço para ser o “primeiro cliente” de uma inovação, nada avança. Algumas empresas já estão na frente, mas muitas ainda se fecham por medo ou custo, e isso trava o avanço tecnológico.
Qual o papel do Ecommerce.ES nesse ecossistema?
O evento nasceu há quatro anos para movimentar o mercado local. Apesar do benefício fiscal e da quantidade de operações no Estado, era preciso ir a São Paulo para acompanhar grandes eventos — caros e distantes. Decidimos trazer esse conteúdo e networking para cá.
O objetivo é democratizar o acesso a palestras, fornecedores e tendências, permitindo que empreendedores locais e regionais conheçam novas soluções e façam negócios sem precisar sair do Espírito Santo.
Na prática, que retorno o evento tem dado?
Conexões geraram entrevistas, empregos e contratos. A feira de fornecedores é um espaço estratégico para conhecer tecnologias e fechar negócios.
No primeiro ano, por exemplo, a Gitterbit fechou contrato já no segundo dia de evento, algo inédito para a empresa. Esse tipo de resultado mostra o impacto prático do encontro.
Além dos negócios, como o evento marca o empreendedor?
Muitos saem com novas ideias e soluções, ao ver casos reais no palco. Um exemplo foi o case da Arezzo sobre CRM, que inspirou lojistas a repensar a gestão de estoque.
O evento também valoriza bons exemplos capixabas, como a Faura, de Linhares, maior vendedora de móveis infantis do Brasil, que supera desafios logísticos no interior. Esses cases mostram que é possível competir em alto nível mesmo fora dos grandes centros.
O que falta para o ES ser referência nacional em comércio digital?
Falta liderança para unir esforços. Temos cases, incentivos e localização estratégica, porém não um ponto focal que direcione o setor. No varejo, por exemplo, não existe uma comunidade tão estruturada como em outros segmentos.
É preciso criar um ambiente permanente de colaboração e inovação, algo que exige organização e trabalho contínuo, e não apenas eventos pontuais.
Com a reforma tributária, os incentivos vão acabar. Como o setor vê isso?
O e-commerce capixaba, especialmente na área de galpões logísticos, já discute alternativas. Empresas e governo estão preocupados, pois sem o benefício perdemos competitividade frente a São Paulo, que consegue entregar em poucas horas.
O debate já acontece, inclusive dentro do evento, para definir um plano que mantenha o Estado atrativo. A solução pode envolver vantagens alternativas e até articulação com outros estados que dependem desses incentivos.
Como a infraestrutura logística pode ser essa vantagem?
Temos gargalos como a duplicação da BR-101 e problemas na BR-262, no entanto, a operação logística no Espírito Santo já é referência nacional, com centros e operadores de excelência.
Muitas empresas de fora vêm conhecer nossa estrutura, que pode ser um dos diferenciais para compensar a perda de benefícios fiscais — mas não pode ser o único.
Onde o mercado digital capixaba pode chegar?
Oito das dez maiores empresas de e-commerce do Brasil operam daqui. Porém geralmente apenas a parte logística. Precisamos atrair também inteligência, marketing e gestão dessas empresas para o Estado.
Com mão de obra qualificada e novos talentos chegando de outras regiões, temos condições de liderar não só na operação, mas também no desenvolvimento estratégico e tecnológico do setor.
E o futuro do Ecommerce.ES?
Já somos o maior evento de e-commerce fora de São Paulo e queremos crescer para receber de 10 mil a 15 mil pessoas, tornando-nos referência no Espírito Santo, Minas, Rio e Bahia.
A próxima edição será nos dias 13 e 14 de agosto, no Pavilhão de Carapina, com mais de 50 palestrantes, 30 patrocinadores e cases de peso, como André Siqueira (RD Station), Rafael Kizo (mLabs), Rodrigo Haddad (Ambev), Luísa Fontana (Coca-Cola) e os capixabas da Ybera Paris. Um encontro imperdível para quem quer estar por dentro do digital commerce.