Socorrista que tentou salvar homem da “pior morte imaginável” explicou por que não conseguiu salvá-lo

Socorrista que tentou salvar homem da "pior morte imaginável" explicou por que não conseguiu salvá-lo

No coração rochoso de Utah, nos Estados Unidos, um lugar que um dia foi sinônimo de aventura transformou-se num túmulo permanente. A Caverna Nutty Putty, descoberta em 1960 por Dale Green a oeste do Lago Utah, era um imã para exploradores.

Suas passagens formadas por água quente subterrânea criavam um labirinto escorregadio e apertado, desafiando espeleólogos amadores e profissionais, tropas de escoteiros e buscadores de adrenalina. Mas em 2009, um trágico acidente levou ao seu selamento definitivo, enterrando para sempre um homem e uma história de resgate impossível.

O protagonista dessa tragédia era John Edward Jones. Aos 26 anos, ele era um estudante de medicina de Utah, membro de uma grande família Mórmon, marido da Emily Jones-Sanchez e pai que aguardava ansiosamente o nascimento do segundo filho. Apaixonado por cavernas, John decidiu explorar a Nutty Putty com seu irmão, Josh, e nove amigos, poucos meses após a reabertura do local ao público. Era 24 de novembro de 2009.

A exploração começou na chamada “Grande Ladeira” (Big Slide), uma sala espaçosa dentro do sistema cavernoso. Buscando um desafio maior, o grupo decidiu tentar encontrar uma passagem conhecida como “Canal do Nascimento”, um túnel apertado mas navegável que terminava numa curva de retorno.

John Edward Jones tinha 26 anos e seu corpo nunca foi recuperado da caverna Nutty Putty

John Edward Jones tinha 26 anos e seu corpo nunca foi recuperado da caverna Nutty Putty

Foi nesse momento que John cometeu um erro crucial de navegação. Em vez de entrar no “Canal do Nascimento”, ele se direcionou para uma passagem não mapeada. Pensando estar na curva segura, desceu por uma fenda vertical extremamente estreita.

As dimensões eram aterradoras: apenas 25 centímetros de largura por 45 centímetros de comprimento. John, com seus 1,82 metros de altura, ficou irremediavelmente preso de cabeça para baixo. Quanto mais tentava se libertar, mais profundamente se enterrava na fenda. Seu irmão Josh, testemunhando o desespero, subiu rapidamente à superfície para buscar ajuda.

Assim começou uma operação de resgate monumental que duraria 27 horas. Equipes especializadas convergiram para o local. O desafio era imenso: como extrair um homem preso de cabeça para baixo, a vários metros de profundidade, numa fenda mais apertada que seu próprio corpo?

Os socorristas trabalharam incansavelmente, tentando diversas técnicas. Eles conseguiram baixar oxigênio e soro para John, mas seu estado físico deteriorava rapidamente. A posição invertida exercia uma pressão enorme sobre seu coração e pulmões.

Brandon Kowallis, um experiente explorador de cavernas de Salt Lake City e YouTuber, chegou ao local nas fases finais do resgate, sendo provavelmente a última pessoa a ver John com vida.

Brandon Kowallis foi um dos últimos socorristas a chegar ao local (YouTube/brandonkowallis3343)

Brandon Kowallis foi um dos últimos socorristas a chegar ao local (YouTube/brandonkowallis3343)

Seu relato posterior, feito anos depois, trouxe uma perspectiva técnica e brutal sobre o fracasso da operação. Kowallis encontrou John em estado crítico: alternando entre inconsciência e delírios, falando sobre ver anjos e demônios. Fisicamente, as pernas apresentavam espasmos involuntários e sua respiração era um ruído gorgolejante, sinal claro de líquido acumulando nos pulmões (edema pulmonar).

Kowallis fez uma avaliação meticulosa da situação. Mesmo que conseguissem, por algum milagre, reposicionar John horizontalmente, o caminho para trazê-lo à superfície envolveria passar pelas seções mais difíceis e estreitas da caverna acima dele. E aqui estava o cerne da impossibilidade, segundo Kowallis: John estava inconsciente e sem força.

Kowallis afirmou que, se John estivesse consciente e no auge de sua capacidade física (“com força total”), talvez existisse uma chance ínfima, mínima, de ele conseguir colaborar com o próprio resgate através dessas passagens críticas. Mas mesmo essa hipótese parecia “sombria”. A realidade era que levantar um homem inconsciente de 95 quilos, preso numa posição tão precária e num espaço tão confinado, era “praticamente impossível”.

Apesar dessa avaliação devastadora, a equipe não desistiu. Kowallis passou horas usando uma marreta pneumática para tentar quebrar rocha ao redor de John. Rapidamente percebeu a escala do problema: aquela abordagem levaria entre três e sete dias para abrir espaço suficiente.

Enquanto os socorristas se reuniam para discutir opções cada vez mais desesperadas, a família de John manteve contato por rádio. Sua esposa, Emily, transmitiu palavras de conforto e paz, dizendo que tudo ficaria bem. Kowallis relembrou que ela falou com o marido cerca de cinco a dez minutos antes de ele precisar voltar aos esforços de resgate.

Pouco depois dessa comunicação, Kowallis desceu novamente para verificar os sinais vitais de John. Não encontrou pulsação. Após reportar suas descobertas a um paramédico na superfície, ajudou a confirmar o óbito.

A causa oficial da morte foi parada cardíaca e asfixia, consequência direta da posição invertida prolongada. Uma decisão difícil foi tomada: recuperar o corpo era considerado perigoso demais para os socorristas, dada a instabilidade da passagem. O corpo de John Jones permaneceria para sempre naquela fenda.

Para garantir que nenhuma outra tragédia ocorresse, as autoridades tomaram uma medida drástica. Usaram explosivos controlados para colapsar a passagem onde John ficou preso e, posteriormente, selaram permanentemente toda a entrada da Caverna Nutty Putty com concreto. O local de aventura transformou-se num memorial.

A antiga caverna foi transformada em um memorial improvisado (Find A Grave)

A antiga caverna foi transformada em um memorial improvisado (Find A Grave)

Amigos, familiares e pessoas sensibilizadas pela história transformaram a entrada bloqueada num santuário improvisado. Uma placa foi fixada, honrando a memória de John Edward Jones e servindo como uma lápide simbólica, já que seu corpo repousa inacessível nas profundezas abaixo.

A história de John Jones e seu resgate impossível na Nutty Putty Cave ecoou além das montanhas de Utah. Em 2016, o filme “A Última Descida” (The Last Descent) levou sua jornada trágica para as telas, com Chadwick Hopson interpretando John e Jacob Omer como seu irmão Josh.

O relato detalhado de Brandon Kowallis, anos depois, acrescentou uma camada técnica e visceral à compreensão do porquê todos os esforços, por mais heróicos e determinados que fossem, estavam fadados a falhar diante das condições impiedosas da geologia e do corpo humano. A Caverna Nutty Putty permanece um monumento silencioso aos limites da exploração humana e à fragilidade diante da imutável força da natureza.

Esse Socorrista que tentou salvar homem da “pior morte imaginável” explicou por que não conseguiu salvá-lo foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.

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