EUA se isolam em defesa de Israel no Conselho de Segurança da ONU; demais membros condenam genocídio e controle de Gaza

Em reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), neste domingo (10), a representante dos Estados Unidos, Dorothy Shea, reiterou a defesa de que “Israel tem o direito de decidir o que precisa fazer para sua segurança e quais medidas deve tomar para acabar com a ameaça representada pelo Hamas” em meio ao genocídio provocado pelo governo israelense no território palestino. As declarações foram dadas após o regime de Benjamin Netanyahu anunciar um plano de “ocupação total” da Cidade de Gaza e expansão do domínio sobre o território palestino.

Em sua declaração, a representante estadunidense criticou a iniciativa dos membros do Conselho de Segurança de convocar a reunião de emergência deste domingo. “Os Estados Unidos acreditam que esta reunião é emblemática da natureza contraproducente de vários governos neste Conselho e nas Nações Unidas nesta questão. Esta reunião, como muitas outras ações, prejudica esses esforços”, disse a diplomata.

Ignorando a situação de fome generalizada entre a população palestina de Gaza, a embaixadora dos Estados Unidos advogou pela saúde dos reféns israelenses sob controle do Hamas. “Na semana passada, o conselho ouviu evidências de que o Hamas continua matando de fome reféns inocentes que estão à beira da morte. Não podemos permitir que isso aconteça”.

Por sua parte, o diplomata israelense Jonathan Miller, afirmou que o plano israelense não é uma conquista, mas parte da resposta do seu governo ao Hamas. “É a única maneira de garantir o futuro de israelenses e palestinos. O Primeiro-Ministro Netanyahu deixou isso claro. O objetivo de Israel não é tomar Gaza, mas libertá-la do Hamas e permitir que um governo pacífico surja em seu lugar. Isso garantirá a estabilidade e promoverá a paz”, disse o representante do regime israelense.

EUA e Israel seguem isolados

A posição de Israel e seu aliado, Estados Unidos, permaneceram em absoluto isolamento entre os membros do Conselho de Segurança. Além dos demais membros permanentes, todos os representantes dos 15 países não-permanentes, inclusive os europeus, foram uníssonos na defesa de um cessar-fogo, da imediata liberação da entrada de ajuda humanitária e da solução de dois Estados, além da condenação taxativa do plano israelense de ocupação do território palestino.

A representante da Dinamarca, Christina Markus Lassen, um dos países que convocaram a reunião de emergência, defendeu uma investigação independente sobre o assassinato deliberado de cidadãos pelestinos famintos enquanto aguardavam a distribuição de comida.

“A maioria deles era de jovens ou meninos que buscavam desesperadamente alimentar suas famílias. Hoje, toda a Faixa de Gaza enfrenta condições comparáveis à fome. Isso é impensável. Lamentamos que civis famintos que tentavam encontrar comida tenham sido mortos. A frequência e a escala alarmantes desses incidentes são simplesmente inaceitáveis. Reiteramos nosso apelo por uma investigação transparente sobre esses incidentes”, afirmou.

Já o representante da China afirmou que a decisão do regime israelense é motivo de preocupação e defendeu que o Conselho de Segurança impeça a ação. “O Conselho de Segurança deve impedir essa medida o mais rápido possível. Gaza é parte integrante do território palestino. Qualquer ação que vise alterar sua demografia ou estrutura deve encontrar firme oposição”, disse o embaixador Fu Cong, que denunciou ainda a situação de fome generalizada no território palestino.

“É imperativo aliviar a catástrofe humanitária em Gaza. Gaza está à beira da fome. 200 pessoas já morreram de inanição”, afirmou. “A punição coletiva do povo de Gaza é inaceitável”, completou o diplomata.

O diplomata russo Dmitry Polyanskiy afirmou que o anúncio de ocupação da Faixa de Gaza viola o direito internacional e “demonstra seu total desrespeito à comunidade internacional e às decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

“Nos opomos a qualquer tentativa do governo Netanyahu de tomar Gaza e o instamos a evitar quaisquer medidas que possam levar à ocupação de Jerusalém. Insistimos que Israel deve cumprir integralmente o direito internacional”, declarou.

O representante da Rússia citou o genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial pelo regime nazista. “Como podem as pessoas que sofreram o Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, representantes de um país que reconhece o sofrimento de todo um povo pelo Holocausto, agora submeter outro povo a essa situação?”, questionou Polyanskiy, que concluiu sua intervenção mencionando diretamente o governo dos Estados Unidos.

“Esperamos que Washington perceba isso o mais rápido possível”, disse. “Os Estados Unidos estão simplesmente se isentando do que está acontecendo em Jerusalém Oriental, garantindo assim que Israel possa agir livremente”, destacou, referindo-se a outro território palestino ocupado, na Cisjordânia.

Palestina: Israel sabota a paz

O representante da Palestina, embaixador Riyad Mansour, denunciou a crise humanitária em Gaza e afirmou que a ocupação militar anunciada por Israel busca inviabilizar a criação de um Estado palestino.

“Israel está tentando consolidar o controle militar total sobre a Faixa de Gaza e está prolongando esta guerra, não para acabar com o governo do Hamas ou desarmá-lo, mas para impedir o estabelecimento de um Estado palestino”, declarou.

Riyad Mansour, representante da Palestina, chega ao Conselho de Segurança da ONU para a reunião deste domingo (10). Foto: John Lamparski/AFP

“Israel está matando a Palestina em Gaza”, seguiu o embaixador. “Este é o seu objetivo. Lá, mais de dois milhões de vítimas sofrem uma agonia insuportável, quase além da compreensão da mente humana. Não podemos nos dar ao luxo de continuar fracassando. Não podemos nos dar ao luxo de sentir culpa ou vergonha. É nosso dever agir agora para impedir este genocídio”, exortou Mansour.

O embaixador palestino citou um plano, elaborado em conjunto com França e Arábia Saudita, que prevê que a Autoridade Nacional Palestina assuma suas funções governamentais e de segurança na Faixa de Gaza com apoio regional e internacional. “Hamas entregaria suas armas à Autoridade Nacional Palestina no contexto do fim da guerra e com o objetivo de estabelecer um Estado palestino independente. Isso estabeleceria a base irreversível para o estabelecimento de um Estado palestino soberano e independente que permitirá a paz, a segurança e a integração regional”, disse o diplomata.

“Se Israel realmente se importasse em acabar com o governo do Hamas e desarmá-lo, se Israel realmente se importasse com a segurança, teria endossado este plano e deveria ter ficado feliz por ele ser adotado, assim como a comunidade internacional fez”, completou Mansour.

O diplomata rejeitou as declarações do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que nega haver fome generalizada em Gaza. 

“Algumas pessoas acreditam no que o primeiro-ministro Netanyahu disse, que não há fome em Gaza, que isso é uma mentira que está sendo espalhada pelo mundo e que os dois representantes da ONU estão trabalhando para espalhar mentiras. Então, por que vocês não vão, Conselho de Segurança? Tragam 100 jornalistas de seus países e verifiquem o que está acontecendo em Gaza. Se vocês estão tão convencidos dessa conspiração global, provem. Permitam-nos entrar na Faixa de Gaza para que possam ver exatamente o que está acontecendo”, provocou.

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