Com mais de três décadas de experiência no mercado de cobrança bancária, Gabriela Roveri decidiu romper com o modelo tradicional de call centers e criar uma alternativa digital e humanizada para lidar com inadimplência. Assim nasceu a Vem Pro Azul, plataforma que combina tecnologia, marketing de engajamento e métricas demográficas para aproximar instituições financeiras e devedores de forma mais respeitosa e eficiente.
Advogada de formação e oriunda de uma empresa familiar de call center com 1.300 funcionários e grandes bancos na carteira, Gabriela acompanhou de perto a transformação do setor – desde os cobradores de rua e boletos impressos em impressoras matriciais até as milhões de tentativas de ligação diárias. Mas, segundo ela, o modelo chegou a um ponto de saturação: “Hoje, 95% das ligações de call center são derrubadas. Você gasta energia e dinheiro para falar com apenas 5% do público”.
Foi dessa frustração que surgiu a ideia de criar um marketplace voltado ao inadimplente, inspirado em sua especialização em Digital Business pela USP. Diferente de portais como Serasa ou Boa Vista, que dependem da busca ativa do devedor, o Vem Pro Azul atua de forma proativa, utilizando métricas de engajamento, dados demográficos e conteúdo direcionado para atrair o público. “Quando você está inadimplente, ninguém te mostra a dívida de forma clara. Só recebe ligações insistentes. Nós criamos um espaço que quer conversar com você, não apenas cobrar”, explica.
O modelo combina plataforma própria e soluções white label para bancos e empresas de cobrança, permitindo que call centers mantenham seu método tradicional, mas complementem com estratégias digitais compartilhadas, reduzindo custos tecnológicos. Entre os clientes já atendidos estão Banco Mercantil, PagBank e Ambev, que juntos somam cerca de 1 milhão de devedores na base.
A remuneração é flexível: mensalidade para uso de infraestrutura tecnológica ou modelo de sucesso sobre valores recuperados. A segurança é prioridade: “Para trabalhar com banco, você precisa atender a LGPD, ter auditorias independentes, DPO e certificações. Em seis meses já conquistamos ISO e usamos servidores Oracle”, afirma.
A equipe é enxuta – 15 especialistas em engenharia de dados, segurança da informação, SEO e marketing tecnológico –, e Gabriela mantém a conexão com seu próprio escritório de advocacia para garantir respaldo jurídico. O foco está em instituições financeiras e call centers, setores que ainda concentram a maior parte da cobrança direta e têm dificuldade de investir em inovação.
O uso de inteligência artificial já faz parte da estratégia, mas de forma crítica e segura: “Estamos era do ‘tijolão’ da IA, como o antigo celular Startac. Ainda há muito a depurar, mas ela já é poderosa e veio para ficar”.
Para Gabriela, a missão do Vem Pro Azul é clara: criar um ecossistema onde banco, call center e devedor possam interagir com mais respeito, reduzindo a pressão e aumentando a efetividade da cobrança. “Setenta por cento dos brasileiros devem. Esse mercado é desrespeitado dos dois lados. Acreditamos que é possível mudar essa relação e criar um ganha-ganha para todos”, conclui.
Siga TI Inside no LinkedIn e fique por dentro das principais notícias do mercado.