O aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e indianos coloca em evidência a necessidade de alternativas estratégicas para o comércio internacional, segundo o professor de direito internacional público Paulo Borba Casella, da Universidade de São Paulo (USP), entrevistado no Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Quando um modelo mostra que está esgotado, não está funcionando, você precisa tentar alguma coisa nova. Vejo críticas sendo feitas porque o Brasil está conversando com a China, Índia, Rússia, África do Sul, e está programando uma teleconferência do Brics, e conversar também com outros países. […] É importante entender que isso precisa ser organizado, feito de maneira coordenada, e é importante que se faça, porque a relação com um parceiro tradicional, como os EUA, está deteriorada por agressão, perseguição, chantagem tarifária do governo dos EUA contra o Brasil”, afirma Casella.
O professor explica que o Brics, apesar de não ter um tratado constitutivo ou personalidade jurídica formal, tem crescido em relevância, principalmente com a criação do Banco dos Brics em Xangai, na China. “O Brics tem a flexibilidade de funcionar como uma parceria em que os países participantes se reúnem e convergem em determinadas posições. […] O desafio colocado pelo desgoverno dos EUA é uma questão de interesse coletivo e faz todo o sentido que os países do Brics atuem de uma maneira coordenada, inclusive para buscar uma alternativa para não precisar indexar todo o comércio em dólar”, defende.
Casella ainda destaca a mudança de posição da Índia, tradicional aliada dos EUA, frente às tarifas. “Até agora, a Índia era um dos cinco integrantes originários do Brics. […] O fato da Índia ter recebido esse tarifaço também no mesmo patamar de 50%, como o Brasil, mostra de que lado eles têm que se alinhar, porque claramente [os EUA] não são um parceiro confiável, com o qual você possa trabalhar de maneira confortável”, observa.
Ele acredita que as possíveis medidas de retaliação do governo contra o tarifaço podem pressionar os EUA a negociar. “Colocar tarifas não onera só quem exporta, onera também o consumidor americano que paga mais caro pelo produto que chega onerado com essas tarifas adicionais. Então o Brasil deveria considerar, sim, a retaliação; não para piorar a relação, mas como uma estratégia para que eles [os EUA] queiram conversar”, sugere.
Para o especialista, o líder estadunidense Donald Trump, que deve encontrar o presidente russo Vladimir Putin nesta sexta-feira (15), “não está interessado em resolver a guerra e tem atuado de uma maneira que piora os conflitos”. “Ele está preocupado com os interesses dele, é a visão de um especulador e de um oportunista que joga no mercado com pedidos absurdos para depois diminuir as exigências e tentar fazer acordos para o interesse dos EUA. Não é a Rússia, a Ucrânia, não são outras partes em conflitos que estão interessados em atender”, analisa.
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