
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) estão reforçando as negociações para tentar reverter a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos às importações de café brasileiro. A medida, em vigor desde a semana passada, é considerada pelas entidades um desafio “sem precedentes” para a competitividade do produto no mercado norte-americano.
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Crescimento do café solúvel é freado por barreira comercial dos Estados Unidos
O assunto foi debatido durante o Encontro Agro Business, realizado nesta quarta-feira (13) em Linhares, com a presença de Márcio Cândido Ferreira, presidente do Cecafé, e Fábio Sato, presidente da Abics. O Brasil responde por 33% do café consumido nos EUA, mas tanto o café verde quanto o solúvel ficaram fora da lista de isenções tarifárias.
Segundo Ferreira, o Cecafé atua em conjunto com a National Coffee Association, redes de cafeterias, importadoras e o governo brasileiro para sensibilizar autoridades americanas sobre a importância econômica do café do Brasil. Ele destacou que o setor gera 2,2 milhões de empregos nos EUA e movimenta cerca de US$ 343 bilhões no país.
“O nosso café é fundamental para o consumo americano. Praticamente somos o único dos grandes players a exportar cafés naturais de alta qualidade, oferecendo sabores que o consumidor reconhece. Se ele chegar a uma cafeteria e não encontrar café do Brasil, vai sentir que algo está faltando”, afirmou.

Ferreira destacou que tanto o café verde quanto o solúvel ficaram fora da lista de isenções. “Se perdermos parte do mercado americano, o impacto será direto no bolso do produtor e no cumprimento de contratos. Nosso papel é dialogar para incluir o café nas exceções tarifárias”, disse Ferreira.
Já Fábio Sato, presidente da Abics, apontou que o setor aposta em três pilares para preservar a competitividade: promoção internacional, inovação e fortalecimento da marca.

“Temos um projeto com a Apex-Brasil que envolve presença nas principais feiras de alimentos do mundo e a vinda de compradores ao Brasil para conhecer nossa produção sustentável. Também criamos um protocolo inédito de avaliação sensorial para o café solúvel e estamos revitalizando a marca ‘Café do Brasil’ para transmitir qualidade, diversidade e sustentabilidade”, explicou.
As entidades alertam que, caso a tarifa seja mantida, produtores e exportadores poderão enfrentar perdas significativas e perda de espaço para concorrentes como Vietnã, Indonésia e Colômbia.
Fábio Sato ressaltou que o segmento de café solúvel vinha em forte expansão antes da imposição da nova tarifa. “Se não fosse esse tarifaço, em 2025 estaríamos a caminho de um novo recorde de exportações, impulsionado pelas novas fábricas instaladas em Linhares”, afirmou, citando a OFI (antiga Olam) e a Café Cacique, que se somaram à atuação da Realcafé, já consolidada em Viana.
O Cecafé mantém articulações junto ao governo brasileiro, ao setor privado norte-americano e a canais estratégicos nos Estados Unidos para incluir o café brasileiro na lista de isenções tarifárias. A entidade reforça que o produto não é cultivado em escala no mercado parceiro e desempenha papel relevante para a economia dos EUA, para a satisfação dos consumidores locais e para o comércio bilateral. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial e líder no fornecimento de café para o país do Hemisfério Norte, que, por sua vez, ocupa a posição de maior importador e consumidor global, além de principal destino do produto brasileiro.
Exportação de café do Brasil soma 2,7 milhões de sacas em julho
De acordo com dados divulgados nesta semana, o Brasil exportou 2,733 milhões de sacas de 60 kg em julho, primeiro mês do ano safra 2025/26. O volume representa queda de 27,6% em relação ao mesmo período de 2024. Apesar da retração nos embarques, a receita cambial foi recorde para o mês, somando US$ 1,033 bilhão, alta de 10,4% no comparativo anual.
No acumulado de janeiro a julho, as exportações brasileiras somaram 22,150 milhões de sacas, recuo de 21,4% frente às 28,182 milhões registradas no mesmo intervalo de 2024. A receita cambial, no entanto, avançou 36%, alcançando o recorde de US$ 8,555 bilhões para o período.
“Uma redução nos embarques já era aguardada neste ano, uma vez que nós vimos de exportações recordes em 2024, estamos com estoques reduzidos e uma safra sem excedentes, com o potencial produtivo total impactado pelo clima. No que se refere à receita cambial, ainda surfamos a onda dos elevados preços no mercado internacional, que reflete o apertado equilíbrio entre oferta e demanda ou mesmo um leve déficit na disponibilidade”, explica Márcio Ferreira.
Os Estados Unidos seguem como principal comprador, com 3,713 milhões de sacas adquiridas nos sete primeiros meses de 2025, o equivalente a 16,8% do total exportado. Embora o volume represente queda de 17,9% frente ao mesmo período de 2024, a participação aumentou em relação aos 16% registrados no ano passado.
Ferreira explicou que o impacto do tarifaço de 50% imposto pelos EUA ainda não aparece nas estatísticas. “Até julho, não observamos de fato os efeitos da medida, já que ela passou a valer apenas em 6 de agosto. As indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoques para 30 a 60 dias, o que lhes dá algum fôlego para aguardar as negociações. Porém, o que já visualizamos são pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor”, alertou.
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