Rapper baiano Japa MC se destaca nas batalhas de rima com título da Batalha da Aldeia e vice-campeão nacional: ‘brigar por nosso espaço’


Baiano vice-campeão nacional de batalha de rima conta sobre início da carreira
O rapper baiano Japa MC, de 24 anos tem construído uma trajetória marcada por evolução constante. Morador do bairro de Cajazeiras, em Salvador, foi campeão do aniversário da Batalha da Aldeia e vice-campeão do Nacional de rima, se tornando um dos principais nomes do freestyle no Brasil.
🎤 As batalhas de rima são duelos de improviso entre MCs em que cada competidor precisa criar versos na hora, respondendo aos ataques do adversário, impressionando os jurados e conquistando o público.
A disputa pode acontecer em diferentes formatos:
No estilo de rua, conhecido como “sangue”, o objetivo é ser mais criativo, afiado e impactante para superar o oponente;
Já nas ligas organizadas, como a Freestyle Master Series (FMS), existem regras claras, rodadas cronometradas e desafios técnicos, como mudança obrigatória de palavras a cada poucos segundos e rodadas com temas específicos.
Em entrevista ao g1, o rapper, que tem mais de 100 mil seguidores em uma das redes sociais, falou sobre a infância dividida entre o futebol e a música, as dificuldades do começo da carreiras e o reconhecimento nacional, além do preconceito pelo sotaque e origem e os planos para o futuro.
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Infância entre bola e música

Japa MC campeão estadual de batalha de rima em 2023
Redes sociais
Criado no bairro de Águas Claras, na capital baiana, Caio Lima da Silva, conhecido como “Japa”, passou a infância jogando futsal na quadra em frente a um convento onde funcionava um projeto social. O espaço oferecia aulas do esporte, capoeira e música, com o objetivo de afastar jovens da criminalidade.
O rap entrou na vida dele primeiro como ouvinte, com referências como Racionais MC’s. Aos 15 anos, decidiu assistir a uma batalha em um bairro vizinho e acabou subindo ao palco para rimar pela primeira vez.
“Meu sonho era ser jogador. A rima nem passava pela minha cabeça, mas quando percebi que o futebol não ia rolar, fui para minha primeira batalha e ganhei”, lembrou.
Segundo Japa, no começo, o treino era quase inexistente. Ele rimava por diversão com o amigo e vizinho Grior, colocando um beat para improvisar, mas sem estrutura ou planejamento.
Não escrevia versos, nem decorava rimas, apenas assistia a muitas batalhas para aprender formatos e estilos. O hábito de leitura, incentivado pela mãe desde pequeno, deu a ele um raciocínio rápido e um vocabulário amplo.
Com o passar do tempo, especialmente após ingressar na FMS, começou a adotar métodos mais técnicos, como exercícios cronometrados e prática de rimas temáticas.
“Hoje treino mais por causa da FMS. Faço exercícios com palavras e vídeos que mudam o tema a cada 10 segundos”, explicou.
No entanto, a paixão pelo futebol não acabou. Sempre quando vence uma batalha, Japa MC mostra a camisa do time do coração, o Esporte Clube Vitória.
Algumas conquistas inclusive são celebradas pelo Vitória e por torcedores do rubro-negro nas redes sociais.
Japa MC durante a Batalha da Aldeia especial 9 anos
Calebi Ferreira
Dificuldades no começo da carreira

Japa MC comenta sobre o apoio da sua família quando decidiu viver da música
No início, as batalhas em Salvador não entregaram retorno financeiro para Japa. Em muitos casos, foi necessário pagar inscrição e ainda arcar com transporte.
“Às vezes nem ajudavam com passagem. A família ficava preocupada: ‘Vai largar os estudos para ficar gritando na praça?’”, disse o MC.
A ida para São Paulo, quando tinha apenas 16 anos, ampliou a visibilidade e as oportunidades, mas também aumentou os custos. Por anos, Japa precisou equilibrar gastos básicos e participação em eventos, sem conseguir estabilidade financeira.
O artista conta que o pai dele sempre manteve uma postura mais aberta com suas escolha. Já a relação com a mãe foi marcada por resistência no início.
O momento mais difícil para ele aconteceu quando decidiu viajar para competir em São Paulo. “Ela [a mãe] disse: ‘Se tu for, nem volta’. Foi tenso, mas ela nunca me impediu de fazer minhas escolhas”, lembrou.
Com o tempo, ao ver o crescimento e os resultados, o apoio da mãe foi conquistado.
“Depois de uns dois, três anos, virou minha maior fã”, afirmou.
Reconhecimento nacional
Japa MC é campeão de uma das principais batalhas de rima do Brasil
As participações no Campeonato Nacional mostrou evolução ano a ano. Na primeira vez, foi eliminado logo no início. Nas edições seguintes, avançou até chegar à final em 2023, perdendo por apenas um voto.
“Perder na final é o que mais dói, porque só faltou um voto. Mas foi essencial para mim. Depois disso, ganhei visibilidade e aproveitei as oportunidades”, avaliou.
Após o vice no Nacional, Japa viveu um dos pontos mais altos da carreira ao vencer o aniversário da Batalha da Aldeia especial de 9 anos. O evento, considerado um dos mais importantes do freestyle no Brasil, reúne MCs de destaque e um grande público.
“Eu assisti o primeiro aniversário da BDA como fã. Nem rimava ainda e já achava absurdo. Estar nesse palco e vencer foi surreal. Tem gente que me vê hoje como eu via meus ídolos naquela época”, comemorou.
O rapper disse ainda que a atmosfera da competição é única, com energia do público e pressão positiva para entregar o melhor. “Nessas batalhas, me sinto obrigado a rimar dez vezes mais. Não me pressiona, me motiva”.
Preconceito pelo sotaque e origem
O sotaque baiano é parte da identidade de Japa, mas também já foi alvo de preconceito. Na entrevista ao g1, ele revelou que já houve situações em que jurados ou até mesmo o público evitaram votar nele por não ter nascido em São Paulo.
“Tem gente que não quer votar em mim por eu não ser de São Paulo. Isso sempre aconteceu. Enquanto tiver voz, vamos brigar por nosso espaço”.
Em Salvador, ele citou como exemplo positivo o “Terceiro Round”, disputa que proíbe rimas com teor racista, machista ou homofóbico, eliminando na hora quem as usa.
Planos para o futuro
Com oito anos de experiência no freestyle, Japa já tem músicas gravadas e pretende investir pesado na carreira musical.
“Ano que vem vou lançar pesado. A música está vindo com força. Quero mostrar que o que faço na batalha também posso levar para o estúdio”, projetou.
A ideia é conciliar os lançamentos com a participação em ligas como a FMS e manter a presença nas batalhas de rua, que considera a base da sua trajetória.
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