
Maratonista de Tietê (SP) é exemplo de superação ao abandonar vícios para treinar
O motorista e pintor Gilson dos Santos Machado, 48 anos, de Tietê (SP), recorre a uma frase para resumir a jornada de superação de vícios que ele vivenciou nos últimos anos: “Troquei a droga e a bebida por um par de tênis”.
Depois de pesar 160 quilos e passar por depressão, Gilsão, como é conhecido, encontrou nos treinos de maratona uma razão para mudar de vida.
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Gilson dos Santos Machado, 48 anos, de Tietê (SP), trocou o vício em drogas e álcool pela prática de corridas: exemplo de superação
Gilson Machado/Arquivo pessoal
Abandonou os antigos vícios para se dedicar com disciplina ao rigor do condicionamento físico, tornando-se um exemplo para outras pessoas, inclusive adolescentes, para os quais ministra palestras com frequência em Tietê.
“Hoje me sinto vivo, cheio de energia. Sinto prazer em me ver no espelho, não me escondo. Voltei a amar e poder dar amor. O esporte salvou minha vida”, afirma Gilsão, em entrevista ao g1.
Quem vê hoje o corpo de atleta, com músculos definidos, capaz de percorrer distâncias acima de 40 quilômetros, não imagina que em 2021 ele estava com obesidade mórbida e sequer pensava em correr.
Gilson dos Santos Machado, 48 anos, de Tietê (SP), trocou o vício em drogas e álcool pela prática de corridas: exemplo de superação
Gilson Machado/Arquivo pessoal
Fundo do poço
A história de vida de Gilsão é feita de sucessivos episódios de desafio e superação. Primeiro a superação do vício em drogas e álcool. Por causa da dependência, abandonou um filho aos 3 anos de idade.
Para se livrar dos vícios, contou com ajuda dos Alcoólicos Anônimos, onde ingressou em 2010. Ele conta que o apoio do grupo sempre foi fundamental, principalmente nas vezes em que pensou em desistir.
Começou então a comer sem parar e engordou até a obesidade se tornar patológica.
Sobreveio uma forte depressão, outro desafio. Segundo ele, a auto-estima era tão baixa que o impedia de se relacionar com a mulher. Numa viagem a dois, enquanto ela dormia na cama do quarto de hotel, ele se deitou na banheira cheia de água e espuma e refletiu sobre a vida.
“De repente, aquela espuma subiu e eu comecei a sufocar. Tentava sair e não conseguia, pois meu peso não me deixava levantar. Até hoje minha mulher não sabe disso, vai descobrir quando ler a matéria. Tinha muita vergonha da situação”, revela.
Durante uma consulta médica, o cardiologista lhe disse que a obesidade era caso de cirurgia. “Não conseguir fazer o teste da esteira, faltou ar e chorei a ponto da moça da clínica me consolar”, explica.
Os dois episódios, em 2021, são tidos por ele como o fundo do poço. Percebeu que, a partir dali, precisava mudar de vida.
Gilson dos Santos Machado, 48 anos, de Tietê (SP), trocou o vício em drogas e álcool pela prática de corridas: exemplo de superação
Gilson Machado/Arquivo pessoal
Volta por cima
Gilsão, que sempre gostou de jogar futebol, mas nunca seguiu adiante com as atividades físicas, começou por conta própria uma série de treinos em academia. Também mudou a alimentação, deixando de lado o que mais gostava de comer.
“Sofri muito, pois via a pessoa comer e beber e sabia que eu não podia”, recorda-se.
A mudança de hábitos resultou na perda de 60 quilos ao longo de um ano. Convidado por uma amiga, experimentou participar de um evento de corrida em Tietê pela primeira vez em 2022. Vibrou ao completar o percurso de cinco quilômetros.
“Quase morri. Jamais me vi correndo na rua. Nunca gostei nem de caminhar. Porém, quando cruzei a linha de chegada, senti uma sensação: eu consegui”, declara.
Gilson Machado (2º em pé, da direita para a esquerda), com o grupo de corridas Time Runner, de Tietê (SP): exemplo de superação do vício em drogas e álcool por meio da prática esportiva
Gilson Machado/Arquivo pessoal
Disciplina diária
Na corrida, Gilsão teve contato com Renato Simões e Thais Vidotto, casal de treinadores do grupo Time Runner, e que prestam assessoria para corredores de rua no município.
A ajuda dos dois foi decisiva para Gilsão superar outro momento de forte depressão, no ano passado.
“Eles perceberam minha tristeza, e me chamaram para conversar. Deram uma planilha de treinos. Essa planilha, que hoje eu chamo de ‘minha disciplina diária’, salvou minha vida. Saí da depressão e voltei a ter coragem e vontade de viver”, afirma ele.
Além de corridas de média distância em várias partes do Estado de São Paulo, Gilsão já participou de duas maratonas de 42 quilômetros. Ele compartilha o desempenho nas provas e a rotina diária de treinos e alimentação no perfil nas redes sociais, além das palestras para grupos de jovens sobre vício, depressão e obesidade.
Gilson Machado, 48 anos, de Tietê (SP), em segundo lugar no pódio, no ano passado: na ocasião, reencontrou o filho abandonado aos 3 anos por causa do vício
Gilson Machado/Arquivo pessoal
Reencontro como troféu
Para o maratonista, o prêmio da superação ocorreu no ano passado, ao final de uma corrida no Tietê Esportiva Clube (TEC). Ele subiu no pódio em segundo lugar, mas mais importante foi reencontrar o filho abandonado na infância.
“Meu filho estava trabalhando no clube. No passado ele viu o pai caído na rua por causa do vício. Ali, ele me viu subir no pódio e ganhar um troféu. Foi emocionante”, conta Gilsão.
O maratonista diz que agora só quer viver e deixar as pessoas viverem. “Descobri que bens materiais vão e voltam. Se não voltar, não era para ser seu. Mas amor, amar e ser amado, isso é tudo para mim hoje”, ressalta.
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