
No meio do Atlântico Sul, bem acima do sul do Brasil, existe uma falha no campo de força do nosso planeta. Essa região, conhecida como Anomalia Magnética do Atlântico Sul, é como um ponto cego no escudo magnético da Terra. Esse campo é nossa principal defesa contra o bombardeio constante de partículas carregadas vindas do Sol.
Na prática, essa anomalia funciona como um funil por onde a radiação cósmica consegue penetrar mais profundamente. Satélites que orbitam a Terra e a própria Estação Espacial Internacional precisam se preparar para essa passagem. Ao cruzar a área, os controladores na Terra frequentemente desligam sistemas não essenciais dessas naves. O objetivo é evitar danos graves aos delicados circuitos eletrônicos, que podem ser queimados pelas partículas energéticas. Astronautas que atravessam a região também relatam maior incidência de flashes luminosos nos olhos, provocados pela interação das partículas com a retina.
Mas o que causa essa falha colossal em nossa proteção? A origem do fenômeno está nas profundezas do planeta. Geofísicos acreditam que o movimento do ferro fundido no núcleo externo da Terra gera o campo magnético. No entanto, sob o continente africano, uma imensa estrutura de rocha excepcionalmente quente, chamada de Superpluma Africana, influencia esse processo. Essa massa se estende de 300 a 900 quilômetros de profundidade, perturbando a geração normal do magnetismo.
O resultado é um enfraquecimento do campo que se projeta para o espaço, criando a anomalia. Dados de satélites da NASA mostram que essa região não é estática. Ela se move lentamente para o oeste e, curiosamente, parece estar se dividindo em dois núcleos separados de intensidade mínima. Modelos indicam que, se esse enfraquecimento continuar, a anomalia poderá crescer e ocupar áreas ainda mais extensas do Atlântico e da América do Sul.
Esse comportamento alimenta um debate científico fascinante. Alguns pesquisadores veem a anomalia como um possível sinal de um evento raro e de grande escala: uma inversão dos polos magnéticos norte e sul. Essas inversões já aconteceram inúmeras vezes na história da Terra, sendo a mais recente há cerca de 780 mil anos. Embora não haja indícios de que isso aconteça de forma abrupta, o processo pode levar milhares de anos e alterar significativamente a forma como a radiação solar atinge o planeta.
Caso ocorra uma nova inversão, as consequências seriam amplas. As bússolas apontariam para direções opostas, as rotas migratórias de aves e tartarugas poderiam ser desorientadas e as redes elétricas ficariam mais vulneráveis a tempestades solares. Apesar desses riscos, estudos indicam que a vida no planeta já atravessou várias inversões magnéticas no passado sem extinções em massa, sugerindo que os impactos seriam desafiadores para a tecnologia, mas não catastróficos para a biosfera.
Os efeitos da anomalia vão além dos satélites. Um estudo recente de 2024 mostrou que essa falha magnética tem impacto direto na atmosfera superior. Ela interfere na formação de auroras, fazendo com que esses espetáculos de luz, normalmente restritos aos polos, possam ser avistados em latitudes mais baixas e incomuns. Além disso, há indícios de que a região influencia a propagação de sinais de rádio e até mesmo os sistemas de navegação baseados em satélites, como o GPS.
A Anomalia do Atlântico Sul é, portanto, muito mais do que um inconveniente para a tecnologia. Ela é um laboratório natural. Cientistas a veem como uma janela única para entender as forças dinâmicas e turbulentas que operam no núcleo da Terra. Monitorar sua evolução é crucial para prever futuras mudanças no campo magnético global, nosso protetor invisível contra a radiação do espaço.
Esse Anomalia sobre o Brasil pode ser indício de mudança nos pólos foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.