
Da invenção do estetoscópio à telessaúde, a medicina vem se aperfeiçoando ao longo do tempo, aos novos contextos e necessidades. Na era da Inteligência artificial e das redes sociais não seria diferente.
A tecnologia tem transformado como o médico e o próprio paciente enxergam a saúde, criando novos caminhos e possibilidades que antes pareciam distantes.
Os impactos são muitos, mas se dividem entre positivos e negativos. Nesta nova era, qual é o limite entre tecnologia e medicina e qual será o futuro de uma das principais profissões do mundo?
IA como aliado e não como especialista

“Tenho dor de cabeça, o que pode ser?” ou “quais os sintomas da gripe?” são alguns dos exemplos que aparecem frequentemente nos mecanismos de busca.
Uma pesquisa feita pela Hibou em 2023, com mais de 1100 brasileiros revelou que 45% dos entrevistados procura respostas para seus sintomas na internet. Para muitas pessoas, o pronto-socorro agora está na tela dos dispositivos e no chat da inteligência artificial.
Segundo o advogado Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), este é o novo paciente: mais conectado e com mais acesso à informação — seja ela de qualidade ou não.
O paciente do século XXI é diferente do século passado. Antes não tínhamos uma enciclopédia médica em casa, mas hoje a pessoa tem acesso a todas as informações no celular.”
Raul Canal, advogado
Para o advogado, este é um terreno perigoso para o médico já que, em alguns casos, o paciente pode se autodiagnosticar de forma equivocada.
“Às vezes, o paciente já tem um outro diagnóstico formado totalmente conflitante com aquele que o médico chegou. Esse paciente está cada vez mais exigente e exige do médico um resultado que não está ao alcance ou que não é correto”, completa.
Apesar dos desafios, a IA também oferece grandes avanços e sua consolidação, já iniciada, no meio médico é inevitável. Quando usada como aliada, pode auxiliar no processamento de dados médicos, monitoramento de pacientes e em muitos outros aspectos.
Para o médico Edwaldo Edner Joviliano, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), o segredo está em entender que a Inteligência artificial é uma ferramenta importante, mas o foco central ainda é o médico.
“Existem resistências naturais a toda nova tecnologia, mas ela é inevitável. A IA vai acontecer e já está acontecendo a muito mais tempo do que pensamos. Então, cabe a nós aprendermos adequadamente, como aplicá-la e evitando excessos que nos façam reféns”, completou.
O médico nas redes sociais
Como boa parte das profissões, a divulgação médica também tem migrado para as redes sociais. Os perfis online se tornaram vitrines e os clientes estão a um click de distância.
Com este novo modelo de negócios, as regras também precisaram se adaptar. Em uma resolução publicada em 2023 o Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizou as regras para a publicidade médica.
Passou a ser permitido a divulgação de equipamentos disponibilizados e o uso de imagens de pacientes em caráter educativo. Entretanto, Raul Canal faz um alerta, os médicos ainda precisam ser cautelosos com a exposição.
“Não pode ter um critério mercantilista ou sensacionalista. É para divulgar um resultado do ponto de vista médico científico e não usar como sensacionalismo para atrair novos pacientes”, destacou. “Você não pode também identificar o paciente, mesmo ele autorizando, não pode ter sinal que permita alguém reconhecer aquela pessoa.”
Se atualizar é a chave para o futuro
A profissão do médico já exige atualização constante, mas com um futuro cada vez mais tecnológico a necessidade tomou uma nova proporção.
Raul Canal e Edwaldo Edner Joviliano estiveram em Vitória para o Encontro Capixaba de Angiologia e de Cirurgia Vascular, que aconteceu entre os dias 22 e 23 de agosto.
O evento teve como objetivo trazer para o Espírito Santo as novas alternativas terapêuticas e técnicas aplicadas na área.
Para o médico Giuliano de A. Sandri, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular – Regional do Espírito Santo, buscar conhecimentos que vão além é essencial para quem olha para o futuro da medicina.
A atualização na área da saúde, em geral, é importantíssima porque as mudanças ocorrem muito rápido. Nós falamos que quando você compra um livro texto, por exemplo, ele já está uns seis anos atrasados. Quando você lê um artigo científico, geralmente ele está uns dois anos atrasado em relação ao que está sendo produzido de novidade.”
Giuliano de A. Sandri