
A cada 26 segundos, um pulso imperceptível percorre o planeta. É uma vibração sutil, mas poderosa o suficiente para ser captada por estações sísmicas em todos os continentes. Esse fenômeno regular e misterioso é um dos enigmas mais duradouros da geofísica moderna.
Esse sinal, conhecido como microsismo, não é um terremoto. Ele não causa destruição nem pode ser sentido pelos seres humanos. Sua existência só é revelada através de equipamentos sensíveis. A descoberta desse ritmo constante abalou as certezas da ciência e iniciou uma caça por respostas que já dura mais de seis décadas.
A origem desse pulso foi rastreada até uma região específica do globo. Toda a evidência aponta para o Golfo da Guiné, na costa oeste da África. Apesar de sabermos de onde ele vem, o que exatamente o causa permanece um quebra-cabeça sem solução. Esse é um mistério que resiste ao tempo e ao avanço da tecnologia.
A Descoberta nos Anos 60

O pulso sísmico vem acompanhado de variações de frequência, segundo pesquisas de 2023 (EFE/Ulises Rodríguez)
A história desse pulso começou no início da década de 1960. O geólogo Jack Oliver, da Universidade de Columbia, analisava dados de diversas estações sísmicas quando notou algo incomum. Havia um sinal que se repetia com uma precisão impressionante.
Oliver viu que a cada 26 segundos, sem falha, os sismógrafos registravam uma vibração de baixa frequência. Ele publicou suas observações em 1962, descrevendo o fenômeno como uma “tempestade global de microsismos”. Diferente dos abalos sísmicos comuns, que são caóticos e breves, este era constante e se propagava por todo o planeta.
A clareza e a regularidade do sinal descartavam explicações simples, como mau funcionamento dos equipamentos ou interferência do vento. Oliver apresentou duas teorias iniciais. A primeira sugeria que ondas oceânicas de grande poder golpeavam a plataforma continental no Golfo da Guiné. A segunda hipótese considerava a possibilidade de atividade magmática no fundo do Atlântico.
A Busca no Golfo da Guiné
Com o passar dos anos, a investigação se aprofundou. Dados sísmicos da África, Europa e das Américas confirmaram que a fonte do pulso era mesmo uma área precisa no Golfo da Guiné, perto da Baía de Bonny e da ilha de São Tomé.
Jack Oliver fortaleceu sua hipótese com relatos de testemunhas oculares. Em 1963, ele coletou depoimentos de marinheiros que navegavam na região. Eles descreveram ondas excepcionalmente fortes e destrutivas. O capitão do navio African Moon contou que o mar estava tão agitado no porto de Tema, em Gana, que as amarras de seu navio se romperam repetidas vezes.
Esses relatos apoiavam a ideia de que ondas gigantes, originadas de tempestades no Atlântico Sul, viajavam milhares de quilômetros para golpear a plataforma continental africana. A geografia única do Golfo da Guiné poderia, então, funcionar como um tipo de tambor gigante, gerando a vibração rítmica. No entanto, a proximidade da ilha vulcânica de São Tomé também levantou suspeitas sobre uma possível origem geotermal ou magmática, embora nenhuma atividade vulcânica superficial tenha sido encontrada.
Novas Tecnologias, Novos Dados
O século XXI trouxe instrumentos mais precisos e uma rede global de estações sísmicas. Esses avanços permitiram um estudo mais detalhado do pulso. Em 2006, uma equipe liderada por Nikolai Shapiro usou essa tecnologia para medir a velocidade da onda. Eles confirmaram que ela viaja a 3,5 quilômetros por segundo, uma velocidade típica para ondas sísmicas superficiais.
Essa mesma pesquisa notou que a intensidade do sinal aumentava durante o inverno no hemisfério sul. Essa variação sazonal era uma pista importante, pois sugeria uma ligação direta com condições oceânicas e climáticas.
Um estudo de 2013 trouxe uma reviravolta intrigante. Os pesquisadores identificaram não uma, mas duas fontes distintas de pulsos no Golfo da Guiné. Uma delas, com uma frequência ligeiramente diferente, estava localizada perto do vulcão em São Tomé. A outra, a fonte original do pulso de 26 segundos, permanecia sem uma explicação clara. O estudo concluiu que os modelos atuais não conseguiam explicar satisfatoriamente aquele sinal específico.
O Mistério se Aprofunda
Em 2023, uma nova camada de complexidade foi adicionada ao enigma. Uma pesquisa publicada na Nature Communications Earth & Environment descobriu que o pulso principal às vezes exibe “deslizamentos de frequência”. Isso significa que a vibração constante ocasionalmente acelera sua frequência de forma progressiva, em eventos que podem durar vários dias.
Esses deslizamentos partem do mesmo local e começam na mesma frequência básica. Esse comportamento repetitivo e variável aponta para a existência de um processo físico complexo e ainda desconhecido. Esse processo seria capaz de produzir tanto um sinal extremamente estável quanto essas variações harmônicas.
As teorias atuais continuam divididas. Alguns cientistas propõem que um sistema hidrotermal ou uma câmara magmática subterrânea poderia ressoar e liberar energia de forma rítmica. A pressão de gases ou a geometria de dutos rochosos poderiam criar essa cadência precisa.
Outros mantêm a hipótese oceânica, acreditando que o choque de poderosas ondas contra a plataforma continental naquele local exato é o mecanismo gerador. No entanto, nenhuma teoria consegue, sozinha, explicar toda a regularidade, a persistência, a potência e as recentes descobertas sobre as mudanças de frequência.
O pulso de 26 segundos da Terra continua. Ele é um lembreta humilde de que nosso planeta ainda guarda segredos profundos. Esse som não ouvido é um convite permanente para a exploração e uma prova de que a busca pelo conhecimento é uma jornada sem fim.
Esse A Terra está pulsando: misterioso sinal sísmico que se repete a cada 26 segundos intriga a ciência foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.