A transformação digital e a inteligência artificial (IA) já não são temas distantes da indústria de celulose. Segundo Ari Medeiros, conselheiro consultivo do Nexum Group com mais de quatro décadas de experiência no setor, a chamada Indústria 5.0 coloca o ser humano como protagonista da revolução tecnológica, em um movimento que traz impactos diretos para a operação fabril e para os trabalhadores.
DA INDÚSTRIA 4.0 À INDÚSTRIA 5.0
Medeiros lembra que o conceito de Indústria 4.0 surgiu na Alemanha, inicialmente nas montadoras automobilísticas, como Mercedes, BMW, Audi e Volkswagen, trazendo automação e digitalização para o centro das fábricas.
“Na sequência, a inteligência artificial passou a ser incorporada como parte dessa transformação digital. As indústrias que acompanham esse movimento estão se tornando protagonistas e ganhando vantagens competitivas”, afirmou.
Hoje, explica Medeiros, o setor já vive um novo momento. “Estamos no conceito de Indústria 5.0, que é o homem como protagonista da transformação digital. É um caminho sem volta. A inteligência artificial veio para agregar cada vez mais em resultados, otimização de processos e ganho de valor”.
A QUESTÃO DA MÃO DE OBRA
Se por um lado a automação expande a eficiência, por outro surge um desafio central: a escassez de profissionais. Para Medeiros, o problema não está em demissões causadas pela IA, mas sim na dificuldade em atrair e reter jovens para o ambiente fabril.
“Não está havendo demissões por causa da IA. O que existe é uma dificuldade em trazer a nova geração para dentro das fábricas. A geração mais jovem só quer trabalhar se enxergar propósito muito claro”, explicou.
Segundo ele, formar um operador de máquina, mecânico ou técnico florestal leva em média dois anos. “O risco é treinar esse jovem por dois anos e, em pouco tempo, vê-lo sair em busca de outra oportunidade. Esse é o grande dilema: como atrair e como reter”, disse.
Medeiros aponta que empresas, academias e instituições de formação técnica, como o Senai, precisam trabalhar em conjunto para oferecer soluções. “Temos que criar programas que aproveitem regiões com abundância de mão de obra e promovam a formação de jovens. Mas também é necessário manter esse engajamento, esse brilho nos olhos, para que eles permaneçam”.
CAMINHO SEM VOLTA
Ao ser questionado sobre o receio de trabalhadores em relação à IA, Medeiros é categórico. “Quem não acompanhar a evolução vai ficar para trás. Não tem como remar contra a maré ou frear algo que é uma evolução da humanidade. Inteligência artificial é exponencial e não há retrocesso”.
Ele lembra que o avanço da tecnologia já impacta diretamente a rotina de executivos e profissionais de todas as áreas. “Eu nunca quis fazer apresentações em PowerPoint, mas hoje a própria IA já resolve isso. É um exemplo simples de como essa ferramenta facilita tarefas e elimina etapas repetitivas”.
PERSPECTIVAS
Medeiros destaca que o avanço da inteligência artificial está ligado também a outros temas estratégicos, como diversidade, inclusão e ESG. Além disso, aponta a China como exemplo de país que apostou maciçamente em transformação digital e já colhe resultados.
“Em 2030, a China será a maior economia do mundo porque vem investindo em transformação digital há mais de 15 anos. Esse protagonismo é o que define a competitividade”, afirmou.
Para ele, a mensagem aos profissionais da indústria de celulose é clara: “Todos nós precisamos evoluir gradativamente. Quem não acompanhar o bonde da evolução vai ser atropelado”.
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