
Alergia à Proteína do Leite de Vaca acomete cerca de 1% dos bebês de até dois anos; sintomas variam de problemas gastrointestinais à anafilaxia. A influenciadora digital Viih Tube e o filho Ravi, de seis meses
Reprodução/Instagram
A influenciadora digital Viih Tube revelou o motivo pelo qual o filho Ravi, de seis meses, passou semanas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) assim que nasceu: ele teve uma variação grave da Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV).
A doença, que acomete cerca de 1% de bebês e crianças de até dois anos, pode desencadear sintomas como urticária, problemas gastrointestinais e até sinais mais graves, como choque anafilático.
“Com sete dias de vida, Ravi começou a demonstrar desconforto abdominal. Ele soltava gases com cheiro forte, e com o tempo apareceram manchas na pele e fezes com sangue”, disse Viih. Ravi ficou internado por semanas até que os médicos consideraram a hipótese de APLV.
Membro do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Mara Alves explica que não há exames que detectem a doença. A única forma de diagnóstico é pelo teste de provocação oral.
Esse teste suspende toda alimentação à base de leite não só do bebê, mas das mães que amamentam. Se o bebê tiver APLV, os sintomas começam a cessar após 15 dias sem ingerir a proteína.
Principais sintomas de APLV (podendo ou não estar associados)
Urticária
Dermatite Atópica
Cólicas intensas
Diarréia
Gases com mau odor
Vômitos
Constipação
Perda de peso/dificuldade em ganhar peso
Desidratação
Desnutrição
Choque anafilático
Diagnóstico tardio é problema
Mara detalha que a falta de um exame detectivo faz com que muitas crianças demorem a ser diagnosticadas com a alergia. Foi o que aconteceu com a empresária Jheniffer Verônica. Ela passou sete meses vendo o filho ter desidratação por diarréias incessantes e dermatite atópica. Quando os médicos acertaram o diagnóstico, ela aboliu todos os derivados de leite da dieta.
Aos quatro anos, o menino criou resistência e deixou de ter a alergia. Segundo Mara, é comum que crianças desenvolvam essa resistência até os dois anos, sendo ínfimos os casos que se estendem até a adolescência.
No entanto, Jheniffer engravidou de sua segunda filha. Assim que nasceu, a bebê passou a apresentar sintomas similares aos do irmão –constipação que só se resolvia com supositórios e desconforto abdominal.
Initial plugin text
“A médica evitou ao máximo começar o protocolo de corte de derivados do leite na minha alimentação porque é algo que mexe muito com a saúde mental das mães. Mas depois de descartar as outras hipóteses, era a única que havia restado”, conta Jheniffer ao g1.
Quinze dias longe de derivados de leite foram suficientes para que Bella melhorasse nitidamente. Junto à pediatra que acompanhava a filha, ela seguiu com o protocolo, até que um dia foi pega de surpresa: respingaram três gotas de leite no braço dela, e no mesmo momento a menina entrou em choque anafilático.
“Sorte que eu já tinha estudado muito esse tipo de sintoma mais grave em crianças com APLV, então eu reconheci os sinais: ela começou a ficar sonolenta, com falta de ar e a glote começou a fechar. Corremos com ela para o hospital”, conta.
Bella adquiriu resistência à proteína do leite também aos quatro anos.
“Essa ‘cura’ acontece sozinha, não é estimulada por medicamentos. A cada período de seis meses, com acompanhamento médico, a criança é exposta à proteína do leite para identificar se já tem resistência. Caso ainda reaja negativamente, corta-se mais uma vez todos os derivados da dieta”, explica Mara.
Renata Festa e o bebê, Rafael
Arquivo Pessoal
Com Rafael, filho da comunicadora Renata Festa, a imunidade veio antes. Aos dois anos, depois de alguns testes alimentares, os médicos perceberam que ele estava livre da APLV. Ainda assim, até esse momento chegar, a mãe também viveu momentos desesperadores.
“Os primeiros sintomas do Rafael foram soluços e cólicas fortíssimas aos quinze dias de vida. A partir de então, ele não ganhou peso de jeito nenhum, e começou a perder”, conta.
Ela diz à reportagem que o bebê mamava bem, e que então os médicos começaram a suspeitar da qualidade do leite dela. Trocaram a amamentação por fórmula, mas os sintomas não apenas não cessaram como pioraram.
“A pediatra foi trocando uma fórmula por outra, mas nada resolvia. Ele não ganhava peso de nenhum jeito, pelo contrário, perdia cada vez mais. Tinha diarréias homéricas, soltava muitos gases e fazia cocô com muco”, conta.
Pesquisando, ela leu sobre a APLV e levou a hipótese à pediatra, que descartou. Até que após ser vacinado contra rotavírus (um imunizante que leva proteína do leite de vaca), Rafael começou a fazer cocô com sangue.
“Esse sintoma junto à perda de peso –meu filho estava na linha da desnutrição– fez com que ela repensasse e cogitasse o diagnóstico”, diz Renata. Começamos a dieta sem leite e derivados. Em duas semanas, ele não tinha mais sintomas. Em dois meses, retomei o consumo de leite para testar se os sinais voltariam, tudo com acompanhamento médico, e foi imediato. Naquela noite, ninguém dormiu em casa de tanto que o Rafael chorava de cólica.”
Renata passou a dar ao filho fórmulas com aminoácidos que quebravam minuciosamente a proteína do leite e, depois de alguns meses, voltou a amamentá-lo.
Pediatra da Rede D’Or São Luiz e do Hospital Sabará Infantil, Layla Faleiros explica que mães de bebês APLV não devem cessar a amamentação, pelo contrário. As proteínas do leite materno, desde que a mãe não consuma derivados de leite, são importantíssimas para a recuperação da microbiota dos bebês alérgicos.
“Quando um bebê tem APLV, o corpo reage às proteínas do leite de vaca como se fossem invasores, isso significa que o próprio corpo se ataca”, ela diz.
Não consumir leite na gravidez evita APLV?
Ainda segundo a especialista, cortar derivados de leite na gravidez no intuito de evitar uma possível alergia é ineficaz. “A restrição do leite de vaca e derivados para a mãe somente deve ser considerada se houver reações comprovadamente alérgicas no bebê”, ela diz.
Estudos indicam o oposto: se a mãe não tem contato com essa proteína durante a gestação, pode aumentar as chances de a criança desenvolver a alergia, uma vez que a proteína será desconhecida pela criança.
Renata Festa, comunicadora que conscientiza mães sobre a APLV
Arquivo Pessoal
Após a experiência com o filho, Renata Festa criou uma página nas redes sociais onde detalha sua experiência com a Alergia à Proteína do Leite de Vaca. O intuito, ela conta, é informar mães que se desesperam sem um diagnóstico.
“Eu não tive referências, por isso demoramos tanto para fechar o diagnóstico e, portanto, começar o tratamento. Levar informações a outras mães é importante para que a doença seja mais conhecida.”
Segundo Mara Alves, da Sociedade Brasileira de Pediatria, APLV e intolerância à lactose são condições distintas.
“A APLV nada tem a ver com a intolerância à lactose. São doenças diferentes, e com tratamentos diferentes. Uma pessoa com intolerância até pode consumir, em quantidades pequenas, derivados de leite. Crianças com APLV não podem sequer chegar perto.”