Recepção do governo Lula à pauta das centrais foi positiva, diz diretora do Dieese

Após anos de desmonte das políticas de valorização do trabalho e perda de direitos, a classe trabalhadora brasileira começa a recuperar espaço de diálogo com o governo federal. Em entrevista ao Conexão BDF, do Brasil de Fato, diretamente de Brasília, a diretora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino, relatou os bastidores da entrega da carta com reivindicações das centrais sindicais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), realizada nesta terça-feira (29), no fim da Marcha da Classe Trabalhadora.

Marcolino lembrou que o documento atualiza uma pauta entregue ainda em 2022, durante a campanha eleitoral, e cobra avanços em pontos ainda pendentes. Entre as principais reivindicações estão o fim da escala 6×1, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, a consolidação de uma política nacional de cuidados, além da regulamentação da negociação coletiva no setor público. Servidores públicos federais, estaduais e municipais também levaram pautas específicas à marcha.

O movimento sindical reconhece que pautas como a valorização do salário mínimo, a política de igualdade salarial entre homens e mulheres e a retomada do Bolsa Família já foram incorporadas, mas pede urgência no avanço nos demais pontos. “A primeira versão da pauta foi entregue ao então candidato Lula em 2022. Algumas propostas já foram incorporadas ou estão em tratativas, e agora as centrais reforçam a importância do que foi acatado e a necessidade de avançar nos pontos ainda não contemplados”, explica.

Ela destacou que a política de valorização do mínimo, interrompida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi fundamental no passado para reduzir desigualdades de gênero, raça e região, e que sua retomada é positiva, com 9% de ganho real até aqui. Mas ainda avalia a medida como insuficiente diante das perdas acumuladas.

“Tivemos um período de precarização no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, houve aumento nos preços e no custo de vida. Os salários não foram reajustados de forma condizente com a situação econômica do país, o que impacta a vida da classe trabalhadora, que hoje não consegue fechar o orçamento com o que recebe”, alertou.

Outro ponto sensível é a alta na inflação dos alimentos. Marcolino lembrou que os preços se mantêm elevados desde a pandemia, com a destruição dos estoques reguladores. “Cada vez que aumenta o preço dos alimentos, a classe trabalhadora sente mais. O governo está tentando retomar um conjunto de políticas que são muito relevantes para ajudar a garantir o abastecimento de alimentos e a redução dos preços, mas são políticas têm um tempo de maior de maturação”, explicou.

Segundo a diretora do Dieese, a recepção do presidente Lula e de seus ministros aos líderes sindicais foi positiva. “As centrais apresentaram os pontos de destaque dessa atualização da pauta de 2022, e o os ministros comentaram a importância da pauta, de um espaço democrático de diálogo, para trazer elementos que possam encaminhar essas pautas da classe trabalhadora nos projetos nacionais.”

A Marcha da Classe Trabalhadora reuniu milhares de pessoas em Brasília nesta terça. O ato integra a Jornada Nacional de Lutas, organizada pelas centrais sindicais em preparação para o 1º de Maio, Dia do Trabalhador.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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