Usar o transporte público todos os dias é uma verdadeira maratona para muitos capixabas. Ônibus lotados, atrasos que atrapalham os compromissos e longas viagens entre a casa e o trabalho ou o local de estudo são problemas comuns.
Para tentar reverter essa realidade, o governo do Espírito Santo anunciou nos últimos meses uma série de investimentos que prometem melhorar a vida de quem depende do transporte na Grande Vitória.
Leia também: Todo dia, a mesma batalha: os desafios de quem depende do transporte público
Transporte público na Grande Vitória: veja investimentos
Entre os principais investimentos estão a ampliação do sistema aquaviário, a modernização da Rodoviária de Vitória e o fortalecimento do sistema Transcol.
No entanto, esses projetos, embora promissores, também enfrentam desafios quanto à adesão da população e à integração efetiva entre os diversos modais.
Segundo dados da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Ceturb-ES), o sistema faz mais de 20 mil viagens por dia, levando cerca de 600 mil pessoas diariamente.
Os dados da companhia mostram que mais de 15 milhões de passageiros usam o Transcol por mês. Isso destaca a grande importância do sistema para a vida na cidade e para ligar os diversos municípios da Grande Vitória.
“Eu dependo do ônibus para tudo, ir para o trabalho, voltar para casa… É o jeito que tenho para me locomover. Mas todo dia é uma luta, sabe? É ônibus que atrasa e, quando chega, vem lotado que mal dá para respirar. A gente acaba se acostumando, mas não devia ser assim. Deveria ter mais opções viáveis de locomoção. A gente só queria um pouco mais de respeito e um transporte que funcionasse melhor para quem precisa tanto dele”, afirma a técnica em análises clínicas Fabíola Goes.
Aquaviário: desafio é combinar barcos e ônibus no dia a dia
O sistema de transporte por barcos, o aquaviário, voltou a funcionar como uma esperança para diminuir o trânsito e também desafogar o transporte por ônibus. Mas esse modal ainda é pouco usado, transportando menos de 1% do total de passageiros.
Para muita gente, a dificuldade de chegar às estações ou de combinar o barco com outros transportes impede o uso dessa opção.
Para alguns, os barcos já são uma boa solução. O vendedor Carlos Baldan, por exemplo, conta como o aquaviário facilitou sua vida.
“É cômodo pegar um barco de Porto de Santana, em Cariacica, para a Praça do Papa, em Vitória, e da Praça do Papa para a Prainha, em Vila Velha, e caminhar um pouquinho até o meu local de trabalho”, diz.
Bicicletas como opção
Usar a bicicleta para se locomover e para o lazer também está cada vez mais comum na Grande Vitória. Seja para economizar, fazer bem à saúde ou para chegar mais rápido em lugares próximos, o número de ciclistas tem aumentado.
Além disso, a bicicleta é uma solução que pode ajudar a desafogar o trânsito e, consequentemente, auxiliar o transporte público.
Contudo, esse crescimento esbarra em um problema para quem utiliza bicicletas no dia a dia: a falta de ciclovias seguras e bem conectadas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), só 80 mil capixabas moram perto de alguma ciclovia ou ciclofaixa.
A doutora em Engenharia de Transportes Gesiane Silveira Pereira destaca a importância da infraestrutura para os ciclistas.
“É uma forma de locomoção muito eficiente, mas, para isso, é necessário que tenha uma infraestrutura que garanta segurança para os ciclistas se locomoverem nas vias e locais para deixarem a bicicleta e poder se integrar aos outros modos de transporte”, afirma a especialista.
Para Gesiane, quando se fala de mobilidade urbana, é importante pensar em melhorias do transporte público para atrair o usuário do transporte individual para ele.
“É preciso fazer com que os carros saiam das vias. E, para isso, a gente precisa priorizar o transporte público”, ressalta.
Reforma de rodoviária e ampliação do aquaviário
Em janeiro deste ano, o governo anunciou o início das obras de reforma da Rodoviária de Vitória e a ampliação do aquaviário.
Com investimento de R$ 20 milhões, as obras têm prazo de 12 meses para execução e visam modernizar a rodoviária, melhorando áreas de embarque, desembarque, estacionamentos, bicicletário e outros espaços, além de expandir o sistema aquaviário com a construção de um novo píer, tornando-o a quarta estação.
O objetivo é transformar a rodoviária em um Terminal de Integração de Mobilidade, conectando diferentes modais de transporte, como Transcol, táxis, veículos de aplicativo, transporte intermunicipal e até a estação ferroviária, buscando mais eficiência e conforto aos passageiros.
A reforma e a ampliação buscam otimizar a mobilidade na Grande Vitória, com mais opções de deslocamento e maior integração entre os sistemas de transporte.
Com a ampliação do aquaviário e a modernização da rodoviária, o governo espera oferecer soluções que facilitem o deslocamento, diminuindo o tempo de viagem e melhorando a qualidade de vida da população.
O secretário de Estado de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno, destaca que a modernização trará mais rapidez e comodidade para os passageiros, permitindo uma melhor experiência de viagem.
“A rodoviária vai ligar o aquaviário, que vai chegar nela; os ônibus rodoviários intermunicipais e interestaduais; o Transcol, que é nosso transporte metropolitano, e a ferrovia, que liga Vitória a Minas Gerais”, revela.
O secretário também falou sobre a ideia de ter uma linha do Transcol específica para essas pessoas que ligam transporte rodoviário, metropolitano, aquaviário, junto com o trem.
“A integração é fundamental em qualquer sistema de transporte e de boa mobilidade no mundo”, comenta.
Investimentos em ônibus elétricos e acessibilidade
Segundo informações da Ceturb, o sistema vem passando por um processo de renovação desde 2019, com melhorias na frota, ampliação de rotas, uso de tecnologia e implantação de mecanismos como o Cartão GV e a integração temporal.
O Sistema Transcol deve receber 50 novos ônibus elétricos, como parte do investimento de R$ 150 milhões viabilizado pelo governo federal por meio do PAC Seleções Cidades.
Além dos veículos, estão previstas 20 estações de recarga nos terminais de integração da Região Metropolitana da Grande Vitória, com o objetivo de estruturar a operação da frota elétrica e contribuir para a redução de emissões e poluição sonora.
Atualmente há quatro ônibus elétricos em circulação, e a previsão é ampliar esse número. Outros 150 veículos com ar-condicionado devem chegar até o fim do ano.
Também foram entregues, em março, 11 veículos do novo Transcol + Acessível, serviço voltado ao transporte de pessoas com deficiência motora, especialmente cadeirantes.
A expectativa é que até o fim do ano, a nova frota conte com 30 vans adaptadas e climatizadas, substituindo os antigos micro-ônibus sem ar-condicionado. As vans transportam até três cadeirantes com seus acompanhantes e têm maior capacidade de circulação em áreas com difícil acesso.
De acordo com a Ceturb, a reformulação do serviço inclui ainda a possibilidade de escolha de acompanhantes e transporte de dependentes. A iniciativa busca ampliar a acessibilidade e a autonomia dos usuários.
Segundo a Secretaria de Mobilidade e Infraestrutura, desde 2019 todos os veículos incorporados ao Sistema Transcol já contam com acessibilidade, e a modernização é parte de um processo contínuo de renovação da frota.
*Texto de Breno Ribeiro, com informações do repórter Lucas Pisa, da TV Vitória/Record
