O Instituto de Estudos da Religião (Iser) lançou o movimento Vigílias Pela Terra rumo à COP 30, com a primeira edição marcada para esta sexta-feira (17), a partir das 15h, na Orla do Guaíba, em Porto Alegre, próximo à Usina do Gasômetro. A ação, de caráter inter-religioso, reunirá lideranças espirituais, movimentos sociais, coletivos, comunidades de fé e pessoas comprometidas com a justiça climática, propondo um diálogo plural entre tradições religiosas e espirituais em defesa da Terra.

A mobilização, que acontecerá ao longo do ano em diversas regiões do Brasil, tem como objetivo articular ações religiosas frente à crise climática. O percurso culminará em uma grande vigília multirreligiosa durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 30), que será realizada em 2025 em Belém, no Pará, no espaço do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso COP 30.
Durante o evento em Porto Alegre, estão previstas falas de lideranças religiosas, intervenções artísticas, homenagem às vítimas humanas e animais da enchente que atingiu o estado em 2024, um cortejo pela Orla e uma meditação coletiva ao pôr do sol. A vigília também marca um ano das tragédias climáticas que impactaram fortemente o Rio Grande do Sul.
A ação é organizada em parceria com o Fórum Inter-religioso e Ecumênico do Rio Grande do Sul (FIRE), a Fundação Luterana de Diaconia, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), o Zen Budismo do Vale dos Sinos, o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), a Visão Mundial, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, o Conselho Estadual do Povo de Terreiro do RS, o Youth Action Hub, o Global Shapers POA, o Comitê de Povos e Comunidades Tradicionais dos Pampas, entre outras entidades.
A iniciativa remonta à experiência de 1992, quando o ISER organizou a vigília inter-religiosa “Um Novo Dia para a Terra” durante a ECO-92, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Na ocasião, cerca de 30 mil pessoas e 300 lideranças de 25 tradições religiosas participaram do encontro, que deu origem ao Movimento Inter-Religioso (MIR-RJ) e ao documentário Uma Noite Pela Terra, dirigido por João Moreira Salles.
Para Clemir Fernandes, diretor adjunto do ISER, a presença das religiões no enfrentamento à crise climática é essencial. “Em 1992, a vigília foi um diferencial político e espiritual na luta ambiental. Mais de três décadas depois, as tradições religiosas podem oferecer um despertamento ético crucial para que os tomadores de decisão assumam metas ousadas e eficazes para interromper o avanço da crise climática”, afirma.
A primeira ação pública do movimento em 2024 ocorreu durante a Marcha de Abertura do Acampamento Terra Livre, em Brasília, no dia 8 de abril. Na ocasião, o ISER lançou oficialmente as Vigílias Pela Terra com a presença de lideranças como Mãe Dora de Oyá, Yalorisá do Ilê Axé T’ojú Labá, a pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC, e o padre Marcus Barbosa, assessor da CNBB e participante da vigília histórica de 1992.
“Esse ato inter-religioso não está desconectado de uma longa caminhada de compromisso com os povos indígenas e com a defesa do meio ambiente. Estive presente na ECO 92 e é emocionante ver o ISER manter essa chama acesa”, declarou o padre Barbosa.
Para Isabel Pereira, coordenadora de Meio Ambiente e Religião do ISER, a COP 30 representa uma oportunidade estratégica para ampliar a mobilização popular frente à emergência climática. “Apesar das limitações das negociações formais, é fundamental fazer com que o tema chegue à população e que esta se reconheça como agente de transformação, especialmente em seus territórios e agendas locais”, destaca.
A COP 30 será realizada pela primeira vez no Brasil, em Belém, no coração da Amazônia, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025. O encontro reunirá líderes mundiais, representantes da sociedade civil, cientistas e organizações não governamentais para discutir estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, bem como políticas públicas de justiça ambiental.
Ao iniciar o movimento pelo Sul do país, a vigília em Porto Alegre também se propõe como um memorial às vítimas das tragédias climáticas de 2024 no Rio Grande do Sul. A proposta busca unir os biomas Pampa e Amazônia em um mesmo chamado: preservar, resistir e transformar por meio da espiritualidade, da solidariedade e da ação coletiva.
