Gestão de riscos e desastres: o que o cidadão deve conhecer (I)

Enchente no Rio Grande do Sul em 2024
Enchente no Rio Grande do Sul em 2024. Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Nos últimos anos, o mundo tem sofrido com eventos climáticos extremos como grandes secas, inundações catastróficas, ondas de calor, enormes incêndios florestais, maior número de tornados e furacões.

Em 2024, diversos países enfrentaram grandes danos em consequência da crescente mudança climática, ou seja, os desastres têm ocupado a agenda global.

Considerando, principalmente, as mudanças climáticas e a ocupação desordenada do solo; a recorrência, amplitude e intensidade dos desastres têm aumentado, significativamente.

Chuvas intensas, como as que ocorreram no Rio Grande do Sul, em 2024, são eventos extremos com tendência de serem mais frequentes em todo o mundo e, que assustam pela dimensão, onde teve grande parte de suas cidades tomadas pelas águas de grandes enchentes, gerando mortes, destruição e desabrigados.

Diante desse contexto, cada vez mais desafiador, surge a necessidade de adaptação às mudanças climáticas e a aplicação de ferramentas de alerta e monitoramento são fundamentais para se evitar mortes e perdas materiais.

Riscos e desastres: ferramentas de alertas

A Interface de Divulgação de Alertas Públicos (IDAP) é uma plataforma do governo federal que conta com a emissão de alertas em vários modelos.

O envio por meio de SMS e WhatsApp, que depende de cadastro do cidadão em cada uma das ferramentas, pode ser pelo envio de uma mensagem de texto tipo SMS de um CEP de interesse para o número 40199, ou pelo WhatsApp, que permite o cadastramento de vários CEPs, bastando adicionar o número (61) 2034-4611 a sua lista de contatos, enviar um “Olá” pelo WhatsApp e interagir com o chatbot para cadastrar os CEPs de interesse.

A partir daí, o interessado começa a receber informações e alertas importantes sobre as regiões cadastradas.

O alcance dessas ferramentas é limitado, pois depende do cadastro e não chama a atenção dos cidadãos que, só verão a mensagem caso olhem para o celular e apenas quando o fizerem.

Em dezembro de 2024, o governo federal disponibilizou mais uma ferramenta de alerta pelo IDAP: o “Defesa Civil Alerta”.

Essa ferramenta permite o envio por meio da tecnologia cell broadcast service. Ao disparar um alerta por essa ferramenta, designa-se uma área geográfica a ser alertada e, ao enviar o alerta, o sistema seleciona as antenas de telefonia móvel que cobrem a área.

Alerta severo da Defesa Civil que chega no celular
Alerta severo da Defesa Civil que chega no celular. Foto: Leitor/Folha Vitória

Todos os celulares conectados a qualquer dessas antenas irão receber o alerta, independentemente de cadastro e não requer baixar qualquer aplicativo, por isso, é uma ferramenta potente de alerta. Essa ferramenta só pode ser usada para alertas severos e extremos.

Nos alertas severos, o celular vibra, acende a tela e emite um bipe alto. Uma notificação tipo pop up aparece na tela com a mensagem enviada e ela se sobrepõe a qualquer aplicativo que esteja em uso até que seja dispensada pelo usuário.

Nos alertas extremos, o celular não apenas emite um bipe, mas soa uma sirene por 10 segundos, chamando bastante atenção. A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC) do Corpo de Bombeiros Miliar já emitiu alertas severos pelo cell broadcast service em 4 ocasiões.

Segundo o Coordenador Estadual de Proteção e Defesa Civil, Cel BM Benício Ferrari Junior, os relatos dos municípios que receberam os alertas foram positivos.

Em uma ocasião, no começo de janeiro de 2025, moradores de Santa Teresa, ao receberem os alertas retiraram seus veículos de áreas atingidas pelas cheias e, assim, puderem preservar esses bens.

Em um evento de chuvas intensas no Sul do Estado, no mês de janeiro deste ano, que estava sendo monitorado pela CEPDEC e cuja previsão havia sido transmitida aos municípios, a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC) de Mimosos do Sul relatou à CEPDEC a cheia do Córrego Belo Monte, que desagua no Rio Muqui do Sul e chega à sede do município, que prontamente emitiu o aviso.

Diante do aviso pelo cell broadcast service e a ação da Defesa Civil municipal, os moradores foram retirados ou saíram da área afetada antes da onda de cheia e puderam regressar às casas após as águas baixarem.

Monitoramento meteorológico e hidrológico

Como essa ferramenta permite uma altíssima capacidade de alerta, faz necessário incrementar a capacidade de previsão e monitoramento meteorológico e hidrológico, pois é a partir da previsão e do monitoramento que os alertas são emitidos.

Nesse sentido, o governo do Estado, tem buscado o aprimoramento desse serviço, por meio da CEPDEC.

O Estado conta hoje com meteorologistas trabalhando em regime de plantão 24h para previsão e monitoramento.

Caso haja previsão de tempo severo com grande probabilidade ou de grande impacto, o plantão é reforçado com mais profissionais de meteorologia e de defesa civil, a fim de acompanhar a evolução das condições meteorológicas e estabelecer efetiva comunicação com os municípios. A contratação de geólogos e hidrólogos está em andamento para reforçar o time.

Além disso, o governo do Estado, por meio da CEPDEC, contratou o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), uma empresa pública do governo do Paraná, para apoiar os estudos para expandir a malha de estações meteorológicas e hidro meteorológicas bem como auxiliar nos estudos para dimensionamento, localização e aquisição de uma malha de radares meteorológicos próprios do Estado, que fornecerão aos meteorologistas as melhores ferramentas para o monitoramento das condições do tempo.

Melhorias previstas: o que vem por aí

Considerando a necessidade de aprimoramentos e avanços na gestão de riscos e desastres, o governo encomendou um projeto com diversas entregas, ao Corpo de Bombeiros Militar, que está sendo conduzido pelo Cel BM Ferrari, coordenador da CEPDEC, são eles:

  • Aquisição de radares meteorológicos.
  • Ampliação da malha de estações meteorológicas de superfície (estações completas e pluviômetros).
  • Ampliação da malha de estações hidrológicas.
  • Desenvolvimento de modelos matemáticos de previsão meteorológica de alta definição com emprego de inteligência artificial.
  • Aquisição de sistemas de informação para integração das informações georreferenciadas de setores de risco, acumulados de chuva e previsão meteorológica.
  • Aquisição de grandes servidores com capacidade de processamento para rodar os modelos matemáticos em tempo hábil para previsão de curtíssimo prazo (até 2h adiante).
  • Aquisição de banco de dados para armazenar os dados colhidos e gerados para arquivo, estudos e pesquisas.

Participação dos cidadãos

Todas essas ferramentas e projetos são um esforço do governo federal e governo estadual para o enfrentamento melhor dos desastres. Dado que não há como se evitar o desastre, o tema principal é a adaptação às mudanças climáticas.

Nesse sentido, o governo do Espírito Santo lançou o programa ao enfrentamento às mudanças climáticas, que contempla dois eixos: o eixo da descarbonização, que tem como alvo principal o aumento da cobertura vegetal e outro eixo voltado à adaptação climática.

Portanto, a participação da sociedade no atendimento a essas premissas é fundamental. Os cidadãos devem entender que esse fenômeno impacta toda a sociedade.

Não importa qual o nível social, ideologia, crença ou compreensão de mundo, pois o desastre atinge todos. Todos precisam abrir o olho para o tema desastre e estarem preparados.

O setor público, com a implementação de ferramentas de gestão de risco e desastres, e os moradores, que devem obedecer aos alertas e alarmes e estarem conectados com as informações importantes, como a localização de abrigos, áreas de risco de deslizamento, áreas de risco de inundação, previsão do tempo, dentre outros.

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