Empreendedorismo e turismo de experiência colocam Vitória em destaque nacional na canoa havaiana


Esporte cresceu na capital do Espírito Santo nos últimos anos e fez com que vários empreendedores criassem empresas voltadas para a prática, ganhando destaque nacional. Vitória é destaque nacional da prática de canoa havaiana
A prática de canoa havaiana ganhou espaço nas águas de Vitória a partir de 2021 e fez com que a prática ganhasse adeptos até se tornar, atualmente, o segundo lugar entre as cidades do país com maior número de praticantes do esporte, segundo a Federação de Va’a do Espírito Santo (FEVAAES).
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Remar nas águas tranquilas da Baía de Vitória abriu espaço para um mercado de pequenos empreendedores, que enxergaram na atividade esportiva uma oportunidade de negócio. Mesmo que incipiente na época, e tratado como novidade, eles perceberam o potencial das canoas e conseguiram transformar e popularizar a prática.
Foi diante disso também que muitas pessoas que não sabiam nadar tiveram o primeiro contato com a canoa em um passeio voltado para o turismo de experiência. Hoje, se tornaram adeptos e praticam o esporte quase que diariamente.
Pensando justamente em aperfeiçoar o pioneirismo do turismo de experiência no Espírito Santo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) criou um Centro de Referência Nacional. A sede no estado foi a primeira em desenvolver metodologia e técnicas voltadas exclusivamente para esse nicho.
Nascer do sol na Baía de Vitória, Espírito Santo, a partir do turismo de experiência com canoa havaiana
Reprodução/Redes sociais
De aluno para professor
Felipe Trancoso, de 46 anos, é um dos empreendedores que resolveu transformar a paixão pela canoa em negócios.
O capixaba começou a treinar em 2013 e, em 2022, passou a dar aulas individuais em uma canoa para duas pessoas. A princípio, as saídas eram voltadas para passeios para conhecer melhor a região. Logo, o percurso se tornou o carro-chefe da Alma Viva Vaa, a empresa criada por Felipe.
“Eu visualizei um mercado que não era explorado em Vitória, que é o mercado de passeios turísticos. No início, eu fazia passeios agendados com famílias, grupos, e hoje minha maior fonte de renda é a canoa. Continuo com o foco nos passeios turísticos, mas também tenho o esporte agora, com turmas fixas”, comentou.
Os passeios oferecidos pelo professor são variados. Vão desde acompanhar o nascer e o pôr-do-sol na Praia da Guarderia, passar pela Praia de Camburi, atravessar o mar para Vila Velha e até mesmo uma travessia por toda a Ilha de Vitória, com 32 quilômetros navegados.
Empreendedor capixaba Felipe trancoso, de 46 anos, uniu amor pela canoa havaiana para empreender no Espírito Santo
Reprodução/Redes sociais
Para não ficar parado no tempo e sempre oferecer novidade aos praticantes, Trancoso também percebeu que algumas datas comemorativas se encaixavam com a vibe de curtir uma experiência diferente ao ar livre, e em cima de uma canoa.
“Fazemos remadas temáticas de Dia da Mulher, Dia das Mães e aniversário. Uma marca registrada da empresa, por exemplo, é o passeio no ano novo para ver os fogos do mar, em um local protegido próximo à Ilha do Frade. Fazemos esse passeio há dois anos e é uma experiência fantástica. Já recebi pessoas de outros estados, e até mesmo de outros países”, contou.
Sair do comum conta muito para se sobressair no mercado. É preciso apoio e entender o negócio. Com o aumento da procura, o professor buscou o Sebrae para se especializar no turismo de experiência.
“Fomos a única empresa de canoa do estado aprovada para poder participar dessa consultoria, que foi extremamente positiva. Ali eu pude aprender com vários cursos e visitas técnicas a como gerir melhor a minha empresa”, destacou.
Para o professor, começar a empreender representou uma mudança importante que mexeu também com a própria qualidade de vida do capixaba.
“Não imaginava que um dia iria empreender com o que eu amo. Mas era um pensamento que eu trazia quando ainda era aluno, de que um dia eu ia trabalhar com qualidade de vida na praia. Isso tudo sem pensar que iria ter minha própria empresa de canoa. Quando olho para aquele momento, vejo que realizei um desejo. A canoa muda a vida de quem a conhece e vive, e mudou a minha também. Além disso, trabalhar com algo que eu gosto, e participar da mudança de vida de quem conhece a canoa, é uma realização”, comentou.
Desafios que viraram paixões
A enfermeira Mayara Ribeiro não sabia nadar, fez o passeio de canoa havaiana em Vitória, Espírito Santo, e hoje virou praticante do esporte
Reprodução/Redes sociais
Foi a partir dos passeios oferecidos pelo Felipe que Mayara Ribeiro se encantou pela canoa, mesmo sem saber nadar.
Uma experiência que mudou para sempre a vida da enfermeira de 34 anos, que deixou o medo do mar aberto de lado e, hoje, pratica o esporte frequentemente.
“A minha experiência com a canoa começou em abril de 2022 e, desde então, tem sido única e transformadora. Antes, eu não me sentia confortável para arriscar um mergulho. Sentia um misto de receio do mar e dos animais marinhos. Com o tempo, o medo deu lugar à curiosidade e ao desejo de viver intensamente a experiência de um mergulho em alto-mar, especialmente durante o nascer do sol” , apontou.
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A primeira ida em um passeio pela Baía de Vitória transformou a vida da jovem. Foi importante para colocar a canoa havaiana como parte da vida da enfermeira.
“É muito mais do que um esporte ou uma atividade aquática. Representa trabalho em equipe, respeito pelo ritmo do outro, união como uma verdadeira família e uma profunda conexão com o mar. Cada remada exige sintonia e ninguém rema sozinho, o movimento de um afeta diretamente no desempenho da canoa. É necessário respeitar o tempo de cada um, compreender as diferenças e remar com o coração em harmonia com os demais. Aprendemos que a força verdadeira vem do coletivo, da colaboração e da entrega. O mar, por sua vez, ensina humildade, presença e respeito pela natureza. Hoje nem que seja um dia da semana eu faço questão de praticar”, afirmou.
A enfermeira Mayara Ribeiro de 34 anos conheceu a canoa havaiana participando do turismo de experiência oferecido em Vitória, Espírito Santo
Reprodução/Redes sociais
O esporte serviu de porta de entrada até para que a enfermeira praticasse outra atividade, a natação em águas abertas.
“Depois de superar esse medo, comecei a praticar o esporte e, hoje, os mergulhos tornaram-se momentos muito aguardados durante as atividades com a canoa. Iniciar o dia assim é algo profundamente revigorante. A base transmite uma energia única — seja nos passeios de fim de semana ou nas aulas durante a semana”, pontuou.
E é exatamente com experiências assim que o professor vai cativando a turma de alunos, mostrando as belezas de Vitória, transformando os remos em sinônimo de saúde e bem-estar e empreendendo com aquilo que gosta de fazer.
“As pessoas voltam, indicam, trazem outras pessoas, mudam a relação delas com a água. Além da prática da atividade física, esse contato é ótimo para a mente. Recebemos pessoas com ansiedade e que, quando têm esse contato com o mar, conseguem perceber a diferença positiva que ele faz”, acrescentou.
Ilha do mel é referência no esporte
Campeonato de canoa havaiana na Baía de Vitória, Espírito Santo
Federação Estadual de Canoagem Va’a do Espírito Santo (FEVAAES)
De acordo com o presidente da Federação de Va’a do Espírito Santo, Ulisses Calenti, a capital do Espírito Santo vive uma expansão dos esportes náuticos, especialmente da canoa.
“A canoa é um esporte muito democrático, a modalidade abraça idosos que nunca praticaram, pessoas com deficiência ou restrição de mobilidade. Também é fácil se tornar atleta, o que acaba incentivando. Começa a remar e depois de seis meses já participa de competições”, explicou.
Toda essa diversidade se reflete em números registrados pela federação:
🛶 São 250 canoas coletivas com mais de dois lugares;
🚣🏻‍♀️ As canoas havaianas podem chegar a 12 lugares;
👩🏻‍🤝‍👨🏽 Se levarmos em consideração que todas as 250 canoas fossem de 12 lugares seriam no mínimo três mil praticantes.
“Proporcionalmente, Vitória é a cidade onde mais temos praticantes de canoa havaiana, mas no geral fica em segundo por ser menor do que Niterói, uma cidade com menos habitantes do que lá. Aqui, temos uma concentração muito grande de canoas para o tamanho do nosso território”, disse.
Outro fator que também atraiu o público de Vitorinha para virar amante do esporte é o fato de a cidade ter recebido vários campeonatos brasileiros e até mesmo um pan americano.
Além disso, a campeã sul-americana de canoa, atualmente, é a capixaba Thassia Marques.
Turismo de experiência
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Mais do que um esporte, a canoa havaiana mostrou que remar também pode servir de porta de entrada para atrair turistas que buscam vivenciar momentos únicos que só um destino ou uma atividade específicos podem proporcionar.
Um amanhecer cercado de ilhas, com tartarugas, golfinhos e arraias nadando do lado enquanto um avião cruza os céus não é um cenário que pode ser contemplado em qualquer lugar.
Ter essa marca registrada e aproveitá-la para empreender é o que chamamos hoje de turismo de experiência. E segundo o Superintendente do Sebrae no Espírito Santo, Pedro Rigo, o estado está no foco desse novo mercado.
“Existe uma tendência apontada por várias pesquisas do Ministério do Turismo que um público visitante busca nos locais de destino atividades que fazem com que ele possa viver a experiência local. E nós aqui temos uma frente importante de praia. Os empreendedores perceberam essa beleza natural e investem na economia azul, voltada para o mar”, comentou.
Turismo de experiência com passeios de canoa havaiana proporciona visuais como o nascer do sol na Baía de Vitória, Espírito Santo
Reprodução/Redes sociais
Rigo destacou ainda que esse tipo de produto veio a tona em 2022/2023 como uma formatação de um produto turístico, mas de forma mais elaborada. A partir dessa visão, surgiu-se a necessidade de preparar os empreendedores locais para aproveitarem o novo nicho.
“O empreendedor convida o visitante a entender a identidade local e fazer um processo de transformação. Então, com o turismo de experiência, o cliente tem esse encantamento com a canoa havaiana, por exemplo, que mexe com a memória dele. Hoje, nosso estado é referência nisso e foca para além do passeio. E para lidarmos com esse novo produto, criamos um Centro de Referência Nacional”, contou.
Com isso, o estado virou a sede nacional do turismo de experiência, onde são desenvolvidas metodologias e técnicas que são repassadas posteriormente para todos os outros estados.
“Não existe turismo de experiência que não proporciona também o bem-estar para o visitante. Então, ele também está conectado a saúde, gastronomia, prática esportiva. E isso também é a essência do que a canoa havaiana traz”, finalizou.
Prática de canoa havaiana na baía de Vitória, Espírito Santo, no nascer do sol
Reprodução/Redes sociais
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