Lula ignora números e afirma que agro é o ‘principal negócio do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (6) que o “agronegócio virou o principal negócio do Brasil”, apesar de a agropecuária ser responsável por cerca de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A frase foi dita numa cerimônia na França que marcou a certificação do Brasil como país livre de febre aftosa mesmo sem vacinação.

“A certificação é o reconhecimento do esforço de um país que tem na pecuária, no agronegócio, uma das suas mais importantes vertentes econômicas. Já não é quebra-galho trabalhar com o agronegócio no Brasil. Virou o principal negócio”, disse.

A afirmação de Lula veio dias depois da divulgação do resultado do crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano. No período, o indicador cresceu 1,4%, puxado pelo agro, que cresceu 12,2%. Indústria e serviços mantiveram-se com produção praticamente estáveis, com variação de -0.1% e 0,3%, respectivamente.

Esse percentual de crescimento, entretanto, não trata da importância de cada setor para a economia como um todo. O PIB brasileiro no primeiro trimestre foi de R$ 3 trilhões. O agro contribuiu com R$ 234 bilhões deste total – cerca de 7,7%.

Em comparação, o setor de serviço foi responsável por R$ 1,8 trilhão – 60% do total. A indústria, por sua vez, contribuiu com R$ 590 bilhões – 19%.

Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ponderou que Lula não tratou especificamente da agropecuária, e sim do agronegócio. O termo, explicou ele, pode abarcar serviços e até parte da indústria que está vinculada à produção do campo.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP) indica que, considerando os agregados, o agronegócio brasileiro é responsável por 23,2% do PIB nacional. Ainda assim, é menor que a contribuição do setor de serviços para a economia.

“Embora o agronegócio inclua setores de processamento dos produtos agropecuários, transporte, pesquisas etc., ainda são, em geral, atividades que agregam menor valor que bens manufaturados de fato”, confirmou Weiss.

O professor ressaltou que o setor tem mais pujança e é mais competitivo que outras áreas da economia nacional. José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), disse que isso acontece porque o agronegócio hoje é mais politicamente relevante do que outros setores.

“Hoje em dia, o agronegócio tem peso político. Tem uma bancada política no Congresso Nacional, coisa que a indústria não tem”, explicou ele.

Esse peso político garantiu ao agro crédito subsidiado por meio do Plano Safra, por exemplo. À indústria, incentivos como esse sempre esbarram em pressões pelo corte de gastos, por exemplo. “Toda vez que a indústria solicita algum tipo de política industrial, vem um monte de economistas no mercado financeiro dizendo que é protecionismo, que a indústria não quer concorrência internacional”, critica Oreiro.

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