
A última semana foi marcada por dois eventos representativos para a logística capixaba: a inauguração de um centro automotivo da Sertrading, em Cariacica, com presença do chairman do banco BTG Pactual, André Esteves – além de uma visita do executivo em Aracruz, no Norte do estado. Confira a análise do diretor econômico da Futura, Orlando Caliman.
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Por Orlando Caliman*
Dois eventos ocorridos nesta semana me chamaram a atenção – ambos no mundo dos negócios. O primeiro deles representado pela inauguração do Centro Automotivo da Sertrading em Cariacica. E o segundo, que devemos vê-lo como conexo, diz respeito à visita do executivo do banco BTG Pactual, André Esteves, que em sobrevoo em Aracruz sinalizou interesse em ampliar investimentos no Espírito Santo.
Além dos fatos em si, da concretude do primeiro e da carga de perspectivas embutidas no segundo, esses dois eventos também são portadores de atributos simbólicos. Ou seja, eles passam a integrar o que poderíamos denominar de capital simbólico e ao mesmo tempo de imagem. Um ativo a adicionar atratividade à economia capixaba e a servir como ferramenta em ações de diplomacia econômica ativa.
No caso da Sertrading vejo dois aspectos a realçar: o mais interessante, nenhum deles pelo valor do investimento. Primeiramente, vemos ali uma aposta firme no processo de consolidação do Espírito Santo como hub logístico em geral, e especificamente no segmento automotivo. Mas, mais que isso, temos aí mais um “tijolinho” a adicionar no potencial de atração para a indústria automotiva, que inclusive poderá se beneficiar, no futuro, com a implantação da linha de laminados a frio da ArcelorMittal.
Mas, há um outro simbolismo carregado pela Sertrading, que reputo ainda mais relevante, que envolve uma aposta que a empresa faz no Espírito Santo diante do que poderá acontecer no setor de logística na vigência da reforma tributária. É o simbolismo do acreditar. Contrapondo-se a certas interpretações e avaliações do próprio mercado de logística.
Especialistas e lideranças do setor de logística tem apontado, em avaliações recentes, que a reforma tributária provocará reposicionamentos nas bases atuais de ativos logísticos por conta do término dos incentivos do ICMS e da mudança da incidência do referido tributo da origem para o destino. Estados mais produtores que consumidores, portanto, com saldos positivos nas suas balanças comerciais interestaduais, caso do Espírito Santo, e que também contam com incentivos fiscais com base no ICMS, tenderiam a registrar perdas tributárias, mas também êxodo de empresas que operam com logística.
No segundo caso, visita a Aracruz, o simbolismo é estendido, pois se trata do mesmo agente: Sertrading/BTG. Ao investir no projeto do Centro Automotivo dá concretude no acreditar no Espírito Santo enquanto hub logístico. Já no sobrevoar Aracruz, a impressão que o executivo do BTG deixa é de ter alcançado uma visão da “floresta” e para além dela, numa perspectiva de cenário de janelas de oportunidades.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência