Desamparo marca sete anos dos assassinatos de dois jovens por policiais na Baixada Fluminense: ‘dor do luto que não passa’

No dia 17 de junho de 2018, os amigos Victor Hugo de Jesus Pires, de 17 anos, e Vitor Oliveira de Souza, de 18 anos, foram assassinados por policiais militares na Vila São João, comunidade localizada em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O caso até hoje não teve um desfecho. Dois policiais foram denunciados, sendo que um deles morreu no curso do processo. Em audiência há um ano, o juiz decidiu pelo júri popular ainda sem data.

Após sete anos, as mães dos jovens e suas famílias continuam sendo vítimas do abandono do Estado. Ao Brasil de Fato, elas relataram inúmeras consequências, físicas, emocionais, financeiras, além de outras tragédias que acometeram suas famílias em decorrência da perda violenta dos seus filhos.

Elisabete Farias de Oliveira, mãe de Vitor Souza, viu o marido adoecer após a morte do filho. Ele desenvolveu pressão alta, diabete, problemas cardíacos, até que em 2021 faleceu vítima de um infarto. A irmã do jovem também sofreu graves consequências e perdeu a visão por um agravamento da diabete.

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“Educamos nossos filhos para contribuir positivamente com a sociedade e o Estado não fez seu papel que era de servir e proteger. O Estado é falho. O Estado é o maior violador dos direitos humanos. A minha família foi destruída e enterrada com o meu filho. O Estado não fez nada para me ajudar, para tentar conseguir manter a minha família. Eu preciso todos os dias lidar com as dificuldades e com os desafios da vida cotidiana, porque até agora eu não tenho com quem contar”, disse Elisabete à reportagem. 

A situação não é diferente para a família de Ilsimar de Jesus, mãe do estudante Victor Hugo. Ao Brasil de Fato, ela afirmou que os problemas de saúde também se multiplicam na sua casa: “cada dia que passa a gente se sente mais prejudicado dentro dessa dor, dentro da ausência, uma dor do luto que não passa, não tem prazo de validade, e a gente continua aqui como se fosse o primeiro dia da perda do nosso filho”.

Desamparo

Depois de tantos anos, a expectativa por reparação do Estado deixa as famílias acometidas pelo desespero e, ao mesmo tempo, cada vez menos esperançosas. 

“Até hoje eu lembro do dia da perda do meu filho como se tivesse acontecendo hoje. E infelizmente o Estado não nos ajuda em nada, não se compromete com nada. Esse Estado genocida mata e a gente vê o judiciário enterrando as nossas histórias, as nossas vidas, a nossa vivência. Infelizmente, além de ter enterrado nossos filhos, a história deles, a vida deles, nós continuamos até hoje sem nenhuma resposta. Pelo menos para dar um alívio para o nosso coração, porque não vai trazer eles de volta”, desabafa a mãe. 

Para Ilsimar de Jesus, as perdas são irreparáveis, o vazio da casa sem a presença alegre do jovem, a ausência, o sonho perdido de ver o filho constituir família. “Eu como mãe estou aqui cada dia que passa morrendo dentro dessa saudade, dentro da falta, vendo o meu marido também definhando na falta, a gente passar noites e noites acordado, na saudade do filho da gente, vendo nossos outros dois filhos também sofrendo com a saudade, com as lembranças”, disse. 

“É com muita dor que a gente lembra que são 7 anos sem nosso filhos. 7 anos sem resposta nenhuma. 7 anos abandonados por um Estado que matou nossos filhos e que está nos matando pouco a pouco. É difícil falar que se faz 7 anos, quando a gente queria não estar lembrando que aconteceu esse assassinato, que nossos filhos foram tirados de nós”, completa Ilsimar de Jesus. 

As duas mães de São João de Meriti se uniram à luta tantas outras que fazem parte da Rede de Mães da Baixada Fluminense e da Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo de Estado. Elisabete e Ilsimar também participam da Rede de Proteção Integral a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos da Baixada Fluminense (RPIDDH-BF), criada para proteger militantes ameaçados em razão de sua atuação na defesa dos direitos humanos.

Respostas

O Brasil de Fato pediu um posicionamento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) sobre a situação do agente envolvido no caso, e do Ministério Público (MP) sobre o andamento do processo. O texto será atualizado se houver retorno. 

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