Os riscos do diagnóstico tardio da síndrome da apneia do sono

Apneia do sono
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Recentemente a imprensa noticiou um depoimento do cantor Leo Jaime sobre os prejuízos causados pela Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) e os benefícios do seu tratamento.

Trata-se de um distúrbio respiratório comum e muitas vezes subestimado, caracterizado pela obstrução parcial ou total das vias aéreas superiores durante o sono. Ocorrem pausas repetidas na respiração, chamadas de apneias, que resultam em uma diminuição na oxigenação sanguínea e despertares breves e frequentes, mesmo que o indivíduo não os perceba conscientemente.

Embora seus sintomas sejam muitas vezes atribuídos a outras causas, o diagnóstico tardio da apneia do sono representa sérios riscos à saúde física, mental e à qualidade de vida, podendo levar a complicações graves e até fatais.

Quem pode ter apneia do sono

A SAOS atinge uma ampla faixa da população, especialmente homens acima dos 40 anos, pessoas com sobrepeso, obesidade, alterações anatômicas no nariz e garganta, como aumento das amígdalas ou desvio de septo e indivíduos com histórico familiar.

No entanto, a condição pode afetar pessoas de todas as idades, incluindo crianças e adultos jovens.

O que acontece durante os episódios de apneia

Durante os episódios de apneia, a musculatura da garganta relaxa excessivamente, levando ao colapso das vias respiratórias. Isso impede a passagem do ar, mesmo com o esforço respiratório mantido.

O corpo, então, percebe a falta de oxigênio e “acorda” momentaneamente para retomar a respiração. Esse ciclo pode ocorrer de dezenas a centenas de vezes por noite, prejudicando seriamente a qualidade do sono e impactando profundamente na vida do indivíduo.

Sintomas da apneia

Muitos pacientes não percebem os sintomas clássicos da apneia, como roncos intensos, pausas respiratórias noturnas, engasgos durante o sono ou sonolência excessiva durante o dia. Como esses sinais se manifestam enquanto a pessoa está dormindo, é comum que somente parceiros ou familiares notem o problema.

Além disso, os sintomas diurnos, como cansaço, falta de concentração, irritabilidade e dores de cabeça matinais, são frequentemente confundidos com estresse, insônia, depressão ou ansiedade. A ausência de informação e a banalização do ronco como algo “normal” também contribuem para que muitos pacientes não busquem ajuda médica, adiando o diagnóstico por anos.

Riscos do diagnóstico tardio

O diagnóstico tardio da apneia obstrutiva do sono traz riscos sérios e cumulativos, impactando diferentes sistemas do organismo. Podem ocorrer, por exemplo:

  • Problemas cardiovasculares: com aumento significativo do risco de hipertensão arterial, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Durante os episódios de apneia, o nível de oxigênio no sangue diminui, o que estimula o sistema nervoso simpático a liberar adrenalina, elevando a pressão arterial e a frequência cardíaca. Esse ciclo repetitivo pode danificar os vasos sanguíneos e sobrecarrega o coração.
  • Diabetes tipo 2 e síndrome metabólica: com maior resistência à insulina e aumento do risco de desenvolver diabetes tipo 2. Além disso, há relação com a síndrome metabólica, que inclui hipertensão, obesidade abdominal, altos níveis de triglicerídeos e colesterol alterado — fatores de risco para doenças cardiovasculares.
  • Comprometimento cognitivo e desempenho ruim: com piora da consolidação da memória, o raciocínio lógico, a atenção e a concentração. Isso compromete o desempenho acadêmico, profissional e relacionamento interpessoal, além de aumentar o risco de acidentes de trânsito e de trabalho por sonolência diurna excessiva.
  • Transtornos de humor: pode acarretar depressão, ansiedade e alterações de humor. A falta de sono reparador afeta o equilíbrio neuroquímico do cérebro, dificultando a regulação emocional e a capacidade de lidar com o estresse.
  • Disfunção sexual: com diminuição da libido e até disfunção erétil, especialmente em homens. A má oxigenação noturna e o cansaço crônico afetam os níveis hormonais, incluindo a testosterona, e reduzem a energia e o interesse por atividades sexuais.
  • Impacto na vida social e familiar: pela irritabilidade e falta de energia que interferem nos relacionamentos interpessoais. O ronco alto pode afetar a qualidade do sono do parceiro, gerando desgaste conjugal. Além disso, a fadiga compromete a disposição para atividades sociais e familiares, contribuindo para o isolamento e a baixa autoestima.

Dada a gravidade das complicações, é essencial reconhecer os sinais de alerta da SAOS e procurar avaliação médica o quanto antes. O diagnóstico normalmente é feito por com auxílio de uma polissonografia, exame que monitora diversas funções corporais durante o sono, como respiração, batimentos cardíacos, movimentos e níveis de oxigênio.

Qual o tratamento para apneia

O tratamento varia conforme a gravidade da condição. Em casos leves, mudanças no estilo de vida (como perder peso, evitar álcool e dormir de lado) podem ser eficazes.

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Em casos moderados a graves, o tratamento mais comum é o uso do CPAP, um aparelho que mantém as vias respiratórias abertas durante o sono. Outros recursos incluem aparelhos intraorais e cirurgias específicas, quando indicadas.

O diagnóstico precoce da síndrome da apneia obstrutiva do sono é fundamental para prevenir complicações graves, preservar a saúde e melhorar significativamente a qualidade de vida. Ignorar ou minimizar os sintomas pode levar a consequências severas e cumulativas, afetando o coração, o cérebro, o metabolismo e a vida emocional do paciente.

Diante dos sinais de alteração do sono é imprescindível buscar ajuda médica. O tratamento adequado da apneia do sono não só reduz os riscos à saúde, como também proporciona noites de sono mais tranquilas, dias mais produtivos e um futuro com mais bem-estar.

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