A maioria dos deputados federais acredita que Jair Bolsonaro (PL) deveria abrir mão da campanha à Presidência em 2026, segundo pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (2). Apesar de o ex-presidente ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o dado lança luz sobre sua força política entre os parlamentares.
Na avaliação de Luciana Santana, professora de Ciência Política e diretora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), a pesquisa revela o sentimento predominante no parlamento, que já demonstra sinais de cansaço, rejeita a candidatura e reconhece que a inelegibilidade de Bolsonaro é, neste momento, um processo irreversível.
“Há uma condenação já estabelecida, um processo de julgamento em andamento e, muito provavelmente, uma nova decisão está se aproximando”, disse a docente em entrevista ao Conexão BdF. “Se agarrar a Jair Bolsonaro é você trazer para si problemas que até então você não tem.”
Santana afirma que o dado reforça a fragilidade demonstrada nas ruas no ato bolsonarista do último domingo (29) que contabilizou um público quase quatro vezes menor do que o registrado na última manifestação, também na avenida Paulista, na região central de São Paulo, em 6 de abril.
Cerca de 12,4 mil pessoas foram manifestar apoio ao ex-presidente neste fim de semana, com uma margem de erro de 1,5 mil para mais ou para menos, de acordo com o Monitor do Debate Político do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e a ONG More in Common. Há dois meses, o ato bolsonarista mobilizou 44,9 mil pessoas, o que coloca o público deste domingo em um patamar 72,3% menor.
“A gente já tinha as ruas demonstrando essa fragilização que o ex-presidente tem tido em termos de adesão e de apoio popular nas ruas. Isso vem decaindo a cada manifestação que é convocada. Esses dois sinais precisam realmente ser entendidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que até então não parece ter entendido”, afirma Santana.
Alternativa a Bolsonaro
De acordo com o estudo, 51% acham que o ex-presidente não deve se candidatar, 23% pensam o contrário e 26% não responderam ou não souberam responder. A margem de erro é de 4,5 pontos para mais ou menos. A falta de apoio é maior entre aqueles que se declaram independentes (65%), ou seja, aqueles que não integram qualquer grupo parlamentar. Na sequência, estão os parlamentares governistas (55%) e os da oposição (47%).
Paralelamente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é classificado como o candidato da oposição pela maioria dos deputados: 49% ante 39% registrados pela Quaest em maio do ano passado, o que demonstra um crescimento eleitoral do ex-ministro de Bolsonaro. Por outro lado, os membros da família do ex-presidente são considerados os principais candidatos da oposição por poucos deputados: Michelle aparece com 6%, Eduardo, que está nos Estados Unidos, com 5%, e Flávio, com somente 1%.
Luciana Santana avalia que “está cada vez mais claro que realmente o Tarcísio deve ser esse candidato. No próprio ato do último domingo, o bolsonarista que estava lá ao lado fazendo discurso junto ao lado do ex-presidente era o governador”. Para a professora, “é o nome mais forte ligado a Jair Bolsonaro, que teria chances de ganhar uma eleição hoje”.
Na mesma linha, a cientista política Mayra Goulart, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca a proximidade da posição dos chamados independentes em relação à oposição na falta de apoio a Bolsonaro, 65% e 55%, respectivamente. “Talvez isso explique essa adesão em massa ao Tarcísio, que parece ser um candidato de oposição, mas não tão bolsonarista, ou que possa atrair mais essa parcela dos independentes”, diz.
A pesquisa também trouxe a percepção dos deputados sobre se Lula será candidato à reeleição em 2026: 68% acreditam que sim, ante 73% que tinham a mesma opinião em maio de 2024; 20% não apostam numa candidatura à reeleição (antes eram 20%); e 11% não responderam ou não souberam responder (quatro pontos a mais do que o registrado anteriormente).
Avaliação do governo Lula
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve a pior avaliação desde o início do mandato entre os deputados federais, segundo pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (2): 46% avaliam a gestão negativamente. No estudo publicado em maio deste ano, eram 42%. Em agosto de 2023, 33%, o que representa um aumento de 13 pontos percentuais.
Entre os parlamentares que avaliam o governo de forma positiva, estão 27%, ante 32% de maio e 35% de agosto do primeiro ano da gestão (uma diminuição de oito pontos). Hoje, para 24%, o desempenho do governo é regular, enquanto 3% não souberam ou não responderam. A margem de erro é de 4,5 pontos para mais ou menos.
No total, foram entrevistados 203 deputados, o equivalente a 40% da composição da Câmara, entre os dias 7 de maio e 30 de junho de 2025. A amostra da pesquisa, encomendada pelo banco Genial Investimentos, foi selecionada seguindo os critérios de região geográfica e orientação ideológica dos partidos.
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